Com o passar do tempo, crianças que participaram e foram atendidas pela ONG Educar+, no Complexo do Chapadão/Rio de Janeiro, já se tornaram adolescentes e vivem um outro momento no projeto. De crianças atendidas e amparadas pela ONG, elas passaram a contribuir com várias atividades cotidianas com as crianças e equipe, e isso também é interessante do ponto de vista pedagógico e de formação desses jovens. Nessa fase de transição da infância para a pré-adolescência e chegando à adolescência, as gestoras da Educar+ perceberam que elas ficavam ociosas uma boa parte do tempo, muitas vezes interessadas somente em atividades ligadas à tecnologia. Por se dedicarem aos estudos, mas já pensando na necessidade de trabalhar e apresentando algumas dificuldades em lidar com as responsabilidades que a vida lhes trazia, as gestoras e a psicóloga do projeto resolveram criar o programa Desenvolve+. O programa foi desenvolvido pela desenvolvido pela Estudante de Psicologia Thaiane Faria Rosa e Supervisionado pela Psicologa da Instituição Bruna Luna Alves Luna de Oliveira, com o objetivo de promover não só a formação cidadã desses indivíduos, com crítica social e política, mas, através de atividades de voluntariado dentro da instituição, estimular a responsabilidade deles com as crianças e com o espaço da ONG.
Educação e autonomia
Tainá Brito, pedagoga e gestora da Educar+, conta que eles vêm uma vez por semana para uma reunião com os líderes do projeto, e dividem as funções de quem vai ajudar no lanche das crianças, na limpeza do espaço, na alfabetização, em outras atividades em sala de aula ou na parte administrativa. “Nossa intenção é fortalecer o vínculo deles conosco, que acompanhamos o seu crescimento e agora precisam ganhar mais responsabilidade não só dentro desse espaço, mas também fora dele”, explica Tainá.

Fortalecer esse sentimento de pertencimento ao projeto pode trazer um reconhecimento de que, agora, estão retribuindo e ajudando a educar as crianças mais novas e do impacto que isso pode ter em suas vidas. Apesar desse tipo de atividade já preparar esses jovens para o mercado de trabalho, esse não é o principal objetivo, mas sim desenvolver suas potencialidades, habilidades e inteligências. Tudo isso de acordo com seus desejos e um acompanhamento de uma psicóloga e um estudante de psicologia, que se reúnem com os jovens, discutem e definem quem será o líder da semana e como as tarefas serão divididas.

Uma preocupação das gestoras do programa é de levar as informações e ferramentas para esses jovens, e que eles possam utilizar esse conhecimento da maneira que quiserem em suas vidas e até no mercado de trabalho. Mas Tainá Brito conta que “ quando criamos um programa de desenvolvimento para esse jovens, eles logo pensam no mercado de trabalho, e se quiserem utilizar o que estão aprendendo aqui para o mercado de trabalho é bacana, mas queremos também que eles usem isso lá fora, no cotidiano deles na escola, dentro de suas casa e que eles realmente mudem suas perspectivas de vida”.
Oficina de Pipa
Matheus Botelho, uma criança de 12 anos atendida pela ONG, perdeu sua mãe muito cedo e hoje é criado por sua tia que está no processo de pegar a sua guarda. Matheus é um menino extremamente carinhoso, mas está acima do peso e isso faz com que ele sofra bullying de seus colegas. Quando isso acontece dentro da ONG, as educadoras logo intervêm para que todos entendam que qualquer tipo de preconceito não deve acontecer ali.



Quando viu o projeto de voluntariado, Matheus quis ajudar, mas não tinha idade suficiente, então veio dele a ideia de dar uma oficina de pipa para outras crianças. Com a ajuda das psicólogas, ele mesmo listou e comprou o material necessário, e deu a oficina no dia das Crianças. Tainá conta da importância de dar esse protagonismo ao Matheus, por ser uma criança muito especial, carinhosa e com uma história de vida muito complicada.
“(Queremos estimular) É exatamente essa diversidade, esse protagonismo e o pertencimento a esse espaço que também é deles. E eles entenderem que podem não só aprender como ensinar alguma coisa para outras crianças, e que todos os jovens envolvidos no programa Desenvolve+ tenham esse sentimento também”.
Tainá Brito – Gestora da ONG Educar+