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Turnê do espetáculo Solo da Cana em Minas Gerais começa dia 19 de abril

O projeto Solo em Rede, viabilizado pela Associação de Fomento Saúva, circulará com o espetáculo da artista da cena, performer e artivista Izabel de Barros Stewart em quatro cidades de Minas Gerais, a partir do dia 19 de abril. Os locais das apresentações em Nova Lima, Jaboticatubas, Conselheiro Lafaiete e Brumadinho estão próximos às iniciativas INOV, UJIMA, Camponês a Camponês, Quilombo Mato Dentro e Atelier Dudude Herrmann, que terão prioridade na distribuição dos ingressos gratuitos. Outro objetivo do projeto Solo em Rede é visitar essas iniciativas e realizar conversas que reforcem o propósito de cultivar um convívio que permita reconhecer as possibilidades de cruzos e composições que podem ser tramadas juntos, e fomentar reflexões sobre modos de viver, fabricar e habitar o mundo. Nas palavras da idealizadora do projeto, atriz e dramaturga do espetáculo, Izabel Stewart, o objetivo da circulação é promover a articulação entre as iniciativas que compõe a Rede Saúva Jataí. “É poder levar o meu trabalho e ao mesmo tempo visitar o trabalho dessas iniciativas que têm algum projeto apoiado pela Saúva”, explica.  Essa articulação com as iniciativas da região será registrada para servir como ferramenta de análise para um diagnóstico da Rede, suas fragilidades e potencialidades, e como material de divulgação para atrair investimentos para a Saúva. O projeto ainda prevê uma turnê em Teresópolis/RJ, Alto Jequitinhonha/MG e Ribeirão Preto/ São Joaquim da Barra/SP, tocando as iniciativas próximas a essas cidades.

Para tanto, está sendo feito um trabalho de mobilização com as pessoas que participam dessas iniciativas, viabilizando o transporte para o espetáculo e garantindo ingressos para elas, pois as apresentações serão em locais com capacidade limitada de público. “A prioridade é ter as pessoas das comunidades que poderão visitar o meu projeto, que é itinerante, e eu visito as iniciativas também”, conta Izabel.

Solo da Cana

Solo da Cana traz pra cena um corpo de mulher que assume o lugar de fala de uma cana-de-açucar, ícone da cultura mono-agro-pop, em diálogo com a plateia, versando sobre o cultivo de afetos entre os seres. Não se trata de antropomorfizar um ser vegetal, mas sim de criar condições para encarar o outro, o diferente, como sujeito ativo nas relações, atribuindo voz e agência àquela que foi considerada objeto inanimado na nossa cultura mercantilista. Solo da Cana trata de uma batalha entre o alargamento da fronteira agrícola e o atrofiamento do horizonte sensível, entre o superavit e a fome, na luta por um terreno que recupere o cosmo. Para além dos enquadramentos que classificam humanos e não humanos, o desafio aqui é perceber as interações que nos transformam materialmente e simbolicamente no inevitável convívio interespécies. E faz a pergunta: o que uma cana-de-açúcar teria a nos dizer, depois de séculos de exploração?

O espetáculo trás reflexões que, de alguma forma, dialogam com as pautas tratadas pelas iniciativas da Rede Saúva Jataí. Izabel afirma que não estão juntos à toa, as afinidades estão presentes e têm um horizonte em comum. “Quais os enfrentamentos que estamos fazendo diante dessa realidade que vivemos e nos põe para pensar sobre as relações, a herança colonial, a relação com a terra, sobre o racismo colonial? Com todos que estão pensando fora da caixinha da monocultura e as possibilidades que temos de se fortalecer e aprofundar nesses temas a partir de diferentes perspectivas não só do pensamento, mas das práticas”, reflete Stewart.

Essa troca entre a artista e o público das comunidades tocadas pelas iniciativas gera a oportunidade de conhecimento das diferentes ferramentas utilizadas para a transformação social. A peça traduz uma série de conflitos da autora, mas dá espaço para o público fazer disso o que quiser, longe de dar explicações e lições de moral. O espetáculo foi pensado e criado sem a quarta parede do público, com isso, a proximidade entre este e a artista é muito direta. Isso permite à performer um contato com cada um e faz com que o público se sinta dentro da apresentação, deixando artista e público muito expostos.

Izabel conta que essa característica da proximidade e do contato direto com o público só pode ser totalmente experimentada após a estreia do espetáculo. “Acho que é um trabalho que se renova a cada dia porque ainda que o texto se repita, ele é alimentado pelos afetos que circulam nessa relação. O jeito que a plateia me olha modifica o meu modo de estar em cena”, reflete.

Texto autoral dançante

O texto do espetáculo, escrito por Izabel e com direção de João Saldanha, nasce de uma série de inquietações que ela já vinha se debruçando há tempos. Sua trajetória de dança passou pelo teatro de modo tangencial e encontrou o ativismo ambiental, mas veio a necessidade e o gosto de escrever e dar expressão a essas reflexões da peça. Esse é um dos motivos da dificuldade de classificação do espetáculo ser de teatro ou de dança, e para a artista isso não importa, cada um pode definir como quiser e o importante é que o texto esteja vivo. Izabel afirma que essa personagem, uma cana de açúcar falando,  tem “uma dinâmica de relaxamento e tensionamento que dão um pulso ao texto. Para mim escrever é um trabalho de ritmo, de que ritmo eu dou ao texto”.

A parceria de longa data com João Saldanha foi muito importante para o processo de criação do espetáculo pela cumplicidade, liberdade e intimidade que existe entre os dois. “Ele se apaixonou pelo trabalho quando estávamos no processo de montagem e se entregou muito, o que me encorajou”, confessa Izabel. Alguns meses após a estreia a encenação mudou bastante, trazendo mais liberdade de atuação com o texto mais introjetado. Dessa maneira, a atriz bailarina e o diretor que vieram do universo da dança se lançaram no teatro com um texto carregado dessas histórias. “O jeito que eu escrevo não é uma escrita de uma narrativa linear, é uma escrita que dança também. Para mim, meu texto tem muito mais de dança que de literatura, de uma dança textualizada e eu não sei fazer de outro jeito”, conclui.

Assista ao teaser da peça:

Serviço: Apresentações do espetáculo “Solo da Cana” com Izabel de Barros Stewart:

NOVA LIMA

  • Dia 19/04, sexta, às 20h no espaço do 1º Ato no Jardim Canadá
  • Dia 20/04, sábado, às 19h no espaço do 1º Ato no Jardim Canadá

BRUMADINHO

Dia 21/04, domingo, às 11h no Ateliê Dudude em Casa Branca, seguido de bate-papo com almoço

JABOTICATUBAS

  • Dia 23/04, terça-feira, às 19h no Espaço Cultural Valério Dias Duarte

CONSELHEIRO LAFAIETE

  • Dia 24/04, quarta-feira, às 19h no Teatro Municipal Placedina de Queiroz

Todas as apresentações são gratuitas, sujeitas à lotação dos respectivos espaços.

Classificação indicativa: 16 anos

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