Topo

A Arte como respiro: Atelier Dudude celebra 15 anos com programação que une gerações da dança

Matéria publicada em 14 de maio de 2025.

Num mundo onde a arte frequentemente se rende às exigências de mercado, o Atelier Dudude persiste como um santuário de pesquisa, experimentação e criação livre junto da natureza. Celebrando 15 anos, a artista mineira preparou uma programação especial que é um verdadeiro mapa afetivo da dança contemporânea com discípulos (as) de Pina Bausch a Kazuo Ono, passando pelo legado de Steve Paxton, cada encontro mensal revela como o corpo em movimento pode ser linguagem, protesto e celebração da vida.
Nesta conversa com Dudude Herrmann descobrimos como ela está tecendo uma rede sensível que une mestres e aprendizes, onde o conhecimento se transmite não em salas de aula formais, mas em círculos de dança, refeições compartilhadas e conversas sem hora para acabar. Uma celebração que prova que, mesmo em tempos de editais e burocracia, a arte pulsante sobrevive – e se renova.


Mini Encontros Práticos no Atelier Dudude

“Quando Ana Medeiros e Yoshito Nishiyama chegaram com a mala que pertenceu a Kazuo Ono, entendi que estávamos costurando histórias”, revela Dudude sobre o primeiro encontro de 2024. A cena sintetiza o espírito da comemoração: cada workshop mensal conecta-se a uma linhagem artística específica.
Em maio, o psicólogo e dançarino Pedro Penuela – estudioso do legado de Steve Paxton que é nada mais nada menos que o mentor do Contato Improvisação – ministrará o Mini Encontro Prática -Arquiteturas corporais ação não ação, esta abordagem corporal que revolucionou a dança nos anos 1970. “Ele estudou com Isabel Tica lemos, introdutora do Contato Improvisação no Brasil. É a nova geração dialogando com os pioneiros”, explica Dudude.

“O Atelier está cada vez mais potente de realizar encontros que a gente honra”.

Dudude Herrmann


Além deste Mini Encontro, no dia 24 à noite acontecerá uma Jam session aberta para interessados e praticantes celebrarem os 15 anos do Atelier Dudude.

A Economia do Afeto

Dudude fala da mudança na programação do Atelier, que agora está focada nos Mini Encontros Práticos mensais de maio, junho, o EPI – Encontro Prático de Inverno – em julho, e o METRI – Mergulho Treino Intenso – em Janeiro, sendo residências artísticas mais largas. E compartilha sua filosofia: “Os encontros se pagam, mas o verdadeiro pagamento vem depois – quando vejo participantes travando relações de amizade, fortalecendo esta comunidade sensível pelo mundo afora”. Em 2024 Dudude foi agraciada pela UFMG Dra. Notório Saber em artes, e teve seu trabalho divulgado no Programa Figuras da dança 2024, realizado pela São Paulo Companhia de dança que está veiculado no Youtube. Em 2025 é uma das premiadas pelo Edital Raízes de Minas -Trajetória na Dança.

Pedro Penuela
Morena Nascimento

Ficha Técnica da Alma

As inscrições estão abertas para estes encontros e a Jam Session comemorativa dos 15 anos do Atelier. E acaba de ser lançado o EPI que acontece em Julho durante seis intensos dias e o METRI – Mergulho Treino Intenso – que será lançado em setembro, sempre com um convidado especial. Uma prova de que, como diz Dudude enquanto mostra o livro escrito por Pedro Penuela que pesquisa o trabalho desenvolvido de três ícones da dança: Steve Paxton, Kazuo Ono e Pina Bausch, “a dança é a vida traduzida em movimento”.

“Mas eu fico muito contente de ter esse espaço maravilhoso e poder ofertar, que as pessoas
entrem aqui, bebam verde, se conectem com a montanha, com as árvores, com a questão dos
resíduos, com fazer comida”.

Dudude Herrmann – atelier dudude
O instigante livro de Pedro Penuela aposta radicalmente no paradoxo ausência/presença como fundamento de suas reflexões, projetando-nos em uma fértil zona de indeterminação.

A programação dos próximos meses ainda inclui:
Junho: Mini Encontro Prático Dança Contemporânea- Procedimentos para Dançar com
Morena Nascimento, que trabalhou diretamente com Pina Bausch em sua companhia.
Julho: EPI – Encontro Prático de Inverno conduzido por Dudude Herrmann e Heloisa
Domingues: Estudos da Improvisação em Dança
Todo mês: “Dance Up Dance”, sessão livre de improvisação, gratuitas no Centro de
Referência da Dança/ Teatro Marília, em Belo Horizonte.

“Nessas imersões temos um tempo extra, além do trabalho prático, artístico. Você tem um tempo da troca, as pessoas vão saber o que elas fazem. Porque ela reacende uma humanidade em nós, não é? E outra coisa, por que eu insisto em falar nisso? A gente está vendo aí esse monte de edital, onde as pessoas viram concorrentes um dos outros. E não se interessam pelo trabalho do outro, porque não há um lugar comum também de conversas. Sobre o fazer esse ofício, seja dança, teatro, artes plásticas, qualquer arte. Nessa era de editais, você não chama mais de ‘seu trabalho’, você chama de ‘projetos’. Você fala assim: ah, você está com algum projeto? Olha, o meu projeto é viver”.

dudude herrmann – bailarina, coreógrafa, professora e gestora do atelier dudude


Nesses 15 anos, seu Atelier provou que a arte essencial não cabe em editais – floresce quando artistas se encontram, corpo a corpo, para lembrar que criar é antes de tudo um ato de resistência poética.


Serviço:

Programação completa e inscrições: https://linktr.ee/dudude
Assista o vídeo de Pedro Penuela e Despoina Chatzvipalidou :

Compartilhar: