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O projeto Mato Dentro Mundo Afora chega ao final de mais um ano e já aponta para uma nova fase em 2025.

Matéria publicada em 30 de dezembro de 2024.

No dia 24 de novembro, o quilombo Mato Dentro, situado na zona rural de Conselheiro Lafaiete, realizou, pelo terceiro ano consecutivo, outra edição da festa de celebração a Zumbi de Palmares, o Dia Nacional da Consciência Negra.

O evento representou também dois importantes marcos do projeto: primeiro, o amadurecimento da feira de produtos típicos quilombolas – a ação foi toda organizada pela comunidade, desde a montagem das estruturas, à preparação dos pratos e quitandas, a coordenação de cada atividade e a logística dos insumos. O cardápio da feira foi variado: três tipos de doce de leite (com canela, com coco e o tradicional), doce de abóbora, João Deitado (o famoso cubu na palha de bananeira), roscas, biscoitos, pão de queijo, cachaça, linguiça, e muito mais. Além disso, foram comercializados o riquíssimo adubo produzido apenas com extratos folhosos e esterco, artesanato, mudas, e confecções do próprio projeto. A festa foi um sucesso, e ainda contou com a apresentação do grupo de Folia de Reis do Seu Nonô, patrimônio local, seguido pelas cordas e a alegria incansáveis de Seu Jeci, um dos moradores mais antigos do quilombo. Teve também música para bailar, almoço saboroso, a presença do Grupo Lesma com o recital de poemas, participação de membros do grupo Alforrias e, o principal, a comunhão contagiante.

A ação também marcou o fechamento de um ciclo fundamental de 3 anos do projeto Mato Dentro Mundo Afora, apontando para uma fase que se inicia de maior autonomia da comunidade.

No ano I (2022), o foco das ações foi a mobilização comunitária (rodas de conversa, terapia comunitária, reuniões constantes – ações que visavam despertar o potencial dos indivíduos para a formação de um grupo atuante), oficinas de agroecologia nas casas (com limpeza dos terrenos, aulas práticas de plantio de acordo com os fundamentos da agroecologia) e a criação de um coletivo produtivo.

No ano II (2023), o projeto buscou fortalecer justamente este coletivo, além de promover oficinas de culinária com plantas nativas, produção de adubo orgânico, venda dos produtos, e o início da realização de feiras em parceria com comércio de Conselheiro Lafaiete. Um grande avanço foi a inserção de pessoas do quilombo na equipe formal do projeto, caminhando para uma transferência de responsabilidades.

Já o ano III (2024), o objetivo foi ampliar a autonomia da comunidade na gestão de suas ações, de forma a possibilitar que o grupo se mantenha produtivo e sustentável. A equipe externa foi reduzida, aumentando a responsabilidade e a tomada de decisão pela equipe interna. Novas feiras foram realizadas com maior investimento na divulgação da ação, além de aquisição de materiais permanentes que auxiliam nas feiras, como barracas e fogão. O lucro das vendas dos produtos foi gerido de forma a fomentar a sustentabilidade financeira do Coletivo: o valor recebido por meio das vendas dos adubos é integralmente destinado às despesas da própria operação, enquanto o lucro das vendas individuais é repartido da seguinte forma: 90% para o produtor e 10% reservado ao caixa do Coletivo.

Dessa forma, a iniciativa cria oportunidades para geração de renda própria às pessoas da comunidade, minimiza a dependência da oferta de mão de obra ainda escassa na região, e ainda amplia a reserva de caixa para a manutenção do Coletivo.

Em 2025, o projeto entrará numa nova fase, em que toda iniciativa das ações, bem como sua mobilização e gestão, será articulada pela comunidade. A equipe externa segue próxima, oferecendo assistência técnica sempre que necessário. O objetivo dessa proposta é aproximar a ação para uma lógica de sustentabilidade prática. E, assim, fortalecer o protagonismo do coletivo.

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