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Débora Saraiva ativa rede de parcerias, formação e acolhimento de mulheres em Paraty

Matéria publicada em 25 de junho de 2024.

As bolsas de ativismo e o fomento do PAFE – Programa de Apoio à Formação de Educadoras e Educadores têm atuado em pessoas que fazem a diferença em seus territórios. O PAFE é um programa com mais de dez anos que apoia formações científicas, práticas e coletivas na área da educação, e as únicas contrapartidas são a realização de uma ação socioeducativa e integrar as Mesas de Trocas mensais. O PAFE já colaborou com a formação de mais de 170 educadoras e educadores em Paraty/RJ e Nova Lima/MG. Já as Bolsas de Ativismo foram criadas para dar impulso a ações que estejam em sintonia com os valores da Rede Saúva Jataí, promovendo iniciativas regenerativas e de impacto positivo em seus territórios. Débora Saraiva foi uma das ativistas que inspirou esse projeto com sua atuação em Paraty. Depois de dois anos atuando e ampliando os projetos que desenvolve na cidade, e prestes a concluir sua faculdade de Sociologia, ela conta do orgulho com o Mutuan – grupo percussivo e de dança formado por mulheres em Paraty e aponta os desafios que têm superado nessa jornada.

Após quase quatro anos fazendo o curso de Sociologia na Faculdade Uninter, apoiado pelo PAFE, Débora agora está se dedicando ao Trabalho de Conclusão de Curso e continua com o desafio de se dividir entre seus projetos sociais, educacionais e musicais: “Estou trabalhando em três turnos, mas estou ‘ralando’ e feliz que estou no meu último ano, na reta final”, confidencia. A conclusão da graduação em Sociologia tem sido de extrema importância para Débora, pois é sua primeira formação superior.

“Essa primeira formação tem um valor simbólico muito grande pra mim, que sou negríndia e lésbica, para minha família, que é de origem humilde, e por ser a primeira mulher a fazer faculdade. É uma grande vitória e alegria. Sou grata à Rede Saúva Jataí por acreditar em mim, me apoiar em minhas atividades sociais e no desenvolvimento de meus estudos para galgar outros espaços”.

Débora Saraiva – Escola Comunitária Cirandas, Bolsa de Ativismo e PAFE

Débora comenta do caráter transformador desse tipo de apoio e da responsabilidade de políticas de reparação no contexto brasileiro. Esse contexto indica a necessidade de pessoas que representem a diversidade cultural e social do país de ocuparem esses espaços de poder. “Precisamos de outras narrativas, de escutar as comunidades tradicionais, o povo da favela e da diáspora. Porque esses povos são a vanguarda do que está acontecendo e do que está por vir. As comunidades estão prontas para conviver dividindo e compartilhando. Porque se não viver compartilhando, não se vive”, afirma Débora.

Débora Saraiva foi a inspiradora da Bolsa Ativista

Em sua Tese de Conclusão de Curso, Débora pretende se debruçar e escrever sobre como a relação de rede e de apoio social entre mulheres, e em especial no caso do Mutuan, transformou e está transformando a realidade da sororidade em Paraty. Essa transformação vai além e promove o antirracismo, já que trabalha os fundamentos dos ritmos afro-indígenas brasileiros. Essa ação se tornou bastante relevante no município e Débora pretende colher relatos e mostrar os impactos positivos nas mulheres do grupo.

O grupo Mutuan começou com oficinas para 13 mulheres e atualmente está bem mais estruturado e organizado. Hoje tem em torno de 80 mulheres participando, entre psicólogas, professoras, médicas, antropólogas, faxineiras, donas de casa e percussionistas. O objetivo principal é de se firmarem como uma escola artística e de acolhimento social para mulheres de Paraty e outras regiões, com oficinas de percussão, corpo de baile com as professoras Isis Gomes e Gabriela Marques, harmonia e canto com a professora Carol D’ávila. Um dos desafios atuais é conseguir um espaço cultural para os ensaios do grupo, que é muito grande. Alguns espaços cedem eventualmente para algum ensaio específico, mas não regularmente. No segundo semestre, a atriz, compositora e bailarina baiana Cláudia Ribeiro vai iniciar o trabalho de artes cênicas, trazendo sua experiência de 20 anos no teatro para dentro do grupo. Ela também assinará a Direção Artística do Mutuan.

Com o crescimento do grupo Mutuan outras necessidades foram surgindo

Outro objetivo do ano é incorporar mulheres pretas e Caiçaras das periferias de Paraty no grupo. O movimento, segundo Débora, é de levar as oficinas do Mutuan para essas periferias, como o bairro Condado, um dos mais carentes da região. Alguns ensaios já estão acontecendo em um terreiro de Candomblé nessa favela, o Ilê Asè Omorixalá, que abriu as portas para o grupo.

O Mutuan apresentou recentemente no Palco Giratório do SESC Paraty e no restaurante Quintal de Mãe. Além disso fará um intercâmbio cultural com a Cia Negraô no Silo Cultural. No Palco Giratório, realizaram algumas apresentações, uma delas foi a estreia do espetáculo “Agô, as Iabás”, e outra com os artistas mineiros Mestre Tizumba e Sérgio Pererê. O grupo também realizou um intercâmbio com a artista Valéria Monã, do Rio de Janeiro, com o apoio e fomento do SESC.

“O tambor é só um instrumento e a tocada cura, o couro do tambor e a energia que colocamos nele é de renovação física e espiritual. Outra coisa é a rede que é formada, na pausa para o Mutuan, com a rede de caronas, de quem cuida das crianças, da comida, da volta…todas nós trabalhamos juntas para acontecer”.

Débora Saraiva – Grupo Mutuan
Foto @tiepassos
Foto @tiepassos

Siga as atividades do Mutuan no Instagram: https://www.instagram.com/mutuan_/

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