Como é o seu processo criativo? Você já parou para pensar se tem um processo que te leva a ser criativo? Ué, a criatividade tem a ver com processo? A criatividade não nasceu com a pessoa?
“Nossa, essa artista é muito criativa! Quem dera ter esse dom.”
Quantas vezes já ouvimos essa frase ou até mesmo falamos ou pensamos nela?
Já pensei muito assim no passado. Ainda tenho momentos que caio em armadilhas do pensamento e volto a uma frase como essa. Mas cada vez mais tenho aprendido que criatividade tem a ver com intenso trabalho dedicado ao assunto, a tentar dar uma resposta a uma pergunta, testar a maior quantidade de possibilidades possíveis ao meu alcance e principalmente (na minha opinião) escutar a obra (trabalho). Para aí, sim, gerar um caminho que possa ser visto como criativo.
Ter uma ideia do nada, tirar do papel e executá-la e ponto. Isso é ser criativo? Qual foi o tempo dedicado a experimentar as possibilidades que essa ideia inicial pode nos levar? Esse experimento pode te mostrar outros caminhos antes não vistos. Você os coloca em prática e surge uma solução que nem passou pela sua cabeça. Aí, uma outra pessoa passa e diz: “Nossa! Nunca tinha pensado nisso. Você é muito criativo. Queria ter esse dom.” Caramba, então, os últimos meses, anos, décadas… que fiquei em cima dessa questão, testando e voltando, não contam? Tudo se resume a um dom?
“a poesia está nas palavras, se faz com palavras e não com ideias ou sentimentos”
– Manuel Bandeira
Criatividade é sobre trabalho árduo, colocar em prática todos os dias. Criar regras, quebrar regras, expandi-las e voltar a testar. Estar em movimento e sempre. Às vezes, travamos, às vezes, estamos mais empolgados (no flow) ou, às vezes, cansados. Tudo bem, o importante é estarmos em movimento em busca de aprender, ouvir e criar.
Em 2022, comecei um grupo de estudos sobre processo criativo com um professor escocês que vive no Brasil há mais de 30 anos, chamado Charles Watson. Ele dá aula no Parque Laje, faz palestras e aulas online também. O curso tem sido muito bom para entender melhor que criatividade é um processo e não um simples dom. Talvez seja cultural, talvez sejam marcas do nosso tempo, mas estamos cada vez mais longe do trabalho manual que nos coloca no aqui agora, que nos dá respostas claras de como está indo o trabalho que estamos fazendo. Talvez, perder essa prática manual esteja nos atrapalhando de ver o lado positivo de experimentar caminhos diferentes, olhar de perto as consequências de cada escolha, sujar as mãos se conectando com o material e até sentir que as coisas levam tempo para serem feitas. Hoje, vivemos em um tempo do aqui agora com recompensas imediatas. Cada vez mais acredito que isso nos atrapalha em sermos seres mais “criativos”/exploradores.
“Para pensar fora da caixa, você precisa, em primeiro lugar, ter uma caixa!”
– Charles Watson
Geralmente, me vejo caindo na arapuca de colocar o meu EU no processo, esquecendo de olhar a obra em si e escutar o que ela está tentando me falar, seguir o caminho que a obra está me falando para seguir. Seja para resolver o problema ou criar algo novo. Criatividade tem relação com empatia para com o mundo? Empatia com o problema a ser resolvido? Empatia com a obra que está nascendo na minha frente? Se colocar no lugar dela e ver o mundo do ponto de vista dela. Meio abstrato talvez. Mas pode ser um exercício muitas vezes divertido até.
Hoje, estou nesse processo de entender o que é ser criativo. Em busca de entender os processos que funcionam para mim e principalmente entender que é um caminho. E que esse lugar aonde quero chegar será sempre na frente de onde estarei, porque ele está sempre em movimento. Aprender e criar nunca tem um “lugar” final para se chegar. Se você acha que chegou nesse lugar, talvez você tenha parado de criar. Pensar assim tem funcionado para mim. E para você? O que é ser criativo?