O projeto Camponês a Camponês, realizado pela Associação Amanu com o apoio da Saúva, tem dado muitos frutos e alimentos para as famílias atendidas na região de Jaboticatubas, Minas Gerais. A Associação, fundada em 2007, é formada por agricultores familiares, artesãos, produtores artesanais, moradores do campo, povos e comunidades tradicionais e técnicos agrícolas. A tecnologia camponês a camponês, trazida de Cuba, pretende ampliar o diálogo entre os produtores e produtoras rurais e agricultoras e agricultores familiares, mas também destes com a população em geral. Uma das metodologias empregadas é a Mesa da Família, onde é exposta a produção da agricultura familiar, que pode não significar muita coisa em termos de quantidade, mas tem uma grande diversidade e gera um excedente para venda também.
Os gestores do projeto têm visitado as famílias de agricultores e aprendido muito também. Na última família visitada, a mesa estava composta com uma produção própria de café, abóbora, mandioca, alho, cheiro verde, feijão, arroz, rapadura, amendoim e pasta de amendoim, cachaça e mel, além da produção de ração para seus animais que geram requeijão, queijo, porco e frango caipira abatido. Essa tecnologia empregada pelos parceiros da Rede de Tecnologias Alternativas – Rede – na região metropolitana, tem feito a diferença positivamente na vida dessas famílias.

Luiz Felipe Lopes Cunha, um dos coordenadores da associação, conta com orgulho da fartura que essa família produz em suas terras. “Porque eles têm segurança alimentar e além dessa sustentabilidade, eles vendem o excedente da produção. No caso dessa família, eles dão conta de manter a segurança alimentar e nutricional de seis pessoas, e comercializam esses produtos no Armazém, na Feira Agroecológica e no Mercadinho Tá caindo fulô. Então não é só um complemento de renda, é um bom complemento de renda porque estamos falando de produtos minimamente processados e processados”, comemora.
Lopes explica do sentido do produto in natura e rural que vem se perdendo e que muitos falam que não é lucrativo. Segundo ele, “a questão toda é o significado do ‘lucrativo’, que não é só financeiro, essas famílias estão recebendo o financeiro também, mas tem algo a mais que elas estão recebendo, aprendendo com a agricultura e têm um prazer enorme em falar disso”. No dia do curso, Luiz conta da emoção dos presentes, além da família, que citaram o quão gratificante é colher seu próprio alimento, e do relacionamento com a natureza e com as plantas. Essa relação é importante para a existência do ser humano, para a espiritualidade, para a qualidade de vida e a possibilidade de abrir suas casas para ensinar aquelas metodologias para turistas, vizinhos e conhecidos do município está trazendo uma união maior entre o coletivo de agricultoras e agricultores de Jaboticatubas.

A força do coletivo
Essa experiência demonstra uma esperança dessas pessoas de que, juntas, elas conseguem melhorar a produção dos outros, com mutirões, trocas de ideias e tecnologias. E com isso também criam vínculos comerciais pois têm outros serviços a oferecer. A família da Dorisane e Pedro, conta Luiz, “além dessa mesa com todos esses produtos, eles também são pedreiros, ferreiros, mecânicos, uma filha é técnica em agroecologia e facilitadora do projeto e outra é poetisa e está fazendo um viveiro de mudas para comercializar na feira”.
Aos poucos, com o trabalho baseado na educação popular freireana, eles consolidaram a Feira Agroecológica de Jabó que já tem 10 anos. Luiz comemora que estão animados com a metodologia camponês a camponês, que ela veio para ficar e que vai crescer. Graças a ela, algumas pessoas da região que nunca plantaram, estão tomando coragem e começando a plantar, vendendo verduras na feira, pegando mudas e aprendendo como plantá-las.
Ninguém pode ser totalmente autossustentável porque a gente só é sustentável no coletivo, somos seres sociais. E isso é a beleza dessa rede de agricultores, que quando se juntam parece que ficam mais animados a plantar, se sentem reconhecidos e apreciados por outras pessoas”
Luiz Felipe Lopes Cunha – Associação Amanu
Sustentabilidade da Rede no futuro
Uma das ideias que tem surgido nos gestores do projeto Camponês a Camponês, é que ele se torne um espaço de turismo de experiência, aonde as pessoas possam vir e ajudar a criar uma sustentabilidade da Rede a longo prazo, contribuindo com recursos e potencializando a Feira.
Um outro ponto de vista, que emociona a todos em seus relatos, é que estão lidando com pessoas que estão vencendo várias opressões. Eram crianças que hoje estão com 15, 20, 25 anos, que tem vivido o combate ao machismo, que é uma temática abordada na escola família agrícola, e tem vivido o respeito e a valorização dos saberes do campo. Esses jovens, segundo Luiz, “está falando sobre essas temáticas de uma forma que é delas, com suas palavras. Estamos colhendo agora, nesses encontros, os frutos que são o resultado de um caminho”.
Luiz Felipe acredita que esse momento da Rede Camponês a Camponês está sendo muito significativo, que será um divisor de águas na história da Associação Amanu e que tudo vai ser melhor daqui alguns anos.
Escola Integral e descentralização da cultura
O problema nacional da volta à vida no campo ou da fixação das famílias no campo, é um grave problema que precisamos enfrentar, diz Luiz. Com a escola integral, a descentralização da cultura e o financiamento pesado da cultura nos municípios, pode-se começar a solucionar essas demandas. “O que falta é oportunidade e repertório, as pessoas precisam sair, viajar e conhecer outras culturas para ter repertório”, explica.

Outra solução, reflete Luiz Felipe, é colocar as crianças para estar junto dos pais no dia a dia do campo e isso não pode ser confundido com trabalho infantil. Além do espaço de brincar e estudar, dar às crianças a oportunidade de brincar na lavoura, na roça, na horta, no processamento, na faxina da casa. “Para educar uma criança, precisamos estar com elas nessas atividades desde o início da vida, não adianta querer que seu filho se apaixone pela roça depois de adolescente e você não deixou ele fazer do seu jeito”, conclui.