Matéria publicada em 4 de abril de 2025.
A CSAA (Comunidade que Sustenta a Arte e a Agroecologia) Confraria da Horta, sediada em Florestal/MG, produz alimentos agroecológicos em um sistema no qual os clientes, que recebem as cestas desses produtos, são considerados coprodutores e parceiros dos agricultores. Cria-se uma nova forma de relacionamento entre produtor e consumidor onde todos são beneficiados: com a garantia de compra e o recebimento de alimentos agroecológicos de alta qualidade diretamente em suas casas, sem intermediários. Há oito anos, a Confraria da Horta trabalha com esses objetivos e desde então tem feito parcerias com outros produtores e coprodutores visando aumentar a quantidade de produtos oferecidos e sua carteira de assinantes das cestas agroecológicas. A lista de benefícios é ampla: menos agrotóxicos, menos embalagens, menos poluição por combustíveis fósseis, menos desperdício e mais dignidade para o agricultor e saúde para o cidadão. Manter a produção dos legumes, frutas e hortaliças, as parcerias com produtores agroecológicos e ampliar a carteira de assinantes são desafios constantes enfrentados por Daniel Novaes e Carolina Zaratini, gestores da Confraria. Esse trabalho tem sido realizado com determinação e dedicação aos propósitos, parcerias importantes, como a Ujima – Cozinha Viva, e novos parceiros, como os produtores e clientes de outra CSA, a Nossa Horta. No final do ano passado, a CSA Nossa Horta finalizou suas atividades e os gestores da Confraria fizeram uma proposta de incorporar os produtores e assinantes que foi aceita e beneficiou a todos.



Daniel conta que se espelharam em alguns exemplos da Nossa Horta quando criaram a Confraria da Horta e que houve uma proposta de fornecerem alimentos agroecológicos para eles há algum tempo. Essa parceria não pôde ser concretizada por diversas razões, mas a proposta de acolhimento dos produtores e assinantes foi aceita e veio em boa hora, pois geralmente a época de fim de ano é sinônimo de dificuldades produtivas e financeiras. O aumento de 40 novas famílias atendidas somadas às outras já parceiras, totalizando em torno de 80 famílias, trouxe bons desafios nos processos de produção e logística que foram bem contornados, segundo Daniel.
Além da assinatura para recebimento das cestas semanal ou quinzenalmente, estas também podem ser adquiridas na moeda social MUDA. É só entrar para a comunidade da Rede Muda Outras Economias e procurar as ofertas da CSA Confraria da Horta na plataforma.
Daniel Novaes fala que já estão há três meses fornecendo uma quantidade maior de cestas semanalmente, com a mesma qualidade, volume e diversidade de sempre, que variam de 8 a 12 produtos. Apesar de que estão lidando com as mudanças climáticas, não tão boas, que necessitam de rápida adaptação. “Isso mostrou pra gente que precisaríamos de mais parceiros”, reflete. Além da produção na propriedade de Daniel e Carol, que fornecem a maior parte dos alimentos, eles contam com os produtos de outros seis parceiros que contam com uma boa perspectiva de regularidade na comercialização. São desafios que veem junto de oportunidades de crescimento do negócio em si, como a volta do atendimento da primeira e mais antiga parceira da Confraria, a UJIMA – Cozinha Viva –, que produz as refeições da cantina do Instituto Ouro Verde. Ambos enfrentam outro tipo de desafio quando chega o período de férias escolares, quando o fornecimento das refeições e cestas fica quase zerado. “Estamos trabalhando para conseguir contornar essa situação, tanto para nós quanto para a UJIMA, para que não tenhamos perdas financeiras”, conta Daniel.



Todos produtores parceiros da Confraria trabalham com os mesmos princípios da agroecologia, mas com fins diferentes, uns voltados para as frutas e outros para hortaliças de ciclo rápido. Um dos produtores de frutas, Sr. Laércio, tem um bananal orgânico agroecológico com conceitos agroflorestais, como o consórcio de plantas arbóreas e de serviço, cobertura viva e morta, e adubação por compostagem. Mas a maioria dos produtores trabalham com sistemas agroflorestais integrados e diversos, com mais ou menos tempo de manejo. Esse consórcio de agricultores possibilitam uma boa diversidade nas cestas, com legumes, verduras, frutas, temperos e pancs (plantas alimentícias não convencionais). Outros produtos como farinha de mandioca, fubá, feijão, doces e ovos caipiras também vão, eventualmente, nas cestas e podem ser adquiridos à parte também.



Novaes fala sobre os conceitos das CSAs, comunidade que sustenta a agroecologia, que ainda precisam ser melhor entendidos por todos. A grande filosofia e conceito das CSAs, segundo ele, é que “somos todos produtores”. A pessoa vai deixar de ser um consumidor para se tornar um produtor, com todos os riscos e benefícios inerentes à produção agrícola. Se há abundância, as cestas irão com maior quantidade e diversidade, mas se há momentos difíceis, com muita chuva ou invasão de vacas, por exemplo, as hortaliças ficarão prejudicadas. “Isso acaba que afugenta um pouco aqueles que ainda não assimilaram totalmente o conceito, mas a gente pensa que esses estão no meio do caminho”, reflete. Uma ideia para minimizar as intempéries é priorizar a construção de uma “estufa túnel” em 2025, para que seja possível um cultivo protegido durante o período chuvoso
“São campos energéticos. Quando nos reunimos e formamos uma força coletiva, o universo conspira na abundância e o resultado só pode ser abundância, na maioria das vezes”.
Daniel Novaes, gestor da CSAA Confraria da Horta
Desafios em 2025
O fomento aprovado pela Saúva em 2025 vai permitir equipar o galpão de beneficiamento e processamento para a montagem das cestas de alimentos. Serão adquiridos ventiladores, bancadas, prateleiras, caixas e tanques de inox para assepsia das verduras, frutas e legumes. Outro objetivo é investir em um galinheiro para promover mais empregos e renda, além de aumentar a interação da horta com o galinheiro, tanto das sobras da horta quanto do esterco produzido. A demanda atual é de 500 ovos por semana. Essa nova frente de trabalho pode também proporcionar trabalho para os filhos adolescentes de Daniel e Carolina, que têm demonstrado interesse e disponibilidade para o trabalho na roça.
“Estamos trabalhando para ser uma referência e mostrar que é possível ter uma vida digna com uma rentabilidade razoável na atividade campesina. Que o agricultor deve ser valorizado e deve ter uma compatibilidade de renda, assim como as melhores profissões dentro do ‘nosso belo quadro social’”, ironiza. Ele continua dizendo que o agricultor não pode ser jogado para escanteio como se fosse um trabalhador desvalorizado, quando é tão importante quanto um médico ou engenheiro na sociedade. “Estamos aqui também para quebrar um pouco essa cultura de que a roça é precária, pelo contrário, a agrofloresta é tecnologia”, reforça Daniel.



As oficinas e visitas à CSAA Confraria da Horta continuam de vento em popa com escolas públicas municipais, estaduais e particulares. Nas oficinas, são compartilhados saberes sobre agrofloresta e agricultura familiar com outros produtores rurais. Duas delas foram realizadas na sede, em Florestal, e em Mário Campo, região metropolitana de Belo Horizonte. Essas oficinas e vivências não acrescentam no rendimento da Confraria, que vem basicamente das mensalidades pagas pelos coprodutores, mas elas promovem a circularidade de recursos, com a contratação de colaboradores e cozinheiras, a troca de informações e técnicas agroflorestais e uma boa divulgação da iniciativa, que pode gerar novos parceiros e assinantes. “Isso movimenta a nossa propriedade. Toda hora tem gente querendo aprender, mas que traz conhecimentos também, baseados na experiência de cada um. A gente vê isso como um ativo que estamos recebendo. Porque o princípio da CSA é aquele que fala sobre o nosso ‘índice de felicidade’, nosso pró-labore, que nos traz essa dignidade. Também temos uma parcela de contribuição na ampliação do conhecimento e de levar dignidade para outros. É um ativo que não sabemos contabilizar financeiramente, mas sentimos na pele”, complementa Daniel.
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