No caminho natural da implantação da moeda social Alegrias, em Paraty (RJ), a criação do Banco Comunitário Alegrias vem coroar o sucesso dessa empreitada e tem muitos significados. O objetivo de uma moeda complementar é transacionar dons, produtos e serviços para gerar uma recompensa financeira. Isso passa por ter um bom número de prestadores de serviços, produtores rurais e comerciantes envolvidos para que o dinheiro circule na economia local, fechando o ciclo.
Com o apoio do Grupo Saúva, os gestores da Rede Alegrias criaram um banco comunitário com o intuito de aumentar a oferta de produtos e serviços para a população paratiense. Uma outra característica do banco é que, agora, além da moeda social ser lastreada nos próprios dons e serviços oferecidos, ela também é lastreada em reais. Isso possibilitou a parceria com comércios tradicionais como farmácias, posto de combustível e de gás de cozinha, por exemplo, além das outras parcerias já estabelecidas.
Mônica Calderón, uma das gestoras da Rede, diz que essa empreitada começou no final de 2021 e essa caminhada une o desenvolvimento comunitário aos aprendizados de colocar em prática uma nova economia. Um dos desafios sendo vencidos é como fazer essa engrenagem funcionar para além de uma rede fechada, como era até então. Ela conta que “isso implica dinheiro, energia monetária e está sendo bem bonito de ver acontecer. Todo esse processo está sendo bem legal para o projeto, pela formação da equipe”.
A equipe que está apoiando o processo de formação do banco comunitário é composta pela Márcia Targino (aberturas de contas, cadastros e dúvidas), Ana Paula Fonseca (administrativo-financeiro) e Marllon Calaes (Microcrédito), além da própria Mônica.

Parceria que está na base da cadeia produtiva
É a primeira vez que uma empresa do porte de um posto de combustíveis entra para o Banco Comunitário. O cadastro dessa conta é um pouco mais complexo que os outros comércios, entretanto, isso está sendo resolvido dentro do funcionamento operacional do banco. Marllon Calaes, responsável pela gestão dos microcréditos do banco, conta que, apesar de não ser um negócio de base sustentável, o posto de combustível é fundamental para o incremento da economia da rede: ele faz parte do processo produtivo dos principais produtores, agricultores e empreendedores locais. “Essa é uma estratégia pra ampliar o número de usuários e clientes do banco da rede, porque todo produtor precisa escoar a produção e, pra isso, precisa de combustível. Então, nada mais justo que trazer um posto para ser parceiro”, explica Marllon.
A parceria com depósito de gás de cozinha também se justifica na mesma linha, “muitos (produtores) beneficiam produtos e, pra isso, muitos precisam do gás. Com o preço num patamar muito alto, é justo também trazer esse negócio pra dentro da rede”. Essas parcerias não refletem somente a busca por novas adesões à rede como também de fidelizar quem já participa. São maiores possibilidades para compra de insumos e produtos com a moeda social Alegria, um ótimo benefício, em vista da inflação e do custo de vida.
Ampliação da parceria com a Escola Comunitária Cirandas
Os gestores do Banco Comunitário Alegrias se reuniram com a diretoria da Escola Cirandas para motivá-los a abrir conta no banco; e estimulam que as famílias possam pagar parte das mensalidades com moeda social. Dessa forma, a escola poderá reinvestir esse dinheiro nos comércios parceiros do banco e da rede.
Calderón diz que “a escola vai encaminhar esse pedido para o conselho gestor aprovar e abrirem a conta da Cirandas (e das famílias). Esperamos que em breve estejamos com a escola cadastrada e as famílias podendo pagar com moeda social”.

Feira do Produtor Rural de Paraty
Outra novidade é a reabertura do ponto da Rede Alegrias na Feira do Produtor Rural de Paraty, em maio. As pessoas colocaram os produtos na feirinha e comercializaram com a moeda alternativa Alegrias. “Foi muito bom de ser ver a energia diferenciada que a barraquinha coloca na feira, de renovação e de alegria. E essa movimentação cria oportunidade de trabalho e renda para as pessoas que estavam sem renda”, explica Mônica. Nesse local, os produtores de pães artesanais, artesanatos, cosméticos naturais, frutas e temperos tiveram a oportunidade de fazer seus negócios e isso gera muita satisfação nos gestores porque é um dos objetivos da rede – poder oferecer dons e serviços; e que haja uma recompensa financeira.
