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Como a Agroecologia transforma os seres humanos

Na primeira coluna de 2023, Rodrigo Junqueira, coordenador e administrador da Fazenda São Luiz compartilha uma história singela: uma transformação profunda vivida a partir das pequenas trocas com a natureza.

“Eu vejo cada dia se seguindo à noite, e vejo cada noite se seguindo ao dia”

A nossa relação com a terra nos transforma diariamente. Me lembro certa tarde revolvendo o solo, podando certas plantas, cobrindo o solo, arrancando aquelas que eu não queria e, mais adiante, olhei para uma planta, a qual não conhecia, e determinei que quando chegasse nela eu terminaria meu dia de trabalho. Quando me aproximei dela para podá-la, um beija-flor se aproximou da única flor aberta e se alimentou. E eu? De boca entreaberta, fiquei maravilhado observando o fenômeno que acontecia ao vivo e a muitas cores na minha frente. Ah! Em câmara lenta. “Caramba, que planta é essa?” pensando… “Eu não conheço, não é útil para mim, eu não me alimento dela, não faço uso medicinal, não me serve”. Não Serve?

Me parece que nós temos uma capacidade enorme de realizarmos transformações. E quando realizamos essa transformação no solo para nos alimentarmos, cultivando-o, essa transformação é muito drástica para muitos seres vivos. Imaginem a mega transformação quando derrubamos uma floresta para ocupar com uma única planta, monocultura, só para nos alimentar? E as outras formas de vida, as bactérias, os insetos, as aves, a água, os minerais? Quando vou ao campo agora eu pergunto para eles: Vocês estão bem? O que vocês precisam?

Agroecologia seria agricultura e ecologia juntos? Aqui incluem, para mim, além das técnicas, o ser humano com sua cultura e seus diversos olhares sobre o espaço e a natureza. Une o ser humano, que é gregário, e suas comunidades, em torno destas práticas agrícolas. Plantar, transformar, viver, respeitando a ecologia do ambiente, das plantas, dos animais, do lugar e dos Seres Humanos que ali vivem.

E fazer agricultura em mutirão é muito bom! Nos transforma! É transformar o espaço externo e o nosso interno. Plantar em mutirão faz a gente aprender com os outros, a dividir o espaço, conseguimos realizar ações em áreas maiores, aprendemos a cultivar olhares diferentes, colhemos juntos e dividimos a colheita, aprendemos a trabalhar coletivamente. Estou em aprendizagem no trabalho coletivo. Continua me transformando.

Como conectar esse sistema agroecológico com o atual mundo econômico, financeiro? É o grande desafio. Como entrar nesse giro do dia a dia, da vida contemporânea, estou longe ainda de saber… Será que tudo o que eu tenho é imprescindível? A transformação segue… e urge.

Trabalhar a terra conforme a vida no planeta também trabalha, que é gerando mais vida, é o grande aprendizado. A fotossíntese tem a capacidade de transformar elementos em substâncias, em matéria. Mais vida nos campos agrícolas com os consórcios, mais vida no solo, mais seres humanos incluídos no campo, será que a Terra deveria ser uma propriedade privada? Ficaremos mais felizes se nesse modo de produzir, alimentarmos outros seres vivos e a nossa alma também. Esse mundo é da vida, caminhar nessa direção é o que a relação com a terra tem me ensinado muito.

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