Topo

Educar+ inicia o ano com projeto de voluntariado, atividades no contraturno escolar e conclusão do curso de formação para mulheres

No início de 2024 a ONG Educar+ concluiu o programa Mulheres do Futuro, uma formação na área tecnológica voltada para o mercado de trabalho. Foram 18 jovens formadas que, além dos benefícios do curso, puderam redirecionar suas vidas. Algumas delas estavam fora da escola e voltaram a estudar, outras voltaram ao convívio social, reativando sonhos e propósitos. Um outro programa criado que continua na ativa é o de Voluntariado, que incorporou jovens com 15 ou 16 anos nas atividades rotineiras da ONG como auxílio no administrativo, limpeza, cozinha ou no dever de casa. Esse programa foi uma forma de manter o vínculo dos jovens com a ONG, pois eles não se encaixavam mais nas atividades infantis, e oferecer uma oportunidade de aprenderem outros ofícios. A Educar+ trabalha atualmente com 10 projetos e entre eles a Saúva apoia os de oficinas de arte e literatura, alfabetização, grupo de convivência e alimentação.

Tainá Brito, uma das gestoras da ONG ao lado de Carol Santos, fala da alegria de oferecer um programa de formação que empodere e aumente a auto-estima das jovens atendidas, da oportunidade do programa de voluntariado para os jovens conhecerem um outro lado do projeto e da importância do fomento da Saúva em projetos de contra-turno.

A formação Mulheres do Futuro trouxe qualificação em tecnologia, empoderamento e acolhimento às participantes do Complexo do Chapadão

O programa mulheres do futuro “foi uma experiência incrível, tivemos muitos ganhos! (…) Uma menina, que quase não sai de casa, fez um depoimento que me emocionou porque ela falou que descobriu certas coisas nela que achava não ser capaz. Descobriu que era uma menina falante, descobriu do que ela gosta e reativou seus sonhos. Muitas vezes achamos que os resultados do que fazemos devem se macro, mas nós temos a noção de que vamos plantar várias sementes e nem todas vão germinar. Para nós, se germinar em uma pessoa, já fizemos nosso trabalho, estamos super satisfeitas”. A formação durou quatro meses com aulas duas vezes por semana e, ao final, a turma foi comemorar em um rodízio numa pizzaria, onde algumas delas nunca tinham ido.  

O programa de voluntariado foi criado pensando muito nos adolescentes que já participaram das atividades da ONG, mas que não se encaixavam, pela idade, no perfil destas. Esses jovens manifestaram a vontade de continuar frequentando o projeto ajudando nas atividades cotidianas. Além da coordenação, o programa tem psicóloga e assistente da psicóloga voluntárias e promove reuniões para definição do líder da semana, organizando a divisão de tarefas entre eles. A contrapartida para os participantes do programa foi um passeio para um sítio onde todos se divertiram bastante.

Parceria e compromisso com a inclusão social

Tainá conta com satisfação da parceria com a Saúva, que apoia quatro dos dez projetos da Educar+, pagando os salários dos professores e da assistente de alfabetização. Os projetos de arte e literatura, alfabetização, grupo de convivência e alimentação são diários e no contraturno escolar. A novidade desse ano é com as crianças da alfabetização, que passaram a frequentar a ONG todos os dias ao invés de dois dias na semana. Com isso, elas terão aulas de inglês, matemática ou artes, além de português. E também aprendem programação e literatura, conhecem a estrutura dos livros e são incentivadas à leitura. Uma outra questão importante, graças ao fomento da Saúva, é a parte da alimentação das crianças. Tainá conta que este ano o projeto está conseguindo comprar mais frutas e as crianças estão adorando. Muitas vezes o que eles comem na escola e na ONG serão as únicas refeições do dia.

Projetos apoiados pela Saúva auxiliam na alfabetização de crianças e adolescentes
Com o fomento de 2024 foi possível aumentar a qualidade do lanche para as crianças

A atividade de alfabetização tem uma importância fundamental, pois a defasagem desta entre crianças e adolescentes é muito grande e piorou bastante com a pandemia, segundo Tainá. “Temos crianças e adolescentes de 12, 13 e 15 anos que não sabem ler, então como incentivar a leitura se eles não sabem ler? E a alfabetização entra nesse sentido, assim como a matemática, que nem é para ensinar a disciplina, mas para ensinar o raciocínio lógico e ajudar a expandir a mente das crianças”, diz Tainá Brito.

Na Educar+ as atividades estão voltadas para o aprendizado de uma forma mais lúdica, livre e interativa, que desperte a curiosidade nas crianças. Elas entendem que o aprendizado do conhecimento deve ser prazeroso, que dialogue com a realidade das crianças e tragam elementos para serem usados no dia a dia. Ela continua dizendo que se preocupam com a “formação social, a formação e educação para a vida”. Atualmente a ONG tem quatro turmas de alfabetização, matemática, literatura e grupo de convivência, que funciona com uma terapia de grupo, e três turmas de artes.

As oficinas de arte e literatura dialogam com outras disciplinas como matemática

A dura realidade dos morros e periferias do Brasil

Todas essas atividades e novidades estão sendo um desafio, pois muitas vezes tem 70 crianças sendo atendidas no espaço, no mesmo dia. Outras vezes as crianças frequentam a Educar+ mesmo não tendo atividades porque é preferível que elas estejam lá do que na rua. Tainá conta de sua tristeza em ver que durante as férias foram raras as operações policias e que assim que as aulas voltaram já ocorreram três vezes no Complexo do Chapadão. “Não pudemos ter aulas duas vezes e uma vez fomos obrigadas a fechar o projeto mais cedo por conta das operações policiais. Não tem muito o que fazer e nós sempre prezamos pela segurança dos professores e crianças porque quando tem operação é melhor ficar dentro de casa”, lamenta.

O incentivo à leitura está entre os principais objetivos da ONG
A Educar+ atua onde o estado muitas vezes não consegue chegar

O Complexo do Chapadão não tem UPPs, diferente de outros locais, como a Rocinha e Cidade de Deus, eles só funcionam até certo ponto onde a polícia atua e dali pra frente são as regras do tráfico. Isso torna a região do Complexo uma das mais violentas da cidade do Rio de Janeiro, onde ocorrem muitos roubos de carga e carros que são vendidos na Pavuna. Tainá afirma com indignação que as operações sempre acontecem em horário escolar e às vezes sem nenhum motivo aparente. “Ficamos muito à mercê dessa violência das operações. Quando a criança já está de fora do projet e dá de cara com a polícia ou com trocas de tiros, ela tem que voltar correndo e pular muros para se proteger”, denuncia Tainá Brito.

Tainá conclui dizendo que sempre conversam muito com as crianças e adolescentes “e não gostamos que brinquem com armas e cabos de vassoura, por exemplo. Pedimos para eles andarem arrumados ao máximo e não serem confundidos com bandidos, pois sabemos como a polícia vai trata-los e eles sofrem muito com isso”. São situações de violência e o racismo estrutural que, infelizmente, acontecem majoritariamente com a população que vive em morros e periferia das cidades.

Compartilhar: