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As redes que nos sustentam

Na coluna do mês de novembro, Fabíola Guadix relata a travessia de superação de um difícil momento de sua vida, mas, acima de tudo, a beleza das redes que de repente se ergueram para apoiá-la

Eu estava sozinha em casa, no dia 5 de julho de 2023, quando, através de uma chamada de vídeo, recebi o resultado de uma biópsia apontando que eu estava com câncer no colo do útero. Foi como se uma bomba explodisse dentro da minha cabeça e se espalhasse por todo o meu corpo. Pensamentos terríveis foram chegando junto com um “Por que eu????”

Como eu já tive tantas outras lutas nessa vida, levantei da cama, no dia seguinte, determinada a iniciar o que eu chamei de trajetória de cura. Conversei com as pessoas mais próximas e comecei a buscar o local para tratamento. Com ajuda da minha cunhada, que teve câncer de mama, fui a uma médica no Rio de Janeiro, onde mora a família do meu marido. Ainda assustada, fui colhendo todas as informações que precisava para dar entrada no tratamento pelo SUS, em um grande hospital federal de referência, o Instituto Nacional de Câncer – INCA.

Com apoio da minha família e coincidências incríveis (que eu prefiro chamar de ajuda do universo maravilhoso), após exames e primeira consulta em outro hospital, no mês de setembro, dei entrada no INCA, que tem uma unidade hospitalar basicamente para câncer no colo do útero (e que está sempre lotada). Eu estava realmente determinada a me curar e fazer tudo o que fosse possível.

Entendi toda a situação e recebi a boa notícia de que meu tratamento se iniciaria com a retirada total do aparelho reprodutor e, só após esse procedimento, saberíamos da necessidade de químio e/ou radioterapia. Isso porque o tumor ainda era pequeno e, no início da cirurgia, é feita uma biópsia no sistema linfático mais próximo ao local, com resultado imediato, para medir a presença de células cancerígenas que poderiam ter escapado. O resultado foi negativo, assim como de todas as outras biópsias feitas com material retirado. Um mês após a cirurgia, recebi a excelente notícia de que as biópsias foram negativas e, portanto, aquele câncer estava curado. Como procedimento, faço acompanhamento no INCA a cada 3 meses, que depois vai ficando mais espaçado, até completar 5 anos. Foi o melhor cenário possível e, apesar de ter sido uma cirurgia bastante invasiva, tive uma excelente recuperação.

Quem me conhece sabe que sou uma mulher de muita fé, positividade e determinação. Com certeza isso foi fundamental. Mas o que foi mais bonito nessa jornada e que sustentou toda a minha ação foram as redes. Redes maravilhosas que eu nem sabia que tinha, pelo menos não dessa forma e com tanta força. Rede de apoio e o cuidado da família que ganhei com meu companheiro, que me acolheu e me cuidou no pós-operatório; rede de amor de tanta gente que me escrevia semanalmente para saber como eu estava; rede de pessoas que nem eram tão próximas e que estavam prestes a me ajudar quando a cirurgia estava demorando para acontecer; e a rede Saúva, que me ofereceu toda segurança e tranquilidade para que eu pudesse me entregar ao meu tratamento sem me preocupar com o trabalho ou com minha remuneração. Com a força dessas redes, eu pude viver esse processo sabendo que eu estava segura, e isso tornou a minha jornada de cura mais bonita ainda! Só tenho a agradecer! A pergunta que no início foi “Por que eu?” se transformou em “Por que não eu”?

Para terminar, gostaria de lembrar a importância do SUS, mesmo com todas as falhas, e também do exame preventivo que precisa ser realizado anualmente por todas as mulheres (foi aí que iniciei a descoberta do câncer). E tenho certeza de que viver na natureza, com um ritmo de vida mais calmo e saudável, também traz força para a mente e para o corpo e para as curas.

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