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Praça, galo e caleidoscópio

Já existem outras praças parecidas, é fato, mas não para esta pólis diversa, ativista, e muito menos para esse ecossistema, mais agroflorestal que natural ou monocultor.

Em 2021, nos propusemos construir uma praça: este local de encontro de diversas iniciativas, das mais variadas áreas, multidisciplinares, ativistas, engajadas, diversas e, assim como nós, em construção permanente. Para além de ter funcionalidade e ser habitável, este projeto exigiu dos empreiteiros uma nova visão na forma de trabalhar, mais horizontalizada, mais permeável, que dialogasse com um futuro que vai se realizando entre todos os personagens desse cenário. Já existem outras praças parecidas, é fato, mas não para esta pólis diversa, ativista, e muito menos para esse ecossistema, mais agroflorestal que natural ou monocultor.

E chegamos até aqui , dezembro, com uma bela utilização desta praça desde que foi inaugurada para futuras e eternas arquiteturas: 1734 pessoas vieram, em 3703 visitas (números contados de setembro até 10/12). Destas visitas, ou passeios pela praça, 14,4% das pessoas ficaram entre 2 e 30 minutos e 27,5% ficaram mais de 30 minutos, dos quais mais de 22% acima de 01 hora. Ora, isso me permite dizer que há um bom aproveitamento do que aqui se lê, vê e ouve. A praça funciona.

Ora, ao mesmo tempo em que construímos, testamos e experimentamos a praça, evoluímos o projeto de encontros para mais locais. E adotamos o bate papo virtual No Coreto, com 3 edições em 2021 e muita gente dedicando tempo e atenção a esta nova atividade. E foi lá, desde a primeira tela repleta de janelinhas, com rostos, sorrisos, depoimentos, histórias, lágrimas e, principalmente, trocas, que bateu a epifania de que esta polis que se forma passou a se reconhecer naquele mosaico: as dificuldades, desafios, histórias, soluções e práticas de um avatar se espelhou nos demais. No Coreto passou de uma tela mosaico de avatares para um caleidoscópio. Foi olhar (e ouvir) as pessoas dali que os rostos se tornaram prismas: multifaces de cada personagem, história e iniciativa. E nos reconhecemos nestas cores que formam cada um e uma. São comuns às nossas histórias, aos nossos aprendizados e bases de construção dos futuros.

Mas, e o galo?

Bem, é neste cenário, assim, na praça, No Coreto, no reconhecimento, na escuta, no compartilhamento, que ele faz o trabalho de tecer o futuro. Assim como nós.

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.João Cabral de Melo Neto – Tecendo a manhã

Feliz 2022 e que venham muitas experiências, trocas, aprendizados a todos e todas, e luzes balão.

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