A Fazenda São Luiz em São Joaquim da Barra/SP, que abriga o Projeto Arte na Terra, comemora seus 100 anos de existência com grandes celebrações e encontros. Por ser uma data marcante e especial, as comemorações foram realizadas em três momentos: Uma em outubro de 2022, reunindo os antigos e atuais moradores e colaboradores da Fazenda. Compareceram 180 pessoas num encontro muito emocionante recheado de memórias e histórias. Nesta ocasião, foram realizadas entrevistas com os antigos moradores, resgatando fatos e lembranças da história do lugar; Outra celebração em novembro de 2022, se uniu à comemoração pelos 20 anos do Projeto Arte na Terra e juntou integrantes da equipe do projeto, atuais e de outros tempos, e parceiros regionais do “Arte na Terra” e da Fazenda, entre professores, artistas e ambientalistas da região; Por fim, em outubro de 2023, a festa foi com a família, em diversas gerações que descendem da Fazenda São Luiz. O evento familiar teve o planejamento e organização dos irmãos Rodrigo e Andrea Junqueira. Foram convidadas aproximadamente 300 pessoas, descendentes de Marico e Guiomar, e as famílias se organizaram para comparecer em caravanas. A festa contou com uma banda de música caipira regional – Joaquim e José e banda, um almoço e a projeção de um minidocumentário produzido por Raquel Valadares e Henrique Cartaxo, com entrevistas e imagens históricas, que emocionou a todos. A árvore genealógica da família foi atualizada com a contribuição dos presentes na festa.
Neste encontro foi inaugurado o Centro de Memória da Fazenda, apoiado pela Saúva,apresentando uma Linha do tempo, que conta a história da Fazenda com suas várias gerações que se sucederam, e uma exposição de equipamentos e implementos antigos conservados e identificados. No porão da tulha, uma iluminação cênica apresenta a engrenagem do maquinário do café, onde uma turbina hidráulica construída entre 1915 e 1922 o movimentava. Também foram colocadas placas demarcando as áreas de beneficiamento do café de cada fazenda (após a morte do patriarca, os filhos continuaram beneficiando seus cafés nesta fazenda). Este maquinário do café foi estruturado e inaugurado em 1922, quando a sede ainda era em outro local, no Retiro do Marimbondo. Em 1923, D. Guiomar, ao ver que a Fazenda São Luiz possuía água encanada e energia elétrica, gerada a partir de turbinas movidas pela queda d’água da cachoeira, não teve dúvidas e se mudou com a família para o lugar que faria história.
A família sempre teve um grande vínculo com a terra ao longo dos tempos e das gerações, porém hoje, muitos moram longe e não conhecem a história da fazenda, sua ancestralidade, constata Denise Amador. Ela lembra que “foi uma oportunidade que motivou as famílias, trazerem seus filhos para conhecer as origens da fazenda, que é fruto de muito trabalho e dialoga com a própria história do Brasil”.
“Marico herdou uma grande parte de terra, com 16 anos de idade, no fim do século XIX. Com muita obstinação, envolvimento e trabalho construiu a Fazenda com a colaboração de muitos trabalhadores – imigrantes (portugueses, italianos, japoneses, russos…) e locais. Denise lembra da postura inovadora do Marico Junqueira, no início do século passado, “de aproveitar a força da água da cachoeira para movimentar o maquinário do café e gerar energia elétrica. Depois seu filho mais velho, Nelson Junqueira, sempre estava à frente das inovações na agricultura, foi um dos primeiros a produzir sementes de milho e plantar soja na região. Cada qual com a sua própria visão de agricultura, em seu tempo, sempre foram pioneiros” reflete. Isso conversa com o olhar visionário do Rodrigo Junqueira, seu bisneto, que há 27 anos vem realizando um processo de transição agroecológica através das agroflorestas, restauração florestal e plantio de árvores, redução e eliminação do uso de agrotóxicos, e de toda uma mudança de postura na relação com a terra, os seres vivos, e todo o meio.
Denise Amador conta sobre a importância de revisitar a história da fazenda e seus fundadores, recuperar antigas imagens e filmes, valorizar todo o trabalho realizado nesta terra por muitas gerações. “Conhecer a história é fundamental para entendermos o presente e planejarmos o futuro”, conclui. Hoje a Fazenda São Luiz é um espaço de educação, um centro de referência em agrofloresta, um local de trocas de experiências e aprendizados agroecológicos e ambientais, além de um ponto de encontro de pessoas afinadas com a perspectiva de uma coexistência harmônica com o planeta. O Centro de memórias cumpre o papel de apresentar aos diversos visitantes da Fazenda um pouco de tudo que foi realizado neste local extraordinário ao longo destes cem anos.