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Imersão de Artesanato da Jornada da Mata mobilizou jovens em aprendizados diversos em três oficinas

Matéria publicada em 30 de setembro de 2024.

Na manhã ensolarada de um sábado, dia 24 de agosto, aconteceu a quarta imersão da Jornada da Mata, no Rio de Janeiro. O tema, Artesanato, foi dividido em duas etapas, realizadas em casarões históricos da cidade. Na primeira, no período da manhã, aconteceu uma oficina “Pedagogias das Águas, Encruzilhadas fluidas entre poéticas e políticas”, com a professora Cristiane Souza, no espaço do instituto Inclusartiz, na Gamboa.

E à tarde, o grupo foi até o Museu da História e da Cultura Afro-brasileira (Muchab), onde foram realizadas outras duas atividades: a Oficina de Macramê, ministrada por Vânia Soares, e a Oficina do Bebê Abayomi, com a artista Lena Martins. Participaram da imersão um grupo formado por 14 bolsistas, alguns convidados e também pessoas que compraram ingressos pela plataforma da Rede Muda.

Na parte da manhã, a professora Cristiane Souza, que faz parte do Centro de Tradições Ilê Asé Egi Omin e da Rede Muda, trabalhou os sentidos e a materialidade, trazendo referências de ancestralidades e da poética das águas.

A oficina teve três momentos: no início, o despertar dos sentidos através do corpo, para colocá-lo num estado criativo. Em seguida os participantes trabalharam com argila, a parte do fazer, já com os sentidos aguçados. E por fim, a escrita, em que os alunos desenvolveram várias formas de grafia, com textos, poesias e desenhos.

Poesia e materialidade

“A gente chegou na argila abordando as águas em um sentido poético. Teve toda uma preparação, uma abordagem muito pessoal pra cada pessoa, ‘como era a água para aquela pessoa, que água ela trazia. A argila trouxe um sentido de materialidade para esse aspecto poético da água, e de envolver o corpo para além da questão somente prática do fazer. E depois a abordagem poética através das escritas, quando coisas belíssimas aconteceram: textos, poesias, desenhos. Uma oportunidade para que eles pudessem se expressar, e pensar nas maneiras como a gente se inscreve no mundo”, definiu Cristiane.

Ela diz que o trabalho foi muito interessante, não só pelos resultados práticos, já que cada pessoa saiu da oficina com algo que confeccionou. “É muito bom o retorno também pelo contato com essa materialidade, porque a argila é um material muito acessível e ao mesmo tempo, tão longe do nosso cotidiano. Ela faz despertar os sentidos e trabalhar com o corpo de outras formas”, observa.

A argila é mesmo especial, pois tem a textura da matéria, ao mesmo tempo em que contêm a água. “Ela é tão básica, simples e fácil de achar, mas a gente, tão envolvido nesse contexto urbano, se afasta desses estímulos que poderiam fazer parte do nosso dia a dia. E essas experiências, tão enriquecedoras e lúdicas, acabam ficando pra trás, como numa memória da infância, por exemplo”, acrescenta a professora.

Preservação e valorização da natureza

À tarde foram ministradas duas atividades: a primeira foi a Oficina de Macramê, ministrada por Vânia Soares (Ms. Vee). O projeto escolhido foi um cachepot para plantas suspensas. De acordo com ela, essa atividade permitiu a ela não só compartilhar sua paixão pelo artesanato, como também contribuir para a preservação e valorização da natureza.

“Desde o primeiro momento, senti uma conexão especial com os participantes, muitos dos quais eram iniciantes no mundo do macramê. A energia no ambiente era contagiante, com todos motivados a aprender e explorar sua criatividade”, disse Vânia.

De acordo com ela, um dos aspectos mais gratificantes foi observar como os participantes, muitas vezes tímidos no início, se transformaram à medida em que avançavam nas técnicas. “Com cada nó, vi sorrisos se espalharem e um sentimento de realização tomar conta dos participantes. O macramê é uma forma de expressão que, além de artística, requer paciência e dedicação, o que se refletiu no entusiasmo de todos ao ver suas peças ganharem forma”, contou.

Bem estar através da arte

Ao final da oficina, cada participante levou para casa não apenas uma peça de macramê, mas também uma experiência rica e transformadora. “Fiquei imensamente grata pela oportunidade de fazer parte do Projeto Jornada da Mata e por poder compartilhar um pouco do meu amor pelo macramê. Acredito que iniciativas como essa são fundamentais para fortalecer nossa conexão com a natureza e promover o bem estar através da arte. Ver a criatividade e a união que brotaram durante aquele dia foi, sem dúvida, a melhor recompensa”, acrescentou a professora Vânia Soares.

Na outra atividade, a Oficina do Bebê Abayomi, os alunos aprenderam com a artista maranhense Lena Martins uma história muito interessante, apropriada pelo senso comum – a história de Abayomi, uma boneca preta sem corte e sem costura, que se tornou um dos símbolos do empoderamento feminino e do movimento negro.

Durante a oficina, Lena conduziu os participantes a confeccionar um bebê negro a partir de retalhos de malha, tecidos e ervas aromáticas, com brincadeiras e músicas. A boneca Abayomi foi criada em 1987, tendo como características a cor preta e o reuso de retalhos de tecido e malha de algodão, sem cola ou costura, fazendo dela uma criação única.

“Eu considero essa oficina o meu melhor trabalho. Eu participo pela segunda vez da Jornada da Mata com muito gosto. É muito prazeroso, por causa do acolhimento, da presença real das pessoas durante os trabalhos, pessoas interessadas nas práticas e vivendo o momento. Pra mim foi maravilhoso, eu gostei bastante”, disse Lena.

Novos aprendizados e vivências

Uma das gestoras do Jornada da Mata e criadora do Arôle, um microempreendimento ecológico, a bióloga Luna Pesce conta que a imersão envolveu os participantes de forma muito positiva. “Os alunos curtiram bastante, gostaram da localização, elogiaram os espaços escolhidos, que realmente são muito acolhedores. Eles também puderam assistir às exposições no Mucahb, um museu que é referência importante na cultura do Rio. Foi um dia muito produtivo e acredito que todos ficaram felizes com os aprendizados e as vivências”, disse ela. A artista maranhense Lena Martins fez questão de elogiar a organização do Jornada da Mata. “A Luna é muito organizada, muito objetiva e direta, e eu fico bem contente de trabalhar com pessoas assim”, afirmou.

Uma das bolsistas presentes, a estudante de Pedagogia Raquel Dias de Lima, adorou participar dessa imersão. “Foi muito mágico, porque me coloquei à prova em várias habilidades manuais que eu não dominava. Foi divertido tentar, errar e recomeçar, até acertar. Foi muito especial fazer a Boneca Abayomi com a Lena Martins, muito bom ouvir a história verdadeira, vinda de quem a criou. E foi muito mágico poder criar o meu bebezinho Abayomi, que eu guardo com muito carinho e com muito amor. Foi um momento muito especial pra mim”.

A Jornada da Mata é um curso de envolvimento pessoal para jovens e adultos, coletivo e itinerante. Desde 2023, quando o projeto se iniciou no Rio, são promovidas imersões com diferentes possibilidades transformadoras no campo ambiental e social. Um dos principais objetivos do projeto é o entendimento de práticas agroecológicas e as possíveis conexões para as melhores escolhas para o coletivo, trazendo ferramentas eficientes e discussões filosóficas.

Por Paulo Boa Nova.

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