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Laboratório Terra Orgânica une compostagem a agrofloresta em reflorestamento e educação ambiental

A CSAA (Comunidade que Sustenta a Arte e a Agroecologia) Laboratório Terra Orgânica é uma central de compostagem comunitária localizada em Florianópolis/SC que atua desde 2014 e atende, principalmente, a SEOVE (Sociedade Espírita Obreiros da Vida Eterna), uma associação sem fins lucrativos que cuida de idosos e crianças em situação de vulnerabilidade. Além de coletar os resíduos da SEOVE e de residências, o Terra Orgânica busca também o resíduo orgânico nos P.E.V.s, Pontos de Entrega Voluntária. O Terra Orgânica é também um modelo de venda cestas de alimentos orgânicos que propõem uma aproximação entre coagricultores (consumidores) e agricultores.

A proposta da Terra Orgânica vai além de venda, por mensalidade e sazonalidade, de cestas de produtos orgânicos: o projeto desenvolve uma comunidade que atua em prol de um interesse comum: consumir alimentos agroecológicos produzidos em um sistema que regenera a Terra, num modelo que é pensado desde a produção até o descarte, com a compostagem. 

Os PEVs espalhados no município retiram os resíduos dos aterros sanitários e os transformam em adubo
Os alimentos produzidos também são oferecidos na plataforma Muda
Visão panorâmica da horta na SEOVE

Há males que vêm para o bem

Em 2018, o Laboratório começou a fazer compostagem em um terreno ao lado de um residencial, no lado sul da Ilha de Florianópolis. Os moradores levavam os resíduos orgânicos para a produção do composto e, após alguns anos, como conta Edson Prado, um dos gestores do projeto, tiveram a ideia de fazer uma pequena horta que pudesse ser compartilhada com moradores dali. Em uma área de 200m2, o composto produzido era utilizado para a produção de hortaliças de curto tempo. Entretanto, alguns moradores do residencial passaram a divergir da utilização daquele espaço para esse fim.

Apesar do município ter uma lei que incentiva a compostagem de resíduos em microrregiões com meta de lixo zero até 2030, os gestores optaram por não insistir com o projeto naquele espaço. Em sequência, um dos integrantes do Terra Orgânica, Roberto Mello, ex-aluno de Ernst Götsch (agricultor e pesquisador suíço, formado em ciência genética e criador da agricultura sintrópica) apontou para um espaço ocioso na SEOVE.

Os integrantes do Terra Orgânica e voluntários tiveram o ânimo renovado com a mudança para o novo local de compostagem, a SEOVE

O Laboratório agarrou a oportunidade e uniu forças com a associação para continuar com a compostagem, a horta e promover o reflorestamento do parque que abriga a entidade. Dentro da SEOVE, além do Lar de Idosos e opera também uma creche que atende crianças de até 6 anos de idade. E esse contato com as crianças estimulou os gestores do projeto a desenvolver uma pedagogia de ensino agroecológico, com a qual já capacitaram dez professores que atendem os pequenos de lá. Edson Prado explica que as crianças aprendem todo o processo da compostagem: do recolhimento dos resíduos, passando pela compostagem, o adubo, os canteiros e as mudas até chegar ao alimento.

O contato com as crianças despertou o desejo de criar projetos de educação ambiental para elas e professores
A curiosidade infantil é o início da caminhada da construção de conhecimento

“Essas crianças terão a oportunidade de ver todo esse ciclo sendo fechado. Já atendemos três escolas e grupos de pais, que vão nos visitar por ser um espaço comunitário. (…) Então, nós estamos tendo essa experiência muito mais rica, com muito mais circulação de pessoas com vontade de participar, dentro de um espaço que vibra esse tipo de trabalho comunitário com pessoas engajadas”.

Edson Prado, CSA Laboratório Terra Orgânica

Essa nova parceria da CSAA com a SEOVE deu mais energia para o projeto, que em três meses atingiu metade da meta de coleta de resíduos do ano. Com isso, passaram a recolher também os resíduos de três escolas, da cozinha do Lar de Idosos e da comunidade em geral nos PEVs (Pontos de Entrega Voluntária).

Tecnologia que une compostagem e Agrofloresta

O Laboratório Terra Orgânica desenvolveu também um sistema de linhas de compostagem aplicadas diretamente em uma área de reflorestamento. 50% da área cedida pela SEOVE será utilizada para a criação de um bosque de árvores frutíferas e nativas vindas de um programa de distribuição de espécies nativas da região de Florianópolis. “Estamos com esse programa e vamos fazer um pomar não somente delas; vamos colocar bananeiras e algumas (frutíferas) que se desenvolvem mais rápido para aproveitar o espaço da agrofloresta. Mas o foco nessa área bem grande é acelerar o processo das frutíferas ou passarinheiras, porque tem muita variedade de pássaros aqui”, explica Prado.

O processo acontece fazendo a leira da compostagem diretamente no local onde será a linha de plantio. Os resíduos são acumulados na leira durante um mês, depois esperam três meses, no máximo, para ela ficar pronta. A leira é revirada e já pode receber as mudas por cima. Em seis meses, já existia uma linha de árvores plantadas nesse canteiro bem alto, largo e com bastante palha para criar entradas de ar.

Esse processo inovador, de plantar mudas de reflorestamento diretamente nas leiras de compostagem, tem tido muito êxito

A partir disso, eles começaram a pensar que poderiam reflorestar centros urbanos de maneira muito mais rápida que se imaginava, usando métodos da Agricultura Sintrópica, que talvez não sejam tão agroflorestais num primeiro momento, mas, com o passar do tempo, se torna um cultivo Agroflorestal. Essa primeira área reflorestada já apresenta um ótimo desenvolvimento e já estão planejando a expansão em uma outra área possível.

“Nós reviramos esse canteiro e entramos com as mudas, nenhuma foi rejeitada ainda, pelo contrário, elas têm ficado muito felizes. Hoje a horta está produzindo bastante, além das mudas que plantamos semanalmente, para poder produzir as 20 cestas que entregamos”, conclui Edson.

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