A retomada das atividades na Escola Comunitária Cirandas (Paraty/RJ), após as férias do meio do ano, veio com empenho ampliado na formação antirracista. Tanto equipe da escola quanto alunos são foco de projetos contínuos que abordem essa prática e visão tão necessários ainda hoje em dia. Nestes próximos meses, as atividades de formação da equipe pedagógica terão foco no tema e nas mudanças de conceitos e práticas que garantam um mudança de currículo pertinente à realidade e às perspectivas de futuro.
Jussara Andrade, diretora da escola, conta que é o início de um grande projeto a se desenvolver nesse ano e no início do próximo, a fim de dar subsídios para a construção de currículo sólido também neste aspecto. Um dos objetivos, aponta a diretora, é “obter um conhecimento maior para levar para as crianças; e que essa formação atinja também as famílias: essa mudança tem que ser no todo. Elas (famílias) precisam trabalhar de forma integrada com o que trabalhamos com as crianças; e que essa criança leve esses valores para casa”.

Jussara explica que a implementação de uma educação que seja também antirracista carece de ser desejo de todos, famílias, professores, alunos e todos da comunidade escolar; a possibilidade de essas medidas se tornarem efetivas e concretas é muito maior: “A escola está caminhando cada vez mais para garantir esse acesso de uma forma mais igualitária; e reconhecer que erramos e precisamos mudar nossos conceitos e práticas”, complementa.
O corpo pedagógico da Cirandas percebe que muitas famílias não abordam esse tema e, na escola, tudo aflora, tudo aparece e elas (educadoras) têm que estar prontas para cuidar e trabalhar bem essas informações: a escola é “esse local de transformação, de hábitos, de preconceitos, de intolerância. E estamos muito comprometidos; a palavra é ‘comprometimento’ com esse projeto e com a questão do racismo”, afirma Jussara.

Parcerias que estimulam a diversidade
Paraty é uma cidade cultural por natureza, com um Quilombo reconhecido e duas comunidades indígenas. Jussara conta que “elas estão no Centro Histórico com seus artesanatos e que muitas vezes passam desapercebidas: ‘aquilo não te incomoda? Como elas estão sobrevivendo?’ Então, vamos trazer esse olhar, para enxergar que temos um espaço, um território e que, na maioria das vezes, está invisível, coberto por uma névoa”. A ideia é que os alunos possam perceber o que está acontecendo com essas comunidades, que estão à margem da sociedade, sendo discriminadas e não sendo contempladas e respeitadas. Por isso, a Cirandas passou a adotar uma postura proativa no plano pedagógico que contemple abrir o olhar e promover a empatia com todas as pessoas.
A Cirandas, então, promoveu uma visita dos alunos e professores ao Quilombo do Campinho, origem de alguns estudantes e do colaborador Nélio Martins. Lá, o grupo conheceu a produção de café orgânico da comunidade, do plantio à torra. Outra parceria da Cirandas com foco na diversidade é com o Pajé da Aldeia Araponga, Marley Tupã: ele está em sala de aula de quinze em quinze dias e já tem proximidade com as crianças da Cirandas. Sua disciplina é a Literatura do brincar. Através do brincar e da contação de histórias, ele estimula a leitura.

Além disso, outro grupo de aluno e professores da Cirandas passeou pelo Caminho do Ouro, em Cunha/RJ, e o fez com outro olhar, conduzido por uma família que mora lá na região e pode contar aquela história “que passa também pela escravidão, pelo ciclo do ouro e por todo esse processo muito doloroso da nossa história para que Paraty pudesse chegar ao que é hoje. Então, tivemos vivências muito importantes e que vão ter continuidade nesse segundo semestre”, conclui Jussara.