O setor de Microcrédito do Banco Comunitário Alegrias é responsável por entender as demandas dos produtores e empreendedores de Paraty/RJ e fornecer crédito produtivo, ou seja, para alavancar a produção, abertura de negócios, proporcionar fluxo de caixa, etc.. De acordo com Marllon Calaes, responsável pelo setor de Microcrédito no Banco Alegrias, o interesse é ouvir as demandas e necessidades dos produtores, entender de que forma eles precisam crescer, para onde crescer, qual a visão deles, e entender como a necessidade de capital pode beneficiá-los: o objetivo é trazer orientação no uso do crédito e proporcionar o crescimento sustentável do negócio. Promover endividamento, fornecimento de credito sem objetivo e planejamento é uma prática do sistema bancário comum, que não trabalha com os mesmos objetivos do Banco Comunitário.
Passo a passo
O acesso ao crédito no Banco Comunitário Alegrias funciona assim: o empreendedor ou produtor entra em contato com o banco, recebe um link com formulário por e-mail e preenche com as informações básicas para análise pelo banco. Após esta primeira fase da análise de crédito vem o contato direto e afetivo com o empreendedor: é quando o setor de Microcrédito começa as interações presenciais, onde se busca conhecer o local de produção do empreendedor, as instalações, a história e a família, que geralmente está envolvida no processo produtivo. “O meu papel é ver de perto tudo isso, o que é totalmente diferente de um banco tradicional, que está preocupado unicamente com o escore de crédito dessa pessoa, se ele tem condições de pagar ou se tem alguma renda fixa”, diz Marllon.

Crédito produtivo gera crescimento e autonomia
O objetivo do Alegrias é ouvir, orientar e ampliar a visão do empreendedor. Conhecer o produtor e o local de produção ajuda entender o negócio como um todo: qual é o portfólio de produtos ou serviços, quantas pessoas atende, quantas impacta, se tem outras pessoas trabalhando junto, se o negócio é a única fonte de renda e lhe dá uma vida digna, a cadeia dessa produção… Com isso, o banco passa de mero fornecedor de crédito a parceiro da comunidade: permite ao setor de microcrédito alavancar a produção e promover melhoria na qualidade de vida das pessoas daquela região.
Este trabalho já fica claro no processo de divulgação e conhecimento do Banco dentro da comunidade em Paraty: este crédito tem orientação para a produção, não é para sanar uma dívida. Todo empreendedor, explica Marllon, em algum momento, precisa fazer algum investimento no negócio para poder crescer. Por exemplo, “a aquisição de um maquinário específico para beneficiar seu produto, agregar algum valor para aumentar a margem de lucro, aumentar a receita com um mesmo produto ou insumo base…”, complementa Calaes.

Consultoria
Além do crédito produtivo, o setor de Microcrédito do Alegrias também faz um trabalho de base com os produtores: são ouvidos, há uma análise do negócio, da estruturação, vínculo com o mercado e se há uma necessidade real do crédito naquele momento; se querem adquirir um selo de produtor orgânico, por exemplo, mas o fluxo de caixa não permite esse investimento… O crédito orientado funciona desta forma: vai além do capital e entra na construção da inteligência do negócio. A ideia é que o produtor seja cada vez mais autônomo e tome decisões com consciência.
Marllon Calaes conta que o trabalho também consiste em “mostrar que aquele caderno pode ser uma planilha simples com entradas e saídas de dinheiro.” Ensina que o produtor precisa ter um pró-labore que atenda as necessidades de família e que o dinheiro da produção e da família devem ser separados. “São sementes que vamos plantando e conseguimos colaborar, não só com aquele momento de empréstimo de 5, 7 ou 10 mil reais, mas com a visão dele enquanto empreendedor, enquanto autônomo, na gerência das finanças para o negócio ter sustentabilidade”, explica.
“No fundo estamos falando de educação popular, de desenvolvimento de um intelectual crítico nesses empreendedores. É a base de uma educação popular mesmo, vamos falar de Paulo Freire e todos que estão nessa costura de base”.
Marllon Calaes – Setor de Microcrédito do Banco Comunitário Alegrias

Comunicar bem o crédito
O cuidado na divulgação do crédito é parte fundamental nesse trabalho do Banco, pois a ideia não é apenas criar um slogan do tipo “Precisa de crédito, fale com a gente!”; pelo contrário, é divulgar alguns sinais que podem ser relevantes para o empreendedor começar a pensar num microcrédito e as vantagens de usas essa ferramenta no desenvolvimento do negócio. Os principais tomadores desses empréstimos são ligados à Rede Alegrias e essa comunicação pode trazer pessoas que não fazem parte da rede ainda, pra que elas comecem a perceber e saber o que é este microcrédito. Esta comunicação tem de ser cuidadosa para que a comunidade entenda que a demanda tem caráter afetivo, comunitário e, principalmente, de fornecimento de crédito produtivo com orientação para a sustentabilidade dos negócios. “Estamos tomando muito cuidado de pensar essa estratégia da divulgação pra que essa ampliação de atendimento (para além da Rede Alegrias) seja feita de forma responsável com a comunidade”, conclui Marllon Calaes.
A economia circular do Banco Comunitário Alegrias
A estruturação do Banco Comunitário Alegrias está cada vez maior, com uma governança bem organizada e a descentralização de cada setor na busca de resolver suas próprias questões. A ampliação das parcerias continua apesar de não ser somente com negócios de base sustentável, mas há um entendimento de que elas são necessárias, como o posto de combustível e depósito de gás, por fazerem parte do processo produtivo dos principais produtores, agricultores e empreendedores locais. Essas ações, além de trazerem novos clientes, fidelizam os que já estão dentro da rede porque ajudam a movimentar a economia com a moeda complementar e minimizam os efeitos do custo de vida e da inflação.
O grande objetivo do Banco Comunitário é fazer com que o dinheiro circule o maior tempo possível no território e não seja trocado por reais. E com isso fortalecer a economia local a partir do estímulo ao fluxo de dinheiro circulando dentro dele. Dessa maneira, o banco se fortalece com essas novas parcerias e com a prática da economia circular.