Matéria publicada em 30 de julho de 2024.
A experiência da Rede Muda Outras Economias de se aprofundar nas práticas de arte e agroecologia tem encontrado em Rio Bonito de Cima (RJ) um local ideal para pôr a mão na massa, desenvolver a vivência de aprender fazendo e trabalhar com a terra. Para os integrantes da Muda, Rio Bonito tem sido o espaço de fazer, de se reunir e planejar as ações. E uma dessas ações planejadas, que tem sido gestada no Jardim das Delícias, é participar da Festa do Inhame, que acontece dia 2 de agosto no município. “Esta ação ainda está sendo desenhada. Estaremos presentes na festa com uma barraquinha da Muda”, conta Ivam Cruz, da equipe de Comunicação da Muda.
Ele explica que o Jardim das Delícias acaba sendo o espaço de experimentação artística e agroecológica. “Ali a gente abriu uma agrofloresta pra poder plantar, e temos bananeiras, ervas medicinais. Vimos as árvores pioneiras crescendo, além de verduras e legumes, tudo ali, dessa maneira consorciada, que é a agroflorestal, trazendo para a nossa prática, é como nós temos olhado pra vida”, define.

De acordo com Ivam, a ideia é olhar para a agroecologia de uma forma diversa e plural, e por isso existem várias frentes de atuação. “Aqui no Rio a Muda tem tido uma capilaridade variada, o que nos agrada muito. Tem uma galera da zona norte, Ilha do Governador e da Baixada Fluminense que acessa a nossa rede, compra as cestas de alimentos orgânicos, o que colabora com a segurança alimentar e acesso a alimentos com menos venono. E a partir do momento em que se conectam à nossa rede, passam a conhecer outros temas e discussões, como o processo educativo, assuntos de arte e agroecologia. São assuntos que vão entrando por outras vias, e assim nós conseguimos atingir esse objetivo de ampliar a discussão”, diz ele.

A Muda também realiza mutirões agroecológicos; promove debates sobre arte e agroecologia no Ciclo de Outras Economias; implementa hortas urbanas e realiza a Residência no município. São diversas atividades que estão em curso, como aulas, vivências, exibição de filmes, palestras, plantios, colheitas, capina seletiva e manejo agroflorestal.
Estruturada como uma rede de fomento, a Muda incentiva ações culturais, educativas e socioambientais que muitas vezes não são contempladas pelo sistema financeiro tradicional. A estratégia usada para subverter essa forma excludente de pensar a economia, foi criar uma moeda social complementar, a MUDA, que permite recuperar a autonomia, evidenciar e fazer circular a abundância existente na comunidade. A moeda social está ancorada na plataforma digital da Cambiatus, que opera com a tecnologia blockchain.



Em uma plataforma digital é realizada a troca de bens, produtos e serviços. A moeda é a ferramenta pela qual os integrantes da rede interagem, e onde são disponibilizados os produtos e serviços de cada um. “A plataforma acaba existindo como uma espécie de ‘banco’, e quanto mais ações uma pessoa faz, como o plantio de mudas, por exemplo, vai ganhando moedas”.
A rede gera um fortalecimento mútuo, onde cada transação se torna um ato político pela reforma monetária. Neste sentido, a Muda não é apenas uma moeda, e sim um agente facilitador de processos práticos e teóricos, de reconhecimento de valores e da diversidade dos modos de vida. A moeda Muda traduz um modo de atuação coletiva que o grupo fundador da rede vem experimentando em suas atividades.
Ivam destaca também a importância de sair do online e vir para o presencial, para fazer a experiência acontecer “olho no olho”, como aconteceu na Feira da Glória, no Rio, e no evento Arte na Terra, em junho passado, aonde aconteceram muitas atividades de educação ambiental e manejo agroflorestal. “A gente se organizou pra ir nesse evento, onde houve uma imersão com praticas de manejo e uma discussão bem interessante sobre arte e agroecologia”.
Novo site
Outra ação importante é o novo site da Muda (https://www.muda-oe.com/), no ar desde junho. Trata-se de um grande guarda-chuva, onde é possível acessar a programação dos eventos e os vários projetos parceiros que estão em atividade. “O site está em permanente atualização, e estamos montando uma campanha para desenvolver um fluxo semanal para divulgar os conteúdos do site”, diz Ivam.

Luiz Haddad, da Muda Outras Economias, conta que foi feita uma revisão do desenho da Muda, ou seja, como os membros da comunidade podem ganhar mudas. Nessa revisão, foi incluída uma remuneração de 1.000 mudas para cada projeto parceiro que entregar o relatório trimestral, e também novas ações conscientes. Por exemplo, as pessoas ganham 20 mudas por fazer compostagem; 20 mudas por separar resíduos recicláveis; 20 mudas por meditar por 20 minutos. “A gente fez essas modificações com o objetivo de aumentar a remuneração de mudas para a comunidade, e assim gerar estímulo por mais ações conscientes”, explicou.


Publicada em 30 de julho de 2024.
A redação desta matéria contou com a colaboração do jornalista Paulo Boa Nova.