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Plante Rio 2024 traz reflexão sobre mudanças climáticas para o centro do debate

Matéria publicada em 4 de outubro de 2024

O Plante Rio 6 debateu, na Fundição Progresso, o que tem sido e o que pode ser feito para combater as mudanças climáticas que ameaçam o planeta e já afetam nossas vidas. O momento que vivemos de queimadas, secas prolongadas e enchentes não poderia ser mais apropriado para pensarmos se é dessa forma que queremos viver e nos relacionar com o ambiente. A intenção foi articular pessoas, grupos e movimentos que já fazem a diferença. Muitas pessoas que atuam na linha de frente de iniciativas, projetos, coletivos e universidades bem qualificadas puderam mostrar seus trabalhos, soluções e práticas que vem sendo adotadas no sentido de engajar e atuar no meio ambiente e na produção agroecológica de maneira mais saudável. O público, por sua vez, pôde participar de forma ativa e trazer suas colaborações em cada roda de conversa. O evento na Fundição Progresso, que vem se firmando também como um espaço para o acolhimento, debate e defesa do meio ambiente, ainda contou com atrações culturais, feira de produtores, mutirão de plantio, oficinas e show de encerramento. Ao final do evento, foram lançadas as cartas climática e agroecológica, com políticas e ações para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas assinada por políticos, ativistas e associações ligadas ao meio ambiente. A 6ª edição do Plante Rio teve o patrocínio e parceria institucional da Saúva e apoio do Mercado Fundição, Mutirão agroflorestal, Muda Outras Economias, entre outros.

Yá Wanda Araújo
Pai Cláudio de Ayrá

Primeiro dia do Plante Rio 6ª edição

A abertura do evento teve a participação de Marcos Sorrentino, diretor do departamento de Educação Ambiental (DEA) e Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, que falou sobre a retomada das políticas públicas de educação ambiental e dos programas que vêm sendo implementados pelo governo federal. Ressaltou o importante papel da comunicação social nos programas de educação ambiental, a necessidade de pactuar com a humanidade para produzir uma mudança cultural e os “5 A’s” fundamentais para a vida no planeta: Ar, Água, Alimento, Abrigo e Afeto. Ao final de sua fala, propôs que o tema fosse discutido em grupos e as sugestões fossem anotadas e compartilhadas com os outros grupos posteriormente. O público extremamente qualificado pôde trazer alguns exemplos de atuações na área, debatê-los e apresentar uma síntese das propostas. Denise Amador, uma das organizadoras do evento, conta que a semente dessa oficina no Plante Rio foi plantada e já reverbera em ações pós-evento, como uma reunião on-line com os participantes e outras pessoas que pretendem buscar uma maior articulação entre os grupos da agroecologia, do fórum climático e articulação ambiental. Marcos Sorrentino endossou todas elas e se disse aberto a levá-las adiante, e necessário um projeto bem elaborado e articulado para que possa apoiar política e financeiramente.

Marcos Sorrentino

A Cozinha das Tradições, que promoveu um almoço diversificado e saboroso no espaço da Escola Superior de Design Industrial (ESDI), também trouxe frutos e ânimo para seguir propondo esse tipo de evento que mistura a gastronomia e a tradição culinária ancestral dos terreiros, aldeias e quilombos. “Nós regamos essa semente e demos força para essa ação que já vinha se consolidando. Nós confiamos e mobilizamos, e isso, certamente, vai reverberar muito mais. Na área da ESDI foi feito um mutirão agroflorestal, então na prática temos uma área plantada e manejada por muitas mãos”, conta Denise.

Na Cozinha das Tradições foram servidos pratos preparados por várias cozinheiras e cozinheiros

Na parte da tarde, a Roda de Conversa na Arena da Fundição Progresso com o tema “Estratégias para Adaptação e Mitigação Climática” teve a participação de Fabiana Penereiro (Mutirão Agroflorestal), Celso Sanchez (GeaSur – UNIRIO), Eduardo Seoane (EMBRAPA Florestas), Pierre Martin (PUC Rio), Adriana Schneider (UFRJ e Muda Outras Economias) e Ivana Bentes (UFRJ e Mídia Ninja), com mediação de Beto Mesquita (BVRio). A conversa trouxe reflexões, por diversos pontos de vista, sobre o enfrentamento à crise climática, apresentando alternativas que conciliam natureza, tecnologia e justiça social. Algumas soluções propostas citam a união de forças nas esferas da educação, agroecologia, restauração ambiental e comunicação.

Integrantes da Roda de Conversa “Estratégias para Adaptação e Mitigação Climática”

À noite, o tema central da roda de conversa foi a agroecologia no enfrentamento às mudanças climáticas e contou com os palestrantes Dênis Monteiro, Jaime Lima Franch, Paulo Petersen e Denise Amador. Dênis apresentou os resultados do projeto “Afluentes do Rio”, que traz dados estatísticos interessantes de diversas iniciativas agroecológicas que garantem e promovem a segurança alimentar. Os dados sobre essa pesquisa que reúne histórias, informações e dados sobre agroecologia podem ser acessados no link www.agroecologiaemrede.org.br. Jaime Franch destacou o impacto positivo das ações coletivas e colaborativas de manejo agroflorestal que revitalizam as dinâmicas naturais das florestas e das comunidades que dependem delas. No intervalo foi servido um lanche nutritivo e biodiverso preparado a partir de ingredientes locais pelo Coletivo Mulheres em Ação da Penha, em que elas reafirmam a importância da soberania alimentar e do enfrentamento das desigualdades socioeconômicas. Paulo Petersen encerrou as apresentações falando sobre soberania alimentar e das primeiras vítimas das mudanças climáticas, que são as comunidades em situação de vulnerabilidade social.

Denise Amador

2º dia do Plante Rio 6ª edição

A programação do segundo dia do evento foi mais intensa e diversificada, o objetivo foi de promover atividades de formação, culturais, feira de produtos orgânicos e artesanais, e trocas de experiências além das rodas de conversa, e com isso agregar público ao evento. Vários espaços do Centro Cultural Fundição Progresso foram ocupados com espetáculos; exposições; oficinas; almoço agroecológico; ensaio aberto da Sinfônica; contação de histórias; lançamento de livros; lançamento da Carta Climática e Agroecológica; Cortejo do Plante Rio; e encerramento com show da banda Afrojazz e abertura do #Estudeofunk.

Numa das rodas de conversa intitulada “Que clima é esse?”, quatro mulheres de diferentes áreas discutiram o colapso provocado pela degradação ambiental e sua repercussão em questões territoriais e socioeconômicas. O impacto em comunidades vulneráveis foi falado por Beatriz Alves, ativista do Coletivo Martha Trindade, quando compartilhou sua experiência e luta no bairro de Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro. Segundo ela, o meio ambiente e a comunidade foram totalmente impactados com a instalação de uma siderúrgica no local, o desvio de rio, contaminação da Baía de Sepetiba e emissão de partículas que afetam a saúde dos moradores. “Nós temos uma lei municipal que institui a política municipal do clima e cria metas para reduzir a emissão de gases do efeito estufa. (…) A lei estipula no artigo 6° que as emissões das empresas do distrito industrial de Santa Cruz não sejam contabilizadas e se não contabilizamos quem mais polui, é óbvio que o valor será baixo. Se não contabilizamos onde está a maior siderúrgica da América Latina, além de outras indústrias, não estamos contabilizando nada. A percepção que temos é que as pessoas pensam que esse é um problema só de quem mora na zona oeste.(…) É um problema muito além dos moradores de Santa Cruz, é um problema de todos nós. É necessário nos unirmos e lutarmos em conjunto (para revogar esse artigo)”, diz Beatriz Alves.

Beatriz Alves e Nitxinawã Pataxó
Peformance de João Artigos na Roda de Conversa

“Minha avaliação é que o evento como um todo foi muito bom! Há um processo de amadurecimento, porque tem sempre o que aprender nos processos de produção e concepção, mas o Plante Rio deixou uma semente para ser muito mais que um evento e sim um movimento. Que articula e reverbera entre os grandes momentos, que são os encontros, e as ações nesse meio tempo”.

Denise Amador – Plante Rio, Arte na Terra e Mutirão Agroflorestal

As organizadoras perceberam que há um potencial de articulação que pode ser melhor aproveitado no lançamento da Carta Climática, com o engajamento de mais setores ligados às políticas públicas, e na programação cultural, trazendo mais artistas ligados às pautas ambientais. Tudo isso já pensando no próximo Plante Rio e nas possíveis articulações com esses grupos, escolas públicas e particulares do Rio de Janeiro, que podem entrar na concepção do projeto.

Espetáculo Infantil “Dando Ouvidos”, com Angélica Gomes
Oficina Alimentando Ideias com Alimentamente
Mutirão Agroflorestal na ESDI
Apresentação do Boi de Luz de Lumiar

Denise Amador, conclui dizendo da potência e da alma pulsante do Centro Cultural Fundição Progresso, que ecoa a cultura da terra e socioambiental. “Estamos numa grande crise de valores e civilizatória que precisamos de uma mudança cultural. Nada melhor que um Centro Cultural para ecoar e mobilizar essa mudança. É muito fértil que a Saúva esteja confiando, acreditando e incentivando efetivamente. Sentimos que precisamos mobilizar e captar outros apoios e recursos também”.

Durante o evento foi criado um grupo de trabalho com estudantes de jornalismo e áreas afins que fizeram a cobertura das rodas de conversa, oficinas e apresentações. As matérias produzidas, sob a supervisão da Clara Lugão e Matt Viera, assessores de imprensa da Fundição Progresso, estão no blog da Fundição Progresso e podem ser acessadas através do link: https://fundicaoprogresso.com.br/Blog. As fotos no blog e nesta matéria são de Guilherme Berriel e Antônio Stewart.

A redação criada para o evento produziu diversas matérias que estão no blog da Fundição Progresso

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