Matéria publicada em 7 de novembro de 2024
As atividades artísticas no Atelier Dudude em Casa Branca, Brumadinho, seguem trilhando os caminhos do fortalecimento da comunidade sensível com a abertura do estúdio para as pessoas treinarem e ativarem a percepção do entorno. As principais atividades desenvolvidas são os EPI – Encontro Prático de Inverno, METRI – Mergulho Treino Intenso (em janeiro com a presença de Flávia Pinheiro), Concertos para a manhãs e Treino em Movimento. Um dos objetivos é religar com o mundo ao redor e com a natureza, “a grande Mestra”, segundo Dudude. Há muito tempo Dudude trabalha com o pensamento Corpo-Mundo e Mundo-Corpo, no sentido de que somos seres desta Terra e somente uma espécie a mais, que, aliás, está precisando de tomar vitamina N (Natureza). Em 2024, Dudude resolveu levar suas atividades para o centro de Belo Horizonte com a ação Dance Up Dance, no Centro de Referência da Dança. Nesta proposta, ela ministra aulas de dança e improvisação gratuitas para a formação de público. Outra ação em andamento, a montagem do espetáculo “Q…Brou” com Lina Lapertosa, está com estreia prevista para o início de 2025. Com todas as alegrias e desafios inerentes à área artística no Brasil, Dudude completa cinco décadas de carreira e 15 anos de “insistência e resistência” do Atelier.
Nesta conversa em seu Atelier, Dudude nos lembra que tudo o que precisamos está ao nosso alcance: “Respira. A pedra respira, a terra respira. É essa conexão, esse religare. Estamos muito ensimesmados e tenho visto nos cursos como as pessoas estão acordando para a necessidade de ativação dos sensores”. Todas essas sensações e percepções são trabalhadas em suas oficinas que têm o formato mais alongado ou mais curto, mas todas elas apresentam uma característica interessante: a maioria das pessoas vêm de outras cidades e estados para participar. Todas elas em busca de ativação num lugar de conexão com a natureza, do alargamento de antenas e nutrir uma dança atual de um corpo vivo. “Conectamos aos modos de viver e temos coragem de alterar, aqui não há plásticos. A comida é de excelência e cheia de afetos. As pessoas não vêm em busca de trocar, mas de compartilhar, envolver, fazer amizades e aumentar nossa comunidade. Isso é o que o Atelier seguirá fazendo”, explica Dudude.
Em 2024, Dudude Herrmann e Lina Lapertosa se dedicaram muito ao processo de montagem do espetáculo “Q…Brou”. Esse trabalho teve um período de montagem maior devido ao intervalo da pandemia no meio do caminho. Ele traz a pauta da integridade das pessoas para o palco, suas memórias e a caminhada de artistas que passaram dos 60 anos de idade e continuam na lida. Dudude conta que o espetáculo “dá credito ao fazer de um corpo vivido, que tem muitas histórias dentro do corpo, muitas decepções e lidas de reconstrução. É um trabalho que deu muito trabalho, vai nos dar alegrias e já está dando”. O apoio da Saúva ao espaço do Atelier possibilitou um suporte ao processo de criação e ao tempo de dedicação, que teve início em 2019.
Prestes a completar 15 anos de vida do Atelier, Dudude fala que pretende celebrar a data em 2025. Mas que sente dificuldade em avaliar e entender seu trabalho durante o ano de 2024 por ser um ano atípico que ainda está processando. “Aqui no Brasil, resistir, durar, permanecer e ficar é sempre uma vitória. Temos muitos motivos para deixar pra lá, parece que o incentivo é sempre ao contrário. Não estou falando da Saúva, que sempre nos salva, mas do contexto das realidades!”, comenta com risos.
A programação do Atelier neste ano ainda conta com dois Treinos em Movimento, em novembro e dezembro, e já está com inscrições abertas para o METRI – Mergulho Treino Intenso com Flávia Pinheiro (https://www.instagram.com/flaviapinheirofp/) – em janeiro de 2025. Segundo Dudude, que conhece e admira o trabalho de Flávia há muito anos, seu trabalho na dança e na performance também tem um lugar de compostagem. É um trabalho que gera curiosidade e produz questões. “Seu trabalho usa muito os termos da ciência, palavras da natureza como fotossíntese e se interessa muito por vírus e bactérias. E a produção do afeto que tem a ver com um modo naturante de existir. Se olharmos o lado selvagem da natureza, mas sua escuta fina com vida na produção de flores, frutos, árvores e belezas, esse é o link que ela desenvolverá aqui e desenvolve em seu trabalho, enquanto pulsão de vida. Eu acho isso maravilhoso”, explica Dudude.
Dudude segue sua pesquisa de improvisação em dança, sua potência de ativar as pessoas a se apropriarem de si como forças propulsoras de conexão e coragem. E essas parcerias sempre acontecem no METRI, como a parceria com Joseane Jorge na cozinha (https://www.instagram.com/joseanejorge/) que oferece um cardápio diferenciado. Dudude finaliza dizendo do seu foco na produção do Mergulho Treino Intenso e de como o Atelier, sediado em um condomínio em Casa Branca, pode manter sua vida continuada e que sua vocação é para os mini-encontros e residência artísticas. “O Atelier é um lugar de mergulho e de reunião, por isso migrei para Belo Horizonte, porque preciso fazer campo para que o Atelier ganhe força de existência. Aqui é um lugar solto, para que as pessoas possam vir, fazer amizades e conhecer o trabalho dos outros. Isso me interessa”, conclui.
A programação completa está no link abaixo: