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Dicionário de Conceitos da Rede Saúva Jataí

Acesse nossa enciclopédia que vem sendo escrita coletivamente pelos próprios membros da rede

AGROECOLOGIA // Ana Terra

Agroecologia é mais do que um conceito, é uma prática. E é uma práxis que alia prática e conhecimento, protagonizada por camponeses, por pessoas que historicamente desenvolvem habilidades de fazer agricultura com as condições que estão dadas em determinado ambiente. Agroecologia é um conceito polissêmico: pode ser entendida como práxis, mas também como ciência, como movimento social, e fundamentalmente como uma saída para a humanidade desse momento que vivemos, com muita fome e destruição ambiental. Então, conceituar a agroecologia é conceituar uma forma de fazer o que a gente entende por agri-cultura: a cultura de camponeses em diversas partes do mundo, de biomas diversos, que criam agroecossistemas, uma produção de alimentos que dialoga com o sentido da vida e da preservação ambiental. Uma das condições para se fazer agroecologia é o acesso à terra. Agroecologia de verdade implica o acesso aos meios de produção. Outra condição é o acesso à tecnologia. Normalmente, as tecnologias feitas para produção agrícola são todas feitas para o agronegócio, mas há também o resgate de práticas milenares de indígenas e de povos originários e camponeses, que vão desde o melhoramento genético, a adaptação de sementes, a utilização de insumos biológicos, de insumos da própria localidade. E a prática, o conhecimento, o acesso aos meios de produção e à tecnologia, tudo isso a gente faz a partir de políticas públicas: não apenas a política do governo, mas o que a gente cria como sociedade, ligado ao consumo consciente dos alimentos. O engajamento da sociedade como um todo possibilita a prática agroecológica como alternativa.

ALIMENTO SAUDÁVEL // Gislene Santos

Alimento saudável é aquele alimento ou aquela prática alimentar que está diretamente ligada e associada ao ciclo natural do planeta terra e da água. É um alimento que não degrada o meio ambiente.  Valoriza o produtor que não usa agrotóxicos defensivos. Alimentação saudável e consciência alimentar é um ato político. Consumir um alimento saudável tem a ver com nos fazer refletir: de onde vem esse prato de comida? Qual o trajeto até chegar em mim? Qual foi o seu percurso? Quando se pensa em alimentos agroecológicos e orgânicos, estamos pensando no cuidado com a semente, com a terra, e com a saúde de quem tá plantando. E por isso ele chega nutricionalmente sadio até nós.

APOSENTADORIA // Leandro Almeida

Aposentar é conseguir ter uma geração de recursos suficientes que cubram os seus custos de vida sem precisar trabalhar pra isso. Também podemos chamar de renda passiva. Diferente da renda ativa (aquela que é gerada pelo salário, pelo pró-labore, por remunerações por serviços prestados), a aposentadoria é uma quantidade de recursos guardados e investidos que geram uma renda passiva que seja o suficiente para cobrir seus custos de vida. A partir deste momento, você está aposentado, isto é, você não precisa mais ter uma renda ativa (pode até ter se quiser), mas não precisa. Há uma máxima que os estudiosos antigamente falavam: economicamente falando, as pessoas trabalham para não precisar trabalhar. As pessoas trabalham para gerar rendas ativas, então, em um determinado momento, elas conseguem ter uma poupança, uma quantidade de dinheiro guardado, feita por elas mesmas ou pelo próprio governo (esta é a diferença da previdência pública e da privada), dessa forma, alcançando o momento que não precisa mais trabalhar. Pode continuar trabalhando, mas é trabalhar sem precisar. Há uma segunda máxima desses estudiosos que diz: é fantástico conseguir trabalhar naquilo que se gosta de fazer, mas é indescritível trabalhar naquilo que se gosta de fazer, sem precisar trabalhar.

COLETIVIDADE // Carolina Zarattini Novaes

A coletividade é a essência da sociedade humana e animal. O senso de coletividade está ligado diretamente ao pensamento do que é coletivo, ou seja, é pensar na comunidade como um todo. No entanto, apesar de vivermos em sociedade, essa característica não é tão visível e está em falta. Observando a coletividade de alguns seres, por exemplo, as formigas, é fantástica a força do coletivo: cada um fazendo a sua parte, trabalhando unidas, fazendo coisas que sozinhas jamais conseguiriam. Seguindo o mesmo pensamento, pessoas engajadas em um mesmo objetivo constroem estruturas muito mais consistentes. Pensar na coletividade é pensar nos indivíduos e no seu bem-estar, seja físico ou psicológico.

ECONOMIA CIRCULAR // Luiz Hadad

Economia circular é uma nova forma de enxergar o nosso modelo econômico, entendendo que não existe jogar nada fora. Tá tudo dentro do nosso planeta. É um tipo de economia que busca, desde o momento do desenho do produto, do serviço ou da experiência, levar em consideração todo o ciclo de vida e todo impacto causado pelo que a gente tá colocando no mercado. Quando levamos em consideração o todo, a gente consegue reduzir rejeitos, ou se possível nem gerá-los, reaproveitar o máximo possível, e reutilizar todos os materiais que foram trabalhados. E, se possível, deixar a natureza melhor do que encontramos, regenerando o local de atuação. É um modelo novo de paradigma econômico: em vez de pensar a economia como uma ciência que administra recursos escassos, assim como faz a definição acadêmica clássica, a gente passa a tratar a economia como uma forma de cuidar da nossa casa. Na economia circular, medimos riquezas de uma forma diferente: não pela escassez, pelo acúmulo, pelo medo da falta, pela competição, mas pelo fluxo da abundância. Como a natureza funciona, um fluxo constante de recursos.

EMPREENDEDORISMO ATIVISTA // Fabrício Da Costa

O empreendedor ativista ou empreendedorismo ativista é a tentativa de unir posturas quase opostas: visto de longe, o ativista possui a paixão e os princípios, enquanto o empreendedorismo tem um quê de lógica, de ciência, de razão, de como desenvolver uma coisa. No entanto, quando buscamos compreendê-las num só conceito, vemos que são ideias muito próximas. Ambos têm a intenção de transformar, uma inquietude, a vontade de fazer diferente, de arriscar. Salvo que o empreendedorismo faz o uso do capital, e o ativismo não considera o uso do capital em primeira instância. Quando se encontra essas duas potências, depara-se com uma oportunidade grande de poder tratar causas, de poder tratar propósitos além do capital, no entanto, com essa eficiência, intenção de crescimento, abundância saudável, expansão. Quando esses dois andam juntos, vemos o empreendedor ativista, pessoa que não abre mão dos princípios, não abre mão do seu ativismo e da solução que ela encontrou para sanar dores do mercado.

ESPIRAL // Dudude

Primeira imagem que me acompanha desde a pequena idade da infância – sementes de Dente de Leão. E assim entendo que o mundo espirala em cada coisa como água, sementes, ventos, danças, flores, fruto. Descasque uma laranja com faca bem afiada e sentirá parafuseante o desenho. Assim espiralada espiralante espiral, o segredo está na origem, no DNA de cada um de todos nós, inteligência cósmica, quântica. É preciso ter vontade e desejo para se deixar espiralar e fazer este mundo girar psicodelicadamente, espiralar infinitamente.

FOMENTO // Vanessa Damasco

No dicionário, temos no verbete fomento descrições como: ação ou efeito friccionar, fazer ficção, ato ou efeito de proteger, providenciar auxílio, apoio, incentivo a alguém para fazer alguma coisa, também um medicamento aplicado na pele sobre fricção, e ainda é descrita no sentido de alimentação do fogo, do aquecimento. Essas descrições de fomento se aplicam muito à cultura, pelo fato de que esta também é medicamento pra alma, o aquecimento do fogo também traz aquecimento às pessoas. Quando a gente fomenta a cultura, não estamos fomentando só a cultura, mas uma série de afluentes: o primeiro são as pessoas, porque a gente trata do desenvolvimento das pessoas, da inspiração, do deslumbramento, de trazer sensações que são importantes pra vida. Sempre que falamos em fomento, a primeira mensagem que vem é o resultado humano, o desenvolvimento humano.  Até chegar em um resultado, tudo tem um trajeto, desde a parte burocrática, a parte comercial, a vivência, a educação, a criação em si, tudo tem um tempo que precisa ser fomentado até se ter o resultado: chegar ao público como uma forma de respiração, uma cura também, como um medicamento que a gente traz.

INVESTIMENTO VERDE // Walter Cavalcante

Investimento Verde também pode ser chamado de investimento regenerativo. E, como todo tipo de investimento, é esperado algum retorno financeiro sobre ele. No caso do investimento verde, há um outro tipo de retorno esperado: o ambiental e o social. Na história dos investimentos, sempre foram dois olhares envolvidos: o risco e o retorno envolvidos numa determinada operação. Com o investimento verde, lançamos uma terceira lente: qual o retorno para o meio ambiente e para a sociedade? E como esse investimento pode contribuir para mudar o rumo da destruição do planeta?

MOEDA SOCIAL (MOEDA COMPLEMENTAR) // Mônica Calderón

Uma moeda social é uma ferramenta que possibilita a circulação de recursos em um determinado território. Quando falo de recurso, não é simplesmente material, mas também dons, talentos e afetos que fazem com que uma comunidade entrelace suas trocas. A moeda social possibilita a criação da riqueza de uma comunidade. É uma criação coletiva e não uma imposição de um organismo externo, nem de um ente político. É um desenvolvimento consciente de uma comunidade que deseja transformar o modo pelo qual transita seus recursos. Uma moeda social não tem força se não tem uma comunidade envolvida, se não há acordo coletivo. A moeda é fruto da potência criativa da comunidade, aquilo que dá razão de ser a um território. Em alguns lugares, elas são moedas complementares à moeda tradicional (coexistem juntas), mas há lugares em que as moedas sociais são autônomas, sendo a base única de troca. Uma moeda social não nasce da crise do sistema que vivemos. Ela não é depositária de uma dívida ou carência do sistema. Uma moeda social tem a característica especial e encantadora que é a potência da comunidade: uma moeda social nasce desse lugar, dela mesma, do que ela é, e não sucumbe frente à economia formal, porque é consciente do seu lugar e de sua potênca interna que a compõe. Ela é fundamentada na confiança, na solidariedade, nas relações fraternas, na paz, na prosperidade, na abundância, e no amor.

PEGADA ECOLÓGICA // Denise Amador

Que pegada a gente deixa no planeta Terra depois da nossa passada por aqui? Depois de um dia, depois de uma ação realizada, depois de um prato de comida, que pegada deixou aquilo? Esse termo é muito instigador, porque justamente apresenta uma metodologia de como nossas ações impactam sobre os recursos naturais do planeta. A água o solo, carbono, o que cada atividade nossa impacta esses recursos? Um prato de arroz: de onde veio, quanto litros de água precisou pra produzir aquele quilo de arroz? A pegada ecológica traz a reflexão de onde veio, que gerou e pra onde vai? Qual é o rastro? O plástico, o ouro. Por que tanto valor ao ouro que vem de garimpos ilegais e criminosos. Será que isso vale, mesmo? Não, não vale nada. Qual o seu meio de transporte semanal, qual foi o seu prato de comida, quanto de eletricidade você usa, quanto consome, compra muito ou compra pouco? Tudo isso vai estar no seu cálculo de pegada ecológica. Você nasceu, respirou, vai se alimentar, usou sua primeira fralda ecológica, você já está gerando pegada ecológica, pois cada ser humano existente no planeta gera uma pegada ecológica: o ponto é se esta é mais ou menos impactante. O conceito vem de um aspecto bem materialista, pensando nos recursos naturais. Mas podemos ir para além do material, pensando no socioambiental, uma pegada socioambiental: um educador, um artista, essa rede promove pegadas socioambientais positivas, uma vez que está trazendo à tona alguma forma de consciência imaterial.

PROCESSOS COLABORATIVOS // João Carlos Artigos

Normalmente, são entendidos como processos horizontais, onde a colaboração da coletividade se dá de maneira intensa. O coletivo é a sustentação dos fazimentos dos processos. Quero chamar também de processos compartilhados, processos afetivos, processos inclusivos. Estes conceitos vão ganhando contorno nos laços que sustentam nossas relações sociais, políticas e econômicas, dentro de determinado território, um espaço onde a gente habita como espaço de troca, um espaço onde as confluências vão acontecer para potencializar as individualidades coletivas que ali coexistem. Ubuntu. Eu som porque somos, então, cromossosmos. A ideia dos cromossosmos é pra trazer algo estrutural, vital pra essas existências, para as existencialidades que aí estão: é importante a valorização das diferenças, a fricção entre as particularidades de cada existencialidade. É fundamental que a gente reconheça as diferenças como algo sustentador, como combustível fundamental para a nossa elaboração, para a sofisticação dos nossos processos criativos, diários. É eu poder observar como você é capaz de dar solução para uma determinada questão, para um determinado problema, e eu posso dar solução de outro jeito para chegar num mesmo resultado. Gostaria de falar de uma horizontalidade sinuosa. Um processo colaborativo é compreender as diferenças, acordar uma ordem e poder subvertê-la criativamente, e daí vamos para o mundo da fabulação, da lógica fantástica.

REGENERAÇÃO // Vera Fróis

Regeneração é uma necessidade urgente para mudar o rumo drástico que a espécie humana tá levando o planeta. Quando a gente fala de regeneração, nós não estamos falando apenas do aspecto ambiental, estamos falando também do social, do moral, do espiritual. Regeneração, ação de regenerar. Na biologia, quer dizer a reconstituição, a recuperação de organismos vivos que foram “acidentalmente” amputados. Este termo, este movimento regenerativo, já vem de bastante tempo. Ele vai se expandir especialmente na década de 90 com a criação das escolas de pensamento. As escolas de pensamento são na realidade a base da economia circular: grupos de pessoas e empresas que comungam ideias semelhantes, com a mesma orientação sistêmica. Por exemplo, a economia de performance, a economia ecológica, a biomimética. O que essas escolas têm em comum? a natureza como medida, a natureza como professora, como mentora, e sempre com um olhar na questão da geração dos resíduos. A pergunta seria: por que os sistemas industriais não podem imitar os agroecossistemas, onde o resíduo de uma espécie vai ser alimento de outra? Parte dessa premissa. A escola de pensamento mais influente foi a designer regenerativo: trata da criação de sistemas regenerativos que renovam suas próprias fontes de energia, livre de resíduos. Integram as necessidades humanas com a integração com a natureza. O designer regenerativo vai influenciar diretamente a agricultura regenerativa, e vai colocar uma diferença entre desenvolvimento sustentável e processos regenerativos. Quando se fala em desenvolvimento sustentável se fala de uma produção que possa atender as necessidades fundamentais do ser humano de maneira a não comprometer as gerações futuras. Já no projeto regenerativo, a preocupação é desenvolver sistemas que permitam a coevolução humana junto com outras espécies. E também fechar um ciclo do desperdício. Trabalhar com a natureza, economizando energia, de maneira que aquele próprio ecossistema seja capaz de renovar toda energia necessária para a produção.

SAÚDE INTEGRAL // Carol Neves

Saúde Integral é a gente encontrar o equilíbrio entre corpo, mente, espírito: viver uma vida plena, fazer com que o nosso corpo realize as funções que ele precisa realizar com toda a potência que ele pode ter, as emoções em equilíbrio, a mente tranquila pra tomar decisões. É alimentação vitalizante: pensar em toda a cadeia daquele alimento até que ele chegue até nós, porque o alimento vem carregado de energia vital. Se a gente olha pro alimento com essa intenção de nutrir o nosso corpo, a nossa mente, a nossa alma, as nossas emoções, a gente cria uma relação muito diferente com o alimento. É também o movimento. Nosso corpo não foi feito pra ficar parado. Nosso corpo foi feito pra se mover, pra se movimentar. É também o sono. Precisamos cuidar muito do sono hoje. As pessoas não estão dormindo. Já tem pesquisas hoje que mostram inclusive que o sono é o principal fator quando a gente fala de longevidade. É também o Detox. O nosso corpo sabe se desintoxicar naturalmente. Ele faz esse processo de faxina: nosso intestino funcionando bem, uma sudorese de qualidade. É olhar pra tudo isso que tem a ver com o detox que o nosso corpo precisa fazer e não tem conseguido porque a gente está sendo uma barreira com os nossos hábitos de consumo. Também são as relações. O que é mais importante na nossa jornada aqui na terra são as relações, é o que fica quando a gente está partindo daqui. Pessoas com relacionamentos harmoniosos e felizes conseguem ter uma vida mais equilibrada. Também o propósito de vida. A doença mental hoje em dia tem muito a ver com essa falta de missão e com essa desconexão com o próprio propósito de vida. E por último é também a natureza: contato íntimo com a natureza e viver em conexão com os ciclos naturais.

TURISMO SUSTENTÁVEL // Márcio Perez

Turismo Sustentável é respeitar a cultura, o meio ambiente e as pessoas das comunidades envolvidas naquele lugar onde você faz a visita. Há três pilares pra tentar equilibrar positivamente os impactos do turismo: o sociocultural, o ambiental e o econômico. O principal objetivo é o fortalecimento da atividade turística a longo prazo e uma sustentação ambiental e cultural das comunidades envolvidas. Uma pesquisa que foi realizada nos Estados Unidos em 2021, com 3500 adultos, apontou que 41% dos viajantes estão dispostos a priorizar viagens sustentáveis, porém, eles não reconhecem que suas viagens podem trazer um impacto negativo nas comunidades locais. Então, é muito importante as operadoras de turismo e as agências fazerem a conscientização dos turistas por meio da integração das escolas, estruturação de cartilhas, palestras, visitas guiadas, apoio aos guias locais, treinamentos profissionais nos roteiros, contratação de pousadas ecológicas. O principal é viver in loco e conversar principalmente com os guias e com as pessoas da comunidade