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Colo da Montanha vivencia cultura indígena com atividades dentro e fora da escola

Matéria publicada em 20 de junho de 2024.

A pedagogia da escola e comunidade de aprendizagem Colo da Montanha implementa, em relação aos povos originários, uma visão de respeito, aprendizagem e práticas permanentes. Ela parte do princípio de reconhecimento das práticas inspiradoras dos povos originários e do relacionamento com o ambiente como um ecossistema vivo, observando e entendendo o impacto humano nele. Mariana Rosa, uma das gestoras do Colo da Montanha, conta que o objetivo da escola é “reconhecer, cada vez mais, como esses povos foram capazes de existir impactando menos negativamente e o que temos a aprender todos os dias com isso. Porque as emergências são muitas…”. Este ano, a escola aproveitou a programação do Abril Indígena do SESC e participou de algumas atividades com as crianças.

Mariana conta que especialmente duas crianças ficaram muito mobilizadas com a visita por fazerem parte de uma família que desenvolve um trabalho de fomento ao comércio justo dos povos originários, o Tucum Brasil. O trabalho deles é fortalecer as estratégias de venda dos artesanatos indígenas como uma forma de levar dinheiro para as aldeias. Essa família viveu muito tempo no Pará e falam a língua Kaiapó, inclusive as crianças. Mariana conta que foi uma oportunidade única passar esse dia no SESC, poder receber e se nutrir com os visitantes indígenas, que não falavam português e vieram de uma aldeia no Pará.

As famílias foram convidadas a se pintar no “terreirão” da escola e puderam viver uma tarde de contato com a cultura indígena. “Montamos uma fogueira, descascamos milho, fizemos peteca, ouvimos histórias e vivemos uma tarde. E a pintura de jenipapo… Eles perguntam o que vou trazer à flor da pele que vive em mim. Achei muito bonito quando eles falaram que a pintura é algo que está em você, mas que você escolhe trazer para sua pele, sua fronteira com o mundo”, conta Mariana Rosa.

Nesse momento eles falaram sobre os poderes de cada pintura e animal, como a onça, a borboleta e a tartaruga, por exemplo, que tem o passo firme e tranquilo. Numa das famílias houve uma discordância entre o que a criança queria pintar e o que a mãe sugeria que ela pintasse, a onça ou a borboleta. E foi uma oportunidade de observação pedagógica perceber que a proposta indígena é a escolha daquilo que estava dentro de cada um e não somente pelo olhar estético.

“Eu cheguei junto e disse: vamos deixar ela escolher o que ela quer? Deixar ela sentir e reconhecer o que está sentindo? A guria se pintou de onça e, quando eu olhei, ela estava no alto de uma árvore deitada como uma onça! Eu fiquei impressionada como a menina pode mostrar que ela fez o que o indígena convidou: olhar e reconhecer o que estava vibrando nela naquele momento. E como as crianças que têm direito a esse tempo, de estarem conectadas, têm mais facilidade de acessar e reconhecer o que elas são e sentem”.

Mariana Rosa – gestora da Escola Colo da Montanha

De acordo com ela, esses pequenos momentos mostram a importância de aprender a confiar (e não somente falar de confiança) para entregar, experimentar e dar espaço. Sem isso, podemos ser levados a alguma coisa que queremos, mas que não damos conta de ser.

Ver um dos pais, o antropólogo Fernando Niemeyer, uma pessoa que está na escola todos os dias, falando a língua Kaiapó, foi uma experiência muito rica para todos. “É muito lindo viver a língua e não só ficar ouvindo que no Brasil existem 200 línguas sendo faladas. Ouvir, viver e tentar falar a língua. Sentir a palavra ecoar, viver a dificuldade da pronúncia, tudo é diferente e gostoso. Aprendemos que mexkumrẽx, por exemplo significa ‘obrigado’”, comenta Mariana.

No momento da pintura com jenipapo, do preparo junto com as crianças, de toda a ansiedade de trinta crianças querendo se pintar… a mulher Kaiapó chamou Mariana e disse: “Você será a primeira”. E fez uma grande pintura de abertura dos caminhos em seu braço. Tudo isso a fez pensar que é importante honrar as crianças, mas também honrar aqueles que estão abrindo os caminhos para elas vivenciarem o que está acontecendo. Que estão todos juntos e por isso importante ser cauteloso para que seja bom para todos.

Também houve a vivência de mapeamento do sítio com as crianças, localizando as áreas das bananeiras, das juçaras, do bambuzal e áreas abandonadas, e avaliado o que poderia ser feito e manejado nessas áreas. “Primeiro de tudo, nós, seres humanos que estamos num espaço de criar as crianças, nos reconhecermos nessa natureza, amar a bananeira, o bambu e a juçara. Entendermos que faz sentido a floresta viva e como podemos interagir sem derrubá-la. É isso que estamos vivendo, como uma semente miúda, que está sendo plantada com carinho e firmeza”, conclui.

Na visita ao SESC, as crianças também entraram em contato com o povo Guarani, de Angra dos Reis, os Kariri, da região do baixo São Francisco, e a escritora Lúcia Tucuju contou histórias indígenas. A equipe do Colo da Montanha tem conversado sobre o que é originário em cada um de nós, quais os símbolos que nos permeiam e quais os símbolos da comunidade, levando essa temática permanente para o cotidiano da escola.

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