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Rede Alegrias apresenta Relatório Operacional de 2022 a 2024

Matéria publicada em 31 de março de 2025.

Uma parceria com o estudante do 5° período de Economia da UFRRJ, Álvaro Augusto Veloso Theodoro, através do PEPEDT – Programa de Ensino, Pesquisa e Extensão em Desenvolvimento Territorial e Políticas Públicas – viabilizou um estudo aprofundado sobre as operações da Rede Alegrias do ponto de vista multidimensional e não só financeiro. A partir de um encontro entre Mônica Calderón e Álvaro Augusto na Conferência Intermunicipal de Economia Solidária da Bacia da Ilha Grande e Costa Verde (BIG) em 2024, foi feito um convite para que o estudante integrasse a Rede Alegrias como assessor financeiro e colaborasse com a área da coleta de dados, análise e diagnóstico econômico da rede. Esse estudo demonstrou, através da análise de dados e gráficos, um aumento consistente no número de depósitos, o que é positivo, e um aumento no valor de retiradas também, o que pode trazer algum risco à longo prazo. Álvaro apresentou um panorama geral, por uma perspectiva acadêmica, da sustentabilidade, problemas, benefícios e oportunidades da Rede Alegrias, traçando um comparativo com outros estudos de caso, como a Moeda Social e Banco Comunitário Mumbuca em Maricá/RJ.

Álvaro Augusto pesquisa arranjos produtivos locais e economia solidária, que é um modelo econômico baseado na cooperação, autogestão e solidariedade, visando a geração de trabalho e renda de forma justa e sustentável

Uma das primeiras comparações entre as moedas sociais Alegrias e Mumbuca diz respeito à gestão da moeda. A Alegrias foi criada e gerida pela sociedade civil organizada de Paraty, já a Mumbuca é municipalizada e gerida pela Prefeitura de Maricá. Isso reflete uma facilidade na arrecadação de fundos, mas traz outras problemáticas inerentes à gestão pública, pondera Augusto. Ele conta que fez vários estudos de caso de outras moedas sociais no nordeste, sudeste e Rio de Janeiro, e tem discutido atualmente, com as gestoras da Rede Alegrias, exemplos de autonomia e de articulação civil necessárias para que os bancos consigam evoluir. Alguns deles não conseguiram desenvolver lideranças fortes e articulação com as comunidades, e isso dificulta sua sustentabilidade a longo prazo.

Augusto ressalta que o número de depósitos nos últimos dois anos aumentou em 430%, sendo que o aumento médio em outros bancos, nesse período, foi de 130%. Outra análise de crescimento, transações e circulação da moeda Alegrias mostra um crescimento constante, que podem ser observadas através de um gráfico de tendência sempre de alta. Já o número de retiradas apresentou valores que chamam a atenção e levantam certa preocupação pensando em uma sustentabilidade a longo prazo. Segundo Augusto, uma das questões mais relevantes e problemáticas em Redes de Bancos Comunitários é fazer com que as pessoas passem a aderir à moeda social e um fundo para garantir as operações. O fundo garantidor das Alegrias é e foi sempre muito saudável, tanto pelo saldo final das operações, quanto pelo crescente número de depósitos dos usuários. Entretanto, a falta de políticas públicas e incentivos para usar a moeda em Paraty faz com que as pessoas não encontrem tantos estabelecimentos parceiros da moeda Alegrias. Com isso, o número de retiradas tem valores proporcionalmente crescentes também, o que não é sustentável no futuro.

A articulação da Rede Alegrias com o poder público é uma das sugestões de Augusto a partir do estudo realizado

Um exemplo comparativo citado por Augusto sobre essa questão é da moeda social Mumbuca, de Maricá-RJ, onde a prefeitura tem um programa de renda universal que é transferido para a população em situação de vulnerabilidade social em Mumbucas e até o programa Bolsa Família. Isso faz com que as pessoas se interessem e estimulem a adesão de estabelecimentos para receberem na moeda social e isso é visto na grande quantidade de negócios com banners indicando a parceria com a moeda. Além desse exemplo, do que pode ser desenvolvido pela Rede Alegrias junto ao poder público de Paraty, Augusto cita também o estímulo a programas de difusão do conhecimento da economia solidária no município que poderiam suprir o desconhecimento de parte da população sobre esse tema e sobre a rede em si.

Dados muito importantes levantados nesse estudo, são: o número de transações realizadas entre 2022 e 2024, que apresentaram um aumento acumulado de 634%, passando de 520 para 4000, e o volume do número de depósitos que passaram de 71.000 para 376.000 Alegrias, com um aumento de 430% nesse período. Segundo Augusto, “é importante acompanhar essa linha de tendência e essa variação percentual”.

A circulação da moeda Alegrias na economia de Paraty é um dado muito relevante para a análise da saúde e sustentabilidade da rede. O estudo demonstrou que o volume de compras e vendas em relação ao pagamento de boletos e retiradas é altíssimo, chegando a circular sete vezes. Esse volume foi de 200.000 para 1.400.000 Alegrias e reflete a quantidade de vezes que a moeda circula dentro da rede, a circularidade. Para Augusto, a capacidade de crescimento da Rede Alegrias é enorme em comparação com outras moedas.  Entretanto, é necessário desenvolver outras medidas, que ainda necessitam ser analisadas pela equipe gestora, para inovar e ele cita como exemplo a utilização de um cartão para facilitar as transações e a articulação com o poder público, que fariam a rede atingir outros patamares de movimentação.

Outro exemplo de como alcançar as pessoas em políticas públicas, já posto em prática pela rede, é a Cozinha Solidária. “Isso é algo que devemos estudar e pode ser um divisor de águas real. Outros grupos, instituições e bancos comunitários não têm o nível de organização que eles têm para fazer a compra de alimentos e a preparação de cozinha agroecológica solidária. A compra de alimentos é uma política pública municipal, como o PNAE, e a Rede Alegrias faz isso. Então, imagine que a prefeitura delegue uma parte da aquisição de alimentos para a Alegrias?”, questiona. Ele levanta a importância dessa articulação e da aproximação da Rede Alegrias com o colegiado da Bacia da Ilha Grande e Costa Verde, onde existem grupos de cooperativas de pesca, agricultura, comerciantes, turismo comunitário, gestores públicos, secretarias e prefeituras. Augusto afirma que se houver articulação com órgãos como as Secretarias Municipais, MDA, entre outras entidades públicas, para a aquisição de alimentos através do colegiado territorial já existente, por exemplo, será muito mais fácil.

Entre as conclusões do estudo já discutidas com a equipe da Rede Alegrias, Augusto fala sobre a importância da população de Paraty conhecer cada vez mais a moeda social e a ampliação das parcerias com estabelecimentos para se evitar as retiradas por estes motivos. Seminários sobre Economia Solidária e Bancos Comunitários seriam bem-vindos para solucionar essas demandas. O gráfico de retiradas apresenta um aumento nominal expressivo, mas, segundo Augusto, nos últimos meses ele tem mostrado uma tendência de estabilização, o que é positivo. Seria preocupante se o saldo final fosse negativo, o que não é o caso, pois o saldo da Rede Alegria sempre foi positivo. Outro gráfico demonstra a proporcionalidade entre o número de usuários cadastrados e o número de transações, indicando o engajamento e a correlação direta entre eles. Todavia, ele apresenta uma pequena queda no número de transações, o que demonstra, mais uma vez, a necessidade de desenvolver outras estratégias para que as pessoas conheçam e utilizem a moeda social cada vez mais. Com esse estudo, demonstrou-se os pontos de equilíbrio atingidos pela Rede Alegrias, indicando sua saúde e sustentabilidade. Porém, reconhecendo o que ainda deve ser trabalhado para superar os desafios e limitações, e aproveitar as oportunidades.

Veja a íntegra do relatório operacional da Rede Alegrias abaixo:

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