O Mutirão da Escola Comunitária Cirandas 2022, realizado aos sábados desde o dia 07/05, veio com objetivo de promover a limpeza, revitalização e a construção de um novo parquinho para as crianças do projeto. Mas ele também traz, nestes quatro finais de semana, até agora, aprendizados que vão além do cuidado com as áreas físicas da escola: ao colocar pais e colaboradores trabalhando em prol do bem comum, a escola reafirma seu caráter comunitário, onde a participação da comunidade nas decisões e no dia-a-dia se dão de forma efetiva.
E assim tem sido os sábados das últimas semanas, com trabalho, colaboração, organização, cuidado e construção de benfeitorias para deixar a escola mais bonita e prazerosa para todos. Jussara Andrade, diretora da escola, conta que o Mutirão, já realizado anteriormente para a mudança da área da horta e construção de uma pracinha de leitura, agora é feito para reorganizar a escola e os espaços após as fortes chuvas de abril; e também para construir um novo parquinho de madeira. Essa demanda surgiu com a chegada de 30 novas crianças à escola em 2022.

Construção coletiva de benfeitorias e conhecimentos
Para desenvolver o projeto estrutural e coordenar a construção do parquinho, a escola contratou o marceneiro Luciano Oliveira Pinheiro e contou com o desenho inicial feito Sr. Yuri, pai da aluna Liz. Jussara explica que “essa vontade existia dentro da comunidade mas não tínhamos noção de quantidade de materiais e de onde partiríamos. (…) tínhamos dificuldade nesse planejamento, na logística de ferramentas, materiais, e procuramos o Luciano. Ele trouxe todo o conhecimento pra nos auxiliar e orientar nos mutirões”.
Além da construção do novo parquinho de madeira e da pintura do antigo, as equipes do Mutirão se organizaram e se dividiram entre cozinha, para preparar a alimentação dos grupos de trabalho; faxina, que realizou a limpeza e organização da escola, de um depósito e organização do espaço de leitura.

“Estamos aproveitando esse momento pra construir o novo espaço do parquinho para as crianças, mas também pra deixar a escola mais linda e motivadora; pra quando (as crianças) chegarem aqui se encantarem ainda mais com o nosso espaço”.
Jussara Andrade – Diretora da Escola Cirandas
A verba para a construção do parquinho foi realocada dentro da previsão orçamentária anual e as ferramentas foram cedidas pelo Sr. Luciano e pelas famílias dos alunos. “As coisas não vão ser entregues totalmente prontas, eles (familiares e estudantes) se sentem fazendo parte dessa construção; (…) nos conscientizamos de que é uma escola comunitária e de que precisamos construir todos juntos”, se orgulha Jussara.
Prática pedagógica adaptada a cada realidade
Ainda segundo a diretora da Cirandas, a atividade do Mutirão vem de encontro às práticas pedagógicas que exercem: acreditar que todos, seres humanos, tem características próprias, formas, dificuldades e habilidades únicas. “E ver essas atividades acontecendo na prática, no passo a passo, é de suma importância: a cada dia que os alunos chegam na escola e vêm que está diferente, que teve uma experimentação, mão de obra, pessoas, sentimentos envolvidos naquele parquinho, tudo isso tem um valor enorme! Isso só fortalece a nossa prática pedagógica, porque o conhecimento não é entregue, ele acontece nas vivências”, explica Jussara.
Ela conta também que a escola se inspira e bebe em várias linhas pedagógicas para ver o que se encaixa na realidade daquela comunidade e grupo, se inspirando em Paulo Freire e José Pacheco. “Dentro da nossa pedagogia, vamos trabalhando a construção do conhecimento através dos projetos de pesquisa. Onde eles (alunos) se deslumbram com algum tema, desenvolvem suas pesquisas, agregando teoria e prática”.
“Me sinto orgulhosa de fazer parte dessa comunidade e da Cirandas porque vemos que as coisas acontecem (…) da melhor forma, dando possibilidades a todos e todas, sem limitação. Eu vou chegar no que eu posso agora, você vai chegar depois, mas estaremos juntos em algum momento. Essa é a liberdade que temos em trabalhar na escola Cirandas e fazer com que as crianças acreditem nessa vivência e nessa escola que é possível”.
Jussara Andrade

Aprendizados pandêmicos
Com a volta às atividades presenciais, apesar da 2ª dose da vacina em crianças de Paraty estar abaixo de 30%, a equipe da escola percebeu que as crianças precisavam de cuidar das relações e dos sentimentos. Foram dois anos em casa, sem se relacionar com outras crianças, sem compartilhar sentimentos. Jussara fala da dificuldade para tratar desse assunto, porque as crianças foram as maiores vítimas pois não sabiam como lidar com as emoções, com a falta da rotina escolar e horários. Houve uma ruptura do cotidiano.
Para reduzir estes impactos negativos, a primeira coisa foi acolher as crianças e cuidar das relações dentro da comunidade escolar e familiar. O papel das famílias foi fundamental também: os educadores só conseguiram avançar até aqui na condução do trabalho educativo, porque (familiares) vestiram a camisa e entenderam que tem de apoiar e estar juntos de todo o processo de aprendizado e recuperação do tempo em isolamento. A equipe pedagógica (professoras especialistas, tutores, coordenadora e diretora) realizaram vários atendimentos às famílias porque os pais também estavam cheios de indagações e questionamentos.
“Temos visto pesquisas mostrando como as crianças e adolescentes não estão sabendo lidar com emoções, com o outro e de saber ter responsabilidade com o todo. Estamos aqui pra fazer isso, o melhor pra todos”, conclui Jussara.