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Sessão Instintiva de Regressão

Na coluna do mês de outubro, Edson Prado (Soned) compartilha versos de uma experiência íntima transformadora. Sua sessão instintiva de regressão: rima de vozes que moram na terra.

Antes de mais nada, preciso contextualizar algumas coisas.

Eu nunca fui (nem sou) um cara muito espiritual… Mas, certa vez, logo quando iniciei como agricultor no Laboratório Terra Orgânica, estava numa manhã de rotina, trabalhando um canteiro, quando o fato aconteceu.

Foi como se minha alma se desconectasse da carne e, num caminho criado pela conexão com a terra, trilhou até encontrar outro corpo, muito antigo, que ela já habitou. Também é importante dizer que eu não estava sob efeito de nenhum psicoativo durante o ocorrido.
Eu denominei esse momento como Sessão Instintiva de Regressão e decidi poetizá-lo.

sessão
instintiva de regressão…


cravei a minha mão na terra
me conectei com os meus antespassados,
tipo um rezo pesado,
viajei pro além sem sair do lugar.
vi coisas que eu nunca vi,
momentos que nunca vivi,
mas que sempre viveram em mim,
guardados no DNA.
e pude ver…
que a ciranda da vida já tinha passado ali.
pude ver,
nos desprendemos do essencial há tanto tempo sim
é,
eu pude ver,
com esses olhos que a terra há de comer,
o medo de não renascer de novo…

“o ser humano é muito bobo”

falou aquela alma me olhando no olho

e prosseguiu

“não é difícil,
entenda,
do todo nós somos partículas,
na natureza não existem bens particulares,
e essa corrida insana transformou irmãos em adversários”

*pausa para um trago*

“respira um pouco
foca nas prioridades”

*soprando a fumaça ele dá continuidade*

“a vida como conhecemos tá com os dias contados…
busque conhecimento!
a sabedoria tá no povo que vem das matas,
tá no rezo do pajé,
na ciência de mam’África.
trabalhe em conjunto
tecnologias modernas, sabedoria dos mais velhos…
essas são as ferramentas para atrasar o caos,
para o manejo do inevitável
para garantir tempo…
largar na mão das crianças é muita exigência
que se inicie agora a mudança desse quadro
pegue o seu remo, construa o seu barco
e entenda:
tudo tem um tempo,
não tem consistência se for imediato,
como fumaça no vento,
some até o próximo trago.
obras de fundamento nada fraco e volátil,
novas estruturas para um novo amanhecer,
para que nossos olhos um dia possam voltar a ter…”
sessão
instintiva de regressão

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