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Rede Alegrias fortalece estruturas da moeda social e do banco comunitário ampliando rede de atuação em projetos de impacto socioeconômico

Matéria publicada em 15 de janeiro de 2025.

A Rede Alegrias teve um ano muito produtivo em 2024 em relação à estruturação e fortalecimento da moeda social e do Banco Comunitário Alegrias, na avaliação de Mônica Calderón, gestora da rede. A equipe enxergou o potencial do Banco Comunitário como ferramenta para a circulação de recursos, principalmente na moeda social, que é um dos principais interesses da rede. O ganho de se ter um banco e a moeda realmente estruturados, funcionando bem e promovendo a circulação dos recursos e da moeda é o principal objetivo da rede, entretanto, percebeu-se que havia a necessidade de se ampliar ainda mais a atuação na comunidade de Paraty, no Rio de Janeiro, e outras regiões atendidas. Dentro dos objetivos traçados em sua criação, o início se deu com a criação da Moeda Social Alegrias e posteriormente identificaram que era necessário estruturar um banco para potencializar a circulação dos recursos financeiros e da moeda.

Mônica conta que foi importante reconhecer que, tanto o banco quanto a moeda, estão à serviço de uma comunidade para que outros projetos sociais e econômicos possam também ser apoiados e estruturados. “Esses projetos existem para promover trabalho, renda e a circulação de recursos na comunidade”, explica Calderón. Com isso, eles começaram a fortalecer alguns projetos que são produtivos para a comunidade, como as Feiras dos Produtores da Rede Alegrias, além de outras feiras já existentes na cidade e a Cozinha Solidária, apoiando a estruturação da empreendedora responsável pelo projeto e enxergando o seu potencial de atuação junto à comunidade em situação de vulnerabilidade social. A avaliação da experiência de 2024 é que esses projetos são viáveis, sustentáveis e a equipe já está desenvolvendo outras ideias a partir deles.

Uma delas é o Banquetaço, que promoveu uma noite sem fome em dezembro, depois de arrecadar alimentos, prepará-los e distribuí-los em marmitas na rodoviária de Paraty para a população de rua. As Cozinhas Solidárias foram realizadas mensalmente e foram se estruturando ao longo do ano a partir de um fundo criado e pequenas doações pessoais. Mônica conta que todos os dados do que é arrecadado, o que é vendido e o que é comprado e distribuído posteriormente, são armazenados e a intenção é que esse modelo possa ser replicado em outros projetos da Rede Saúva Jataí. “Começamos o projeto com um fundo de R$1.800,00 que foi entregue para a Cozinha Solidária comprar os insumos e equipamentos que a cozinha precisava. Ao longo dos meses, reparamos que o trabalho da Cozinha conseguiu devolver para a Rede Alegrias o fundo que havia recebido e se estruturaram com todos os insumos, pratos e talheres que a cozinha precisava e se manteve”, conta Mônica com alegria. Esse recurso pode ser reinvestido na cozinha ou ser usado para apoiar um outro projeto, mas o mais importante, segundo Mônica, é que a Cozinha, sendo solidária, é um negócio social viável que gera trabalho, renda e apoia uma causa social. Para o futuro, Mônica reflete que tanto o banco, quanto a moeda e a cozinha solidária são bens públicos, têm uma utilidade pública e que em algum momento essas ferramentas de desenvolvimento social devem ser entregues à comunidade.

A equipe da Cozinha Solidária realizou doze edições em 2024

Outra notícia comemorada pela Rede Alegrias é que a Associação Beija-Flor recebeu o título de utilidade pública do município de Paraty. Com isso, os dois projetos da Associação – educação transformadora (Jardim do Beija-Flor) e moeda social (Rede Alegrias) – poderão ser beneficiados com esse título. Para Mônica, o reconhecimento político e financeiro das instituições, que têm o título de utilidade pública e têm o direito de canalizar recursos públicos do município é importante para que eles consigam direcioná-los no orçamento de recursos de 2026 do município de Paraty.

Crianças e equipe da Projeto de Educação Transformadora Jardim do Beija-Flor

Esse processo burocrático exigiu quase dois anos de dedicação para a entrega de toda documentação exigida e também para que não só o trabalho da escola fosse reconhecido, mas todo a atuação da Rede Alegrias através da moeda social e do banco comunitário.

Na visão de Mônica Calderón, a transparência das informações e dados da Rede Alegrias é um princípio fundamental que tem sido observado desde o começo da rede e eles fazem questão de que essas informações estejam disponíveis na página do Instagram, onde são disponibilizados a cada três meses.  Toda a movimentação das alegrias depositadas, os valores movimentados, pagamento de boletos, novos associados e etc. estão públicos para quem quiser acessar. Para se ter uma ideia, os dados do 3° trimestre de 2024 mostram que as 50.431 Alegrias depositadas geraram uma movimentação de 257.176 Alegrias, ou seja, cada Alegria depositada ou ofertada gerou a circulação de 5 Alegrias.

Outra questão que tem sido um exercício constante é o trabalho de “formiguinha” de levar a semente do banco comunitário para a frente e conquistar a confiança das pessoas para o cuidado com seus recursos financeiros. Além da transparência na comunicação com as pessoas sobre as condições do banco comunitário e das transações através do aplicativo disponível (E-dinheiro), que algumas vezes apresenta problemas, mas que ainda assim tem um custo benefício bom para a rede.

“Estamos comemorando o nosso dever cumprido e com a certeza de que ainda temos muito a fazer”. Mônica Calderón – Rede Alegrias e Jardim do Beija-Flor

Desafios com a cultura do medo, violência e machismo

Mônica comenta que em 2024 passaram por algumas situações desafiadoras na Rede Alegrias e outros projetos que refletiram a cultura do medo, da violência e do machismo estrutural que permeiam as relações. As mulheres, principalmente, sofrem com posturas preconceituosas que tentam bani-las de seus propósitos através de estruturas de poder que insistem em dizer que “não são capazes, não têm força para isso, que não vão conseguir”.

Mônica conta das dificuldades com situações desse tipo nos projetos e que, graças à força da rede e da coragem dessas pessoas, conseguiram passar por isso e seguir em frente. Ela diz que faz questão de denunciar esses comportamentos em todos lugares que tem falado, pois são atitudes e comportamentos perigosos que, de tão estruturais, são tomadas como “normais”. As pessoas impactadas, muitas vezes, não conseguem reagir porque não sabem se aquilo que estão passando é uma violência ou não.

Reunião da equipe de coodenação da Rede Alegrias em Paraty

“Quando isso aconteceu nos projetos que trabalhamos, tivemos que nos posicionar muito radicalmente. E como trabalhamos com muitas mulheres conscientes, tivemos até certa facilidade em passar por essas situações, mas não é fácil mesmo tendo essa fortaleza que temos”, denuncia Mônica.

Ela fala sobre a colonialidade do poder, que fez parte de seus estudos acadêmicos, e que são estruturas de poder que permeiam as relações. Mesmo dentro de uma rede que trabalhe contra esses padrões, pode acontecer destes serem replicados inconscientemente e deve-se sempre estar atento para que isso não aconteça.

Objetivos para 2025

O principal objetivo da Rede Alegrias para este ano, segundo Mônica, é de manutenção e fortalecimento das estruturas construídas em 2024. Dentro das possibilidades da rede e do fomento recebido da Saúva, a manutenção desses organismos sociais, que são os projetos, já é um grande investimento de recursos e energia de todos. “A tendência de um projeto que tem saúde é crescer de diferentes formas: com pessoas trabalhando, com novas ideias, com novos parceiros chegando. Assim avaliamos a saúde do organismo, entendemos que se um projeto fica estancado ele não cresce e as pessoas ficam desmotivadas”, explica.  

Nesse sentido, algumas alianças tem sido feitas como na estruturação do Fórum de Economia Solidária de Paraty, que faz parte do Movimento de Economia Solidária da Costa Verde, do Estado do Rio de Janeiro e também em nível nacional. No Fórum Estadual, a representante da Rede Alegrias, Márcia Targino, foi eleita delegada para atuar no Fórum Nacional de economia solidária. Mônica conta que é “um trabalho muito importante politicamente para todos projetos que trabalham com economia solidária, porque são esses fóruns, assembleias e conferências que ditam os caminhos das políticas públicas em torno da economia solidária”.

“Eu faço questão de comemorar junto com a Ana Beatriz Torres e Felipe Campos da comunicação; Márcia Targino, Priscila Romão e Hamilton Rocha do Banco Comunitário; Juliana Castro e Victoria Prassel da Cozinha Solidária e Feirinha da Rede Alegrias; e Gabriela Pascualli do administrativo/financeiro. Todos fazem um trabalho de muita dedicação, que nem sempre tem uma remuneração financeira de acordo com o trabalho de cada um, mas cada um faz o melhor que pode fazer porque têm um propósito”, conclui Mônica.

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