Matéria publicada em 28 de junho de 2024.
A atuação social da ONG Educar+ tem o foco de suas ações no combate ao analfabetismo e no estímulo à literatura na comunidade Final Feliz, bairro Anchieta-RJ. Sua missão é expandir a perspectiva de mundo de crianças e adolescentes por meio da educação e da cultura, contribuindo com o seu desenvolvimento social e humano. Para isso, desenvolvem projetos como o Game Nóis Juntos; LiteraMundo; Alfabetização; Audiovisual; Oficina de Arte; Capoeira; três destes apoiados pela Saúva. O aumento das parcerias e de empresas que apoiam a ONG tem possibilitado que sua atuação vá além das crianças e adolescentes e comece a chegar às famílias, maioria delas formada por mães solteiras. Tainá Brito, pedagoga e gestora da Educar+ ao lado de Carol Santos, conta que elas identificaram algumas necessidades das famílias que a ONG poderia atuar e que o trabalho com as crianças só vai se efetivar com o entendimento da completude de sua vida familiar e social. Nesse contexto, a ONG contratou uma assistente social que está fazendo um diagnóstico das necessidades das famílias e está oferecendo um curso de Tranças para as mães, que podem aumentar sua renda rapidamente.
Tainá Brito comenta sobre a preocupação da Educar+ em não fazer um trabalho muito setorizado, para que as crianças consigam superar seus desafios e, para tanto, tem se aproximado das famílias. Muitas vezes, um comportamento agressivo, faltas e problemas na escola podem ser indicativos de complicações na estrutura familiar, que em sua maioria é de mães solteiras. A partir desse diagnóstico, a ONG passou a promover encontros com as mães que trouxeram relatos de problemas em suas vidas e em seu cotidiano familiar que ainda não estavam em seu radar.


Foi a partir do relato de uma situação emergencial de uma família, quando um muro de sua casa desabou após uma chuva forte e a subsequente dificuldade em poder ajudar e direcionar para algum órgão público competente, que as gestoras perceberam a necessidade de ter uma assistente social dentro do projeto. Essa profissional pode interagir com as famílias, diagnosticar os problemas que elas possam enfrentar e colaborar com soluções.
Atualmente, a ONG Educar+ tem outros três parceiros além da Saúva e um deles se comprometeu com o pagamento de uma assistente social, que já iniciou o trabalho com as famílias. O primeiro diagnóstico vem de um mapeamento delas, suas necessidades e o preenchimento de um formulário para identificar o quadro socioeconômico de cada uma, além do que elas esperam da assistente social. Uma dificuldade inicial desse trabalho é ressignificar a importância da assistência social, que, juntamente com os Conselhos Tutelares, não são bem vistos dentro da comunidade. A profissional tem explicado a função da assistente social e dos conselhos tutelares, que devem acompanhar de perto as famílias para poder ajudá-las para que os direitos das crianças sejam totalmente respeitados.
A segunda etapa desse trabalho é contatar os órgãos públicos competentes, como a Clínica da Família, apesar da ausência de equipamentos e políticas públicas na região do Complexo do Chapadão ser um fato. “Nós descobrimos recentemente que não temos acesso à medicina preventiva, porque o nosso CEP é o único que está descoberto desse benefício”, lamenta. Com isso, as famílias mais carentes não têm acesso à Clínica da Família e de agentes de saúde que visitam as comunidades. A atuação da assistente social, Bianca Rocha, tem sido de exigir dos órgãos competentes que atendam a comunidade e de identificar outros problemas sérios como de crianças que estão fora da escola e que sofreram abusos.
Tainá fala da alegria em completar o quadro de profissionais que trabalham na ONG, como a psicóloga e a assistente social, que atendem tanto as crianças quanto as famílias. “Estamos com uma estrutura muito boa para executar o nosso trabalho e ter um resultado de impactos muito bons na realidade das crianças e das famílias”, afirma.
Curso de trancista qualifica mães para o mercado de trabalho
As mães das crianças atendidas pela Educar+ enfrentam uma grande dificuldade de conseguir uma inserção no mercado de trabalho. Isso veio à tona no grupo de acolhimento e surgiu a ideia do curso de trancista. A maioria dessas mães tem mais de dois filhos, são dependentes do Programa Bolsa Família que não dá conta de todos os gastos e não conseguem trabalhar em postos que tenham que ficar fora de casa o dia inteiro. Até as creches próximas à ONG são difíceis de conseguir vagas. O dilema dessas mães é: “quero trabalhar, preciso ganhar dinheiro, mas não tenho qualificação. Como faço isso tendo dois ou três filhos, com quem eu vou deixá-los? Esses são questionamento das mulheres, quando são mães, sozinhas e precisam sustentar seus filhos”, conta Tainá.

A ideia do curso de trancista surgiu para tornar possível o aumento da renda, podendo trabalhar em casa. A ONG entrou em contato com uma profissional, que já havia sido voluntária no projeto e deram início ao curso. Tainá cita algumas vantagens das tranças, que as mães adoram, o aprendizado é fácil, utilizam pouco material e já podem começar imediatamente com amigos e familiares.


O curso está sendo feito por dez mães e tem duração de dois meses, com encontros uma vez por semana. A expectativa é que elas se qualifiquem e possam gerar renda, mas que sirva também para estimular e motivar a fazer ou aprender outras coisas.
“Através do formulário da Bianca, nós percebemos que essas mães só estudaram até a 5ª série e nem completaram o ensino fundamental ou ensino médio. Por estarem na ONG, nesse lugar de aprendizagem, nós conseguimos incentivar algumas delas a voltar a estudar. Por isso é importante esse acompanhamento de perto, porque conseguimos preencher algumas lacunas. Para entrar no mercado de trabalho é preciso estudar, se alfabetizar e buscar um ENEM, um EAD ou outras alternativas. Mas alguém tem que mostrar os caminhos para que elas escolham o melhor por elas mesmas e esse é o trabalho do Educar+, como nessa oficina de emprego e renda com a trancista Jéssica”, conclui.