Matéria publicada em 8 de julho de 2024.
A busca da excelência é um processo contínuo, não há ponto de chegada, mas sim uma longa jornada. Durante essa jornada é necessário olhar para os objetivos traçados, se inspirar na missão acordada por todos, mirar onde se quer chegar e procurar se qualificar ao longo do caminho. Para isso, a Escola Comunitária Cirandas tem desenvolvido formações em várias áreas para reciclar, aprimorar e qualificar sua equipe ainda mais. Nesse ano já foram realizados encontros de formação em Sociocracia, letramento racial e temáticos com as famílias.
O Sistema de Ciclos, adotado na Escola Cirandas, é um processo através do qual a aprendizagem se dá por etapas ou fases, cujos conteúdos significativos são avaliados sistematicamente para se alcançar os objetivos de final de ciclo. No Sistema de Ciclos, respeita-se o ritmo e a capacidade dos alunos, ou grupo de alunos, ao longo de quatro anos. Essa metodologia utilizada na alfabetização tem gerado algumas dúvidas nas famílias, que solicitaram reuniões para entender melhor se a criança está atrasada ou não. Essa postura pedagógica de respeito às individualidades da criança, que não padroniza a idade da alfabetização, levou a equipe pedagógica da Cirandas a marcar encontros temáticos com as famílias. Isso possibilitou que as dúvidas, angústias e preocupações pudessem ser sanadas, além das trocas de experiências.
Para colaborar com essa conversa foi convidada a Doutora e Professora de Pedagogia da UFF de Angra dos Reis, Renata Bergo, além das tutoras das turmas que trabalham com a alfabetização das crianças. Essa perspectiva acadêmica sobre esse processo contribuiu para validar a metodologia desenvolvida na escola com as famílias e teve uma avaliação muito positiva. Um segundo encontro aberto à comunidade, familiares e equipe teve o tema: “Como se comunicar melhor no dia a dia” e contou com a colaboração do Pedro Consorte – especialista em CNV (comunicação não violenta). Esse processo de aprofundamento na sociocracia tem sido trabalhado na escola e no que diz respeito à comunicação interna por exemplo, tem sido abordado na comissão de gestão de equipe. Carolina Fonseca, Coordenadora Pedagógica da Cirandas, conta do avanço da equipe nessa área e do aprofundamento que o trabalho com Pedro Consorte tem trazido para todas.

“Percebo que as falas do Pedro com a equipe atravessaram as pessoas, que se viram em algumas situações apresentadas. Foi muito bom! Eu percebi algumas questões em mim que achava não serem agressivas, mas que eram. Sempre usei do argumento de que sou sincera, de que falo o que penso. Mas há formas e formas de se falar o que se pensa. Todos que participaram tiveram esse momento de autoanálise, de reflexão e se abriram para melhorar”, relata Carolina.
Sociocracia, um modelo de gestão para promover a eficiência organizacional e o envolvimento das pessoas impactadas pelas decisões da iniciativa
A sociocracia é um sistema de gestão que tem como premissa básica a tomada de decisões baseada no consentimento de todos os membros envolvidos, buscando uma gestão mais distribuída e participativa. Nesse modelo, a voz e a opinião de cada participante da gestão, tem importância independente do seu papel e responsabilidade dentro da Instituição, rompendo assim, com a lógica de poder centralizado em relações hierárquicas. Isso promove um ambiente inclusivo, estimula a colaboração e a criatividade, e fortalece o senso de pertencimento dos funcionários à organização. A sociocracia, ao promover a participação de todos os membros da organização, pode ser aplicada em empresas que valorizam a autonomia, a inovação e o empoderamento dos colaboradores.
Desde 2019, a consultora em autogestão e projetos colaborativos, Anne Trummer, tem aperfeiçoado o modelo de sociocracia na escola. Em 2024 já foram realizados dois encontros com o intuito de explorar o potencial da escola para utilizar a ferramenta da sociocracia de maneira correta. O trabalho este ano foi desenvolvido com todos os círculos e também com a comissão de gestão de equipe, tirando dúvidas, abrindo o horizonte e organizando documentos para a prática.
Letramento racial e ancestralidade
Em 2023 a Escola Cirandas sentiu a necessidade de desenvolver uma formação em letramento racial para toda a equipe da escola, educadores e colaboradores. Esse processo iniciou com um grupo convidado e este ano optou-se por convidar mais pessoas para continuar o trabalho. Após um período para refletir e digerir o que foi realizado ano passado, a equipe se voltou novamente para o tema da educação antirracista, obrigatória de acordo com as leis 10.639/03 e 11.645/08.
No início de 2024, quando ainda se fazia o planejamento das atividades do ano, Carolina Fonseca preparou uma apresentação trazendo a importância e a obrigatoriedade de trabalhar com a história e a cultura afro-brasileira, africana e indígena, juntamente com as diretrizes curriculares. Ela apresentou também um material chamado ‘A cor da cultura’, produzido pela Fundação Roberto Marinho e aplicado em algumas escolas públicas de alguns estados do Brasil e, em particular, o Pará.
Carolina conta que “a equipe ficou muito agradecida, sentindo uma leveza. As pessoas que estavam sem saber por onde começar, conseguiram entender e tiveram uma base para trabalhar”. Dessa maneira, todos os trabalhos desenvolvidos pelas crianças deveriam observar e contemplar essas duas leis, independente do tema.

Em março, além da escuta e interpretação de letras de músicas referentes às conquistas das mulheres, recebemos algumas personalidades femininas de nossa comunidade que trouxeram suas experiências e histórias na temática “O que faz uma mulher?” Também abordamos as questões de sustentabilidade quanto ao uso da água, através de leituras, pesquisas e apresentações de trabalhos em grupo.
ClÁudia Ribeiro – professora de Língua Portuguesa e Comunicação e Expressão
Na Escola Cirandas, “as crianças decidem os temas que irão pesquisar ao longo do semestre. Há um tema geral da turma, escolhido por votação, e as pesquisas individuais orientadas pelas tutoras. E decidimos contemplar as leis independente do tema escolhido”, observa Carolina. Uma das turmas, denominada ‘A-mar’, decidiu estudar a história do Brasil, da África e dos portugueses no Brasil, com o tema central voltado para as Ciências Humanas. O tema de pesquisa foi “Quais as histórias que a história não conta”, que partiria da história que está no currículo para a história oral, trabalhando os valores civilizatórios afro-brasileiros, como a ancestralidade.
Com isso, veio a ideia de convidarem uma Ialorixá, Pollyana Aires, para falar sobre o que é a ancestralidade a partir da filosofia do Candomblé. O trabalho emocionou a turma. Muitas crianças nunca tinham ouvido falar sobre orixá e ancestralidade. Foi uma importante oportunidade de contato com a mitologia africana. Recentemente, Pollyana foi contemplada com uma vaga para seu filho na escola Cirandas, se tornou mãe da escola e poderá contribuir ainda mais com a comunidade escolar.
