O projeto Game Nós Juntos foi reativado ao mesmo tempo que as atividades na ONG Educar+ (www.educarmais.net). A brincadeira educativa para as crianças é escolher um livro e, a partir da leitura, criar narrativas para os jogos propostos. Ao longo desse processo, elas vão somando pontos que são contabilizados ao final com recompensas na moeda complementar Muda. De posse das moedas, elas podem trocar por produtos ou experiências. Em 2021, foram atendidas trinta crianças na Educar+ e, para 2022, a previsão é de dobrar a capacidade de assistência. Neste primeiro semestre, trinta crianças participam das atividades educativas e de leitura; no segundo semestre, serão mais trinta. As dificuldades relacionadas à leitura sempre foram evidentes no Complexo do Chapadão (Bairro Anchieta – RJ) e os efeitos da pandemia agravaram essa percepção entre os gestores da ONG.
Ana Caroline Santos, pedagoga e gestora do Educar+, conta que tem muitas expectativas nesse retorno às atividades devido ao processo de vacinação e ao número de crianças e jovens atendidos. A ONG tem também realizado campanhas internas estimulando a vacinação de crianças e adultos, e propondo que compartilhem em seus grupos de whatsapp.
Metodologia que une o virtual e o real
Ana Caroline detalha todo o processo lúdico-pedagógico que foi desenvolvido pela equipe do Educar+ e a parceria com a Rede Muda Outras Economias (www.muda-oe.com), onde as recompensas pelos desafios de leitura são contabilizadas: “As crianças entram num universo gamificado onde são os personagens; e a cada aula são propostos desafios relacionados à leitura e questões sociais como auto-conhecimento, cidadania, meio ambiente e futurismo. (…) Assim, são realizados vários desafios com o intuito de desenvolver a identidade, sentimento de pertencimento, de se entenderem como agentes participantes da construção da sociedade como um todo; e tudo isso parte desse jogo com a leitura”.
Novas perspectivas e mudança nas recompensas
O mais interessante para a gestora do Educar+ é que, após um ano de isolamento social, as crianças passaram a abrir mão de produtos como fones de ouvido e passaram a escolher passeios à praia, parques ou museus, pois tinham necessidade de sair do contexto que estavam restritas.
Essa troca de produtos por experiências também gerou oportunidades para conhecerem outros lugares, obras de arte e artistas. E foi a partir de uma visita a um Museu que uma delas não parou mais de desenhar. Isto provocou surpresa na mãe, porque a criança estava desenhando em todos lugares que podia, incluindo todos cadernos e paredes.
Uma das jovens do projeto, escreve diários e histórias de uma maneira muito particular. Para Caroline, ela já é uma artista porque narra as próprias histórias e coloca sua perspectiva na escrita; ela desenha, lê muito, mas sempre foi muito sozinha e agora está socializando um pouco mais. Ana Caroline conta que “por sempre estar no mundo dela, acabou não fazendo muitas amizades e está nesse processo de socialização, sem forçar a barra”.
Esse ano, o número de crianças atendidas pela ONG aumentou e os gestores perceberam que as crianças estão precisando ainda mais de atenção. A organização da ONG conhece a realidade das crianças do Complexo do Chapadão, mas ainda se assustam com crianças de 10, 13 anos de idade que não sabem ler nem mesmo conhecem as letras. Caroline questiona: “se não houver qualquer tipo de intervenção, de oportunidades, o que vai ser delas? Algumas delas entraram no projeto e tem essas chance, mas, e as crianças que não tem essa oportunidade?”