Matéria publicada em 12 de junho de 2024.
O Laboratório Terra Orgânica segue seu trabalho de conscientização da importância da compostagem orgânica, da gestão própria dos resíduos e da expansão do projeto. Com o Edital de 2024, apoiado pela Saúva, o projeto uniu o aporte financeiro para as três iniciativas selecionadas no início deste ano; o compartilhamento do conhecimento construído pela Terra Orgânica no trabalho comunitário para a compostagem e a participação de outras iniciativas interessadas em replicar esse modelo de gestão de resíduos.
A Associação que trabalha com a difusão da compostagem comunitária, a Compostagem Terra Orgânica, nasceu em 2021 a partir de uma iniciativa local no bairro Campeche, em Florianópolis (SC), onde um grupo de vizinhos resolveu tomar a responsabilidade pela gestão de seus próprios resíduos orgânicos através da compostagem. Ao se depararem com suas potencialidades decidiram criar um modelo replicável e escalável de um sistema descentralizado de compostagem comunitária. Assim surge o Selo Terra Orgânica, cuja proposta é ampliar o volume de resíduos processados no Brasil.
Há três anos passaram a fazer parte da Rede Muda Outras Economias e se tornaram uma Comunidade que Sustenta a Arte e Agroecologia (CSAA) vendendo cestas de alimentos agroecológicos e promovendo atividades culturais e de educação ambiental, ampliando a área de atuação de sua central.


Edson Prado, um dos gestores do Laboratório Terra Orgânica, conta que, nos últimos anos, foram testadas algumas experiências em compostagem com parceiros da Rede Muda Outras Economias e Saúva. “Todos os desafios de produzir o composto orgânico, fazer as hortas, produzir os alimentos e vender as cestas foram vividos pelo coletivo”, diz ele.
Os três selecionados no Edital estão recebendo em 2024 uma consultoria completa em compostagem de resíduos orgânicos. Além disso, as iniciativas não contempladas receberam material teórico para iniciar suas compostagens e têm participado de algumas reuniões. “O Ilê Asè Egi Omin, o pessoal do Jardim do Beija Flor e o CAJUS – Coletivo Agroecológico da Juventude do Sepé- no Assentamento Sepé Tiarajú têm recebido um acompanhamento bem próximo, tanto na participação nos grupos como nas consultorias”, conta Prado.

Em um primeiro momento, ficou definido que abril seria o mês onde as iniciativas começassem de fato a fazer o manejo e registrar tudo através da plataforma Terra Orgânica, que é esse site que organiza esses dados das compostagens. “Isso é importante, ter a ferramenta para poder registrar todo o impacto causado pela compostagem”, explica. O processo é este: fez o manejo; contabilizou; explicou a forma como foi feita, de acordo com o que foi ensinado; fez o vídeo da comprovação e subiu para a plataforma.


“Fizemos as duas primeiras sessões de consultoria dizendo como iniciar uma central de compostagem, e depois, como iniciar uma leira e como manejá-la. Então, algumas iniciativas já prosperaram, como o Ilê Asè Egi Omin, com reaproveitamento dos resíduos dos seus trabalhos religiosos, a Beija flor idem, querendo desenvolver uma metodologia pedagógica que seja boa para o corpo, uma atividade física. Os objetivos deles são diferentes, cada um com seu foco. O Sepé Tiarajú também, coletivo agroecológico da juventude, um assentamento muito antigo. A ideia deles é associar essa gestão de resíduos com educação ambiental para as crianças, porque tem uma escola dentro do assentamento”, conta Edson Prado. Após um período de negociação, a Escola Municipal Ilka Monici Vilela dos Reis, em Serra Azul- SP, está cedendo o lixo orgânico gerado na preparação da merenda para o projeto de compostagem do assentamento denominado “Revolução dos Baixinhos”, que já está sendo feito.


A proposta da Terra Orgânica vai além de venda, por mensalidade e sazonalidade, de cestas de produtos orgânicos: o projeto desenvolve uma comunidade que atua em benefício de um interesse comum: consumir alimentos agroecológicos produzidos em um sistema que regenera a Terra, num modelo que é pensado desde a produção até o descarte, com a compostagem.
A experiência de quatro anos do coletivo no trabalho com a comunidade deu a eles uma bagagem para facilitar todo o processo de compostagem de resíduos orgânicos. Eles aprenderam uma maneira mais fácil de chegar até o vizinho, explicar de que maneira é mais fácil convidar voluntários e, em seguida, repassar o dinheiro de quem tem para quem quer fazer, mas não tem o recurso. Daí surgiu a ideia da plataforma Terra Orgânica, que é um site onde todos podem cadastrar suas experiências de compostagem e receber o suporte técnico.
Prado diz que, no último encontro, foram estipuladas algumas metas para essas iniciativas. “Tínhamos colocado um prazo muito curto para o pessoal se organizar e começar e registrar essa compostagem, e por isso criamos datas novas. Então, maio ficou sendo o mês do início do manejo, para que seja criada a rotina. E a partir de junho começar a bater a meta estipulada pelo edital, que é de 100 litros semanais. E não é difícil, qualquer escola produz esses 100 litros”, afirma.

Neste último encontro em maio, foi colocado o tema da compostagem comunitária, uma ideia que o laboratório quer fomentar. “A ideia é essa, a comunidade fazendo e transformando um espaço aonde não tinha nada em um lugar de convivência, de educação ambiental. Pensando nisso, a gente entrou no assunto do envolvimento social, para trazer uma visão da compostagem para além do ambiental”.
Ele lembra que, em um projeto comunitário de bairro, é preciso ir na casa das pessoas, olhar no olho, explicar o processo. “A rede social é importante para divulgar, mostrar o que está sendo feito. Mas pra sua comunidade, é o olho no olho. É isso que queremos abordar no encontro deste mês de junho”, explica o gestor.
O trabalho de compostagem é uma atividade que movimenta o corpo, mas é um conhecimento que não é comum, observa Prado. “Em geral as pessoas ainda têm um conhecimento raso sobre o assunto, e elas têm curiosidade, tendem a se interessar. Nosso objetivo é fazer bater essa meta de 100 litros mês de composto orgânico, que não é nada de mais”.

O trabalho no Laboratório Terra Orgânica está focado na plataforma, para disseminar o conhecimento e fortalecer a gestão e as consultorias. “Já temos cinco anos dessa iniciativa. Queremos ir atrás de outros incentivos, ou seja, expandir nosso trabalho. Chegaram duas pessoas novas, a Camila e a Júlia, que estão nos ajudando em outros contatos com o Legislativo, e com o poder público. Queremos desgarrar um pouco desse projeto de bairro e expandir nosso trabalho. Hoje por exemplo, no nosso espaço a gente tem condição de triplicar a quantidade de resíduo que a gente gera. Temos olhado muito para esse lado da gestão de resíduos, e não só da compostagem. E também queremos ir atrás do que temos direito. Tem uma lei municipal em Florianópolis que prevê incentivos para a compostagem comunitária, e até o momento não estamos recebendo nada. Queremos nos organizar para acessar este incentivo”.
Edson Prado diz que existem muitos assuntos a serem abordados dentro do tema da educação ambiental. “Queremos levantar a bandeira da compostagem, mas fora da bolha. Levar pra lugares que ainda não têm esse costume. Estamos no Youtube, produzimos muito conteúdo pra lá, porque é onde a gente divulga nossa verificação de volume. Criamos diversos vídeos com todas as tapas da compostagem e informações sobre os acessórios necessários, e nosso canal está crescendo. Toda consultoria que a gente faz, a gente cria um material de apoio. E a partir disso, vamos criar infoprodutos, que já vai gerar algum recurso. Muita gente nova passou a nos seguir, e lá é a melhor plataforma pra vender produtos”, conclui.