Topo

Manejo de podas traz mais luz e nutrientes para o cafezal da Fazenda São Luiz

A fim de potencializar a produção agroflorestal de café na Fazenda São Luiz (São Joaquim da Barra/ SP), de janeiro a fevereiro foi realizado um manejo de podas, que teve a colaboração do Pedro Mangos Zocchi, a visita da Patrícia Vaz (agrônoma, gestora do Sítio Diversitha e coordenadora do núcleo Diversitha do Mutirão Agroflorestal na Serra da Mantiqueira), sob a coordenação e também a mão na massa do Rodrigo Junqueira (agrônomo, gestor da fazenda e coordenador do núcleo São Luiz do Mutirão Agroflorestal). Ele nos conta que o objetivo das podas é criar um sistema de produção que tenha dinâmica semelhante aos sistemas naturais. A Fazenda São Luiz está localizada em uma região de floresta estacional semidecídua, no nordeste do estado de São Paulo, com estação seca bem definida e com grande parte das árvores que perdem folhas ocupando essa comunidade vegetal. “É uma estratégia do ecossistema de economizar água e nutrir o sistema através da perda de folhas, que vão enriquecer e nutrir o solo. Isso também proporciona luz para espécies que vivem no sub-bosque dessa floresta”, explica.

A composição de espécies, na área de plantação do café agroflorestal da fazenda, tem muitas árvores ocupando o estrato alto, o andar de cima, que barram a entrada de luz solar e, consequentemente, dificulta a fotossíntese nas plantas do estrato baixo, como o café.  Lá, no sistema de agrofloresta, foram plantadas árvores de grande porte, como Teca, Mutambo, Tamboril, Barú, Abacateiro, Gliricídia e Samaúmas, Jaracatiás, Ipês e Palmeiras. No estrato médio, várias frutíferas: Fruta do Conde, Pitangas, Uvaias, Pinha e Laranjas. No andar de baixo, está o café, acompanhado do Limão Cravo, e, no andar rasteiro, gengibre, açafrão, trapoeraba e alguns capins.

Baru (esquerda) estrato alto e Jaracatiás (com escada) estrato emergente, que necessita sol pleno. Depois da poda, os emergentes devem ocupar menos espaço quando adultos. Este foi um dos motivos para podar a copa da árvore.

Fortalecimento dos processos naturais

O pé de café é originário das regiões altas da Etiópia, onde também existe uma vegetação que perde folhas. Ele tende a esse funcionamento que se auto-poda, com a queda das folhas fazendo a nutrição do solo em determinado momento do ano. Na fazenda São Luiz, o café foi plantado junto de outras plantas que aceitam poda e tem um ciclo de vida mais longo (50 a 70 anos): quando são podadas rebrotam com facilidade, fazendo novamente a fotossíntese. Por isso, no período da colheita de café, de maio a junho, a poda é realizada em árvores que ficam por cima do café. Assim, os galhos e folhas cortados retornam para o solo e a luz do sol chega nos pés de café, trazendo dois benefícios: matéria orgânica de volta ao solo e luz.

“Quando entramos com essa matéria orgânica, queremos falar para a sociedade que a comida desse café é gerada pela própria floresta. (Também) nós tentamos eliminar todos recursos que venham de fora: não queremos mais moer rocha calcária para colocar no solo porque através da micro-vida do chão e também das minhocas, vamos acrescentar cálcio no sistema e ajudar a regular ou elevar o pH”.

Rodrigo Junqueira, da Fazenda São Luiz

Através desse processo natural no solo, das transformações orgânicas, o fósforo fica disponível não só para o café mas para todas as plantas e seres vivos daquela área. Os fatores mais importantes aqui são tentar criar um sistema auto-suficiente em termos nutricionais e também um sistema em que entre luz no momento em que o café precisa. Isso se chama processo de indução floral: um período com horas de luz alavancar o florescimento do café; e também o período certo para disponibilizar os nutrientes no solo tropical, com folhas, galhos e paus, estimulando a microbiologia no terreno.

O processo de decomposição da matéria orgânica é feito da forma mais natural possível, com planejamento da área, combinando espécies que tenham tempo de decomposição diferentes e mantendo ciclos de transformação da matéria orgânica de maneira rápida, média e lenta.

Após a poda das árvores mais altas, o solo fica totalmente coberto de folhas e o café, assim como as demais plantas de estrato médio, recebem a luz do sol e nutrientes. Essa abertura promove de 60 a 80% a mais de luz .

A Agrofloresta da São Luiz

Em 2004, numa antiga área de pasto da Fazenda, foi feito o desenho de um pomar comercial com linhas concentradas de frutas: um vão mais aberto de cultivos anuais e uma linha com bananas, abacate, manga e cítricos. Em 2010, foi introduzido o café nesta área, mudando o desenho do pomar para criar uma floresta produtiva, um sistema de produção que tem uma estrutura de floresta e tem produção para nós, com produtos que podemos achar no supermercado; e o café ficou no estrato baixo desta floresta. Lembrando que toda floresta nativa já é produtiva: esfria o planeta, cicla os nutrientes, coloca água para os lençóis de água, fornece alimento e matérias primas para o ser humano, cria muitos outros seres (biodiversidade), entre outros. A introdução deste sistema e o manejo ao longo dos anos trouxe diversos aprendizados, como o momento certo da poda e as plantas mais adequados para formar a agrofloresta com produção de café.

Maquinário e qualificação do café

Junqueira conta que investiram numa descascadora de pequeno porte para fazer uma pré-limpeza do café. Agora, vão investir numa classificadora para acabar de limpar os grãos e separar por peneiras: quando se leva um lote de café para torrar que tenha grãos do mesmo tamanho, ganha-se na qualidade. “Quando o lote tem sementes grandes e pequenas, podemos torrar demais as pequenas e as grandes ainda estão precisando de mais torra. Pra quando chegar no torrador de Franca (SP), ele chegue mais limpo e classificado”. Isso dá mais valor à produção da Fazenda São Luiz, algo muito importante hoje, quando o mercado exige mais capricho no trabalho de seleção do tamanho, limpeza e torra.

Para mais informações acesse: www.artenaterra.com.br

Compartilhar: