Ando num papo com o tempo, às voltas com meu tempo interno. Às vezes fico à procura do meu tempo interno primordial. Aquele que nasceu comigo, inerente ao meu ser e ao meu corpo físico. Meu tempo ritmo, meu tempo espaço. Uma espécie de auto jogo no esmiuçar de mim mesma. Mas o que seria exatamente o tempo genuíno? Mesmo que na vida embrionária, é possível desentrelaçar os atravessamentos de tantos tempos?
Certas situações, quando me dou conta, já estou neste jogo íntimo. E nesse toma lá dá cá, vou me encontrando e me perdendo, numa assimilação mista de tempos, quantitativo, qualitativo, histórico, cronológico, passado, presente, futuro… O jogo, às vezes dança, por vezes luta, vai se dando num eterno alternar de dinâmicas e pares. Tempo produtivo, tempo desfrute, tempo capitalista, biológico, tempo intenso, sutil, contemplativo, tempo quimera, tempo vívido, tempo pressão, flácido, tempo coletivo, individual, tempo, tempo, tempo… e dá-lhe ginga, rasteira e mandinga.
Se só o presente existe, preciso de um tempo presente que seja futuro, já que num instante o presente será passado. Se quem sou no presente e o que serei no futuro mora no tempo passado, então, quero aproximar o passado do presente para aninhar o futuro.
No ano passado, em julho de 2022, cientistas registraram que a Terra completou sua rotação mais rápido, 1,59 milissegundos menos que as 24 horas esperadas. Em 2020, as rotações foram completadas mais rapidamente em 28 ocasiões – na mais veloz delas, houve uma aceleração de 1,47 milissegundos.
E se o tempo da rotação da Terra for diminuindo gradualmente? “No final”, vamos dormir e acordar mais vezes? O tempo prazo vai se estender ou potencializar o tempo urgente?
Sou resistente ao tempo urgente, ao tempo pronta entrega. O tempo viral me descola do tempo dos astros, do tempo cultivo, do tempo colheita. Aprecio a ideia do relógio do sol, do encontro depois da chuva, do cafezinho na hora do canto dos pássaros. Gosto do tempo flexível, que, por vezes, meia hora parecem 5 min, e 5 min, meia hora.
Quanto mais caminho, menos tempo. Quanto mais caminho, mais tempo me habita e me liberta. Um dia de cada vez me achego no tempo companheiro, no tempo ao tempo.
Você que me acolhe e me desafia “Tempo, tempo, tempo, faço um acordo contigo” (…) “tempo, tempo, tempo é um dos Deuses mais lindos”.