Matéria publicada em 29 de outubro de 2024
A Saúva e o PAFE – Programa de Apoio à Formação de Educadoras e Educadores – lançam carta-convite 2025 para apoiar financeiramente e viabilizar a formação científica, prática e coletiva nas comunidades de Paraty (RJ) e algumas iniciativas parceiras da Rede Saúva Jataí em Minas Gerais e Rio de Janeiro. O PAFE surgiu em 2013 para suprir uma lacuna na formação de educadoras e educadores de Paraty (RJ), principalmente em pedagogia, que até então faziam o Curso Normal e recebiam o título de professoras e professores. Desde então já apoiou em Paraty a formação de 136 pessoas, sendo 33 coletivas, e ampliou sua área de atuação a partir de 2022, indo também para Minas Gerais onde apoiou 22 formações, sendo 2 coletivas. Neste ano, o PAFE está com uma proposta mais abrangente e incluiu algumas iniciativas que compõem a Rede Saúva Jataí, que poderão enviar suas propostas de formação. As inscrições vão até o dia 11 de novembro para Paraty e 12 de novembro de 2024 para o restante da Rede.
A ideia de fomentar a formação de educadores surgiu dentro da Escola Waldorf Quintal Mágico, apoiada também pelo Instituto Oju Moran, e foi criado um projeto piloto para viabilizar a formação científica de algumas educadoras e educadores que ainda não tinham a graduação em Pedagogia. O projeto foi bem-sucedido e no ano seguinte abriu inscrições para toda a comunidade do município de Paraty. Desde então tem apoiado a formação de muita gente, especialmente nas áreas da Pedagogia, Artes Visuais, Sociologia e formações Waldorf. Fabíola Guadix, coordenadora do PAFE, conta que as formações coletivas são um diferencial do programa, que atualmente apoia três coletivos: da Escola Quintal Mágico; do Coletivo de Educação Diferenciada; e do Kindezi. Esses coletivos fazem a formação em Letramento Racial, Cultura Caiçara e Letramento Racial através do estudo de obras de mulheres negras, respectivamente.
Fabíola fala da importância das formações coletivas e do seu impacto na comunidade, porque são conhecimentos específicos que não são encontrados facilmente nas universidades. “São assuntos pontuais e muito vivos para o momento, o que é bem bacana no PAFE. Outra parte bem bacana é que ele não só financia sua formação e ponto final. (…) Ele também tem o espaço do encontro, que são as Mesas de Trocas, que é muito rico e funciona como uma segunda formação. As ações socioeducativas individuais que são realizadas desde o início do PAFE, têm um grande impacto pela quantidade de pessoas envolvidas e as ações socioeducativas coletivas, que são montadas ao longo do ano, vêm acontecendo desde 2022. É uma ação pontual relativamente nova que eu quis experimentar no Programa”, explica Fabíola.
Fabíola Guadix acompanhou a criação do PAFE, trabalhava no Instituto Oju Moran e Escola Cirandas, e é coordenadora do programa desde 2020. Hoje conta com o suporte da Sandra Gonçalves, da equipe de coordenação da Saúva, nos processos de seleção e resolução de questões mais complexas.
Carta-convite 2025 do PAFE
Quando o PAFE resolveu expandir sua área de atuação, a comunidade do Instituto Ouro Verde foi escolhida em 2022 para ser um projeto piloto, pois ali também havia a necessidade de apoio à formação. A experiência foi bem-sucedida, mas também serviu para mostrar que uma maior diversidade de tipos de formação poderia trazer outros olhares e referências para as Mesas de Trocas, por exemplo. Com isso, em 2023, o PAFE começou a abrir o edital para as comunidades ligadas a outras iniciativas. Com a chegada de novos elementos que não estavam diretamente ligados à área da educação, o ganho nas Mesas de Trocas foi muito grande. “O Ubiracy, que é agricultor da Associação Amanu, é um senhor incrível. Ele fala cada coisa nas reuniões que as pessoas ficam surpresas, é um outro universo. Trazendo o conhecimento da terra, ele fala com tanto amor que deixa todo mundo encantado”, diz Fabíola.
Nas conversas preliminares para a formatação do edital, foram sugeridas as inserções das comunidades da ONG Educar+ e da comunidade de aprendizagem Colo da Montanha, por suas características específicas e necessidades de fomento. “Acho que as pessoas ligadas ao Colo da Montanha e Educar+, participando do PAFE, vão contribuir muito e ter essa oportunidade de trocas”, conta Fabíola Guadix. Ela continua dizendo que para as escolas estruturadas com um bom nível socioeconômico é interessante e enriquecedor trazer a experiência de quem lida com pessoas em situação de vulnerabilidade social acentuada.
As trocas de diferentes experiências, de distintas condições de infraestrutura e socioeconômicas, são fundamentais para a evolução de todas iniciativas. “A escola é um lugar de formação das crianças e precisamos ter muito cuidado porque não queremos, teoricamente, que elas repitam o que nós fazemos no mundo e na sociedade. De acordo com as possibilidades e as idades, precisamos confrontar essas realidades dentro da escola. E trazer isso como formação para entender que precisamos de um outro mundo. (…) E a escola, o modelo de educação escolar, que, em grande parte, é um repetidor da desigualdade social”, conclui Fabíola.