Matéria publicada em 6 de julho de 2023.
O show do álbum Senzala e Favela, de composições de Wilson das Neves, foi selecionado pelo edital da patrocínio CCBB para as temporadas de 2024 e 2025. A circulação do show por Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília foi um dos 137 projetos contemplados entre as mais de 6 mil inscrições de todo o país. Dentro da programação promovida pelo edital, foram selecionados 41 projetos de artes cênicas, 36 de cinema, 24 de exposição, 13 de ideias, 19 de música e quatro do Programa Educativo.
Este é o terceiro passo deste projeto, Senzala e Favela, que já passou pela gravação do álbum, show de lançamento no Theatro Municipal do Rio e, agora, tem portas abertas para uma turnê nacional. Desta forma, de acordo com Alexandre Segundo, idealizador e produtor executivo, o projeto ganha maior alcance e permite gerar circularidade e retorno dos recursos investidos. Esta é a linha que guia o trabalho do produtor à frente do Selo FundiSom: a partir do fomento da Saúva e Jataí, que aconteceu de maneira única, segundo Alexandre, seguem na linha de trabalho a produção dos álbuns de outros grandes artistas brasileiros, como Cristóvão Bastos e Áurea Martins (já gravado) e Vidal Assis em homenagem a Elton Medeiros, por exemplo.


Sucesso no Municipal
Alexandre Segundo comemora o sucesso do show de lançamento do Senzala e Favela e conta um pouco dos bastidores daquele dia, 9 de maio de 2023, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O show, com a banda que acompanhava Das Neves tradicionalmente, contou com participação de Áurea Martins, Moyséis Marques, Vidal Assis, Zé Renato, Roberta Sá, Moacir Luz, Gabriel Cavalcante e Bia Ferreira, única convidada que não participou da gravação do álbum.



Com a platéia cheia, foi “uma ocupação do espaço com o povo preto, naquele prédio que foi construído com os braços do povo preto. Foi um grito do homenageado Wilson das Neves”, revive o produtor. O público presente no Municipal foi de duas mil pessoas.
A letra da música que dá nome ao disco, interpretada por Chico Buarque e Emicida, fala dessa vergonha que nós, brasileiros, carregamos até hoje: o racismo enraizado no país e que não muda nem com políticas públicas, segundo Alexandre. “A música Senzala e Favela é um grito contra o racismo enraizado na gente. (…) Uma questão cultural, fruto dessa vergonha que foram trezentos anos de escravidão”.



O produtor avalia que a repercussão do show foi muito positiva, tanto do público presente quanto dos artistas: “as pessoas que eu conheço e que estiveram lá presentes, elogiaram muito, ficaram muito felizes e emocionadas com a homenagem e com o grito que o Wilson queria dar com esse disco. Infelizmente, ele não pôde estar no palco onde gostaria, mas o grito dele ainda reverbera e vai reverberar por muito tempo”, diz Alexandre.
Para Segundo, o show de lançamento foi o ápice do projeto Senzala e Favela, por ser no Theatro Municipal, pela ocupação do espaço pelo povo preto, pela história do Wilson, que tocou na orquestra do Municipal, e pela história do teatro no Rio de Janeiro. Wilson das Neves tocou e gravou com mais de setecentos nomes da MPB, cedendo a elegância na condução da bateria, conduzindo o tempo com maestria e em harmonia com os demais das bandas.
“Eu tenho muito respeito pelo Wilson das Neves, pela obra que ele construiu com elegância, sem querer se impor, sem querer ser mais que o outro. E também pela forma dele viver, pela forma dele se expressar; seus ditados devem ser seguidos. Quando os analisamos, vemos muita relação com o que vivemos hoje, de forma sábia e malandra”, finaliza o produtor.
Confira o encerramento do show com a música “O Samba é meu Dom”. Video Luana Abreu:
Para ouvir o álbum acesse:
https://open.spotify.com/intl-pt/album/6Awvz15GCitOAUkuWf0wIX?si=SBwxp4lBT-Gnh8GfXUVjaA