A Escola Waldorf Quintal Mágico nasceu em fevereiro de 2007, da ideia de um grupo de pais que buscavam uma educação que fosse diferenciada e de qualidade, mas que fosse acessível a famílias com diferentes realidades socioeconômicas. A escola adotou a pedagogia Waldorf, baseada na filosofia da educação de Rudolf Steiner, a antroposofia, que procura integrar de maneira holística o desenvolvimento físico, espiritual, intelectual e artístico dos alunos. A gestão da escola é participativa e feita através de comissões temáticas voluntárias. Ela também oferece cerca de 38% das vagas para alunos bolsistas, contemplados com bolsas de 20 a 100%, por acreditar na diversidade cultural de uma comunidade inclusiva.
Luciana Penafortes é mãe, professora e responsável pelo RH e administração da Quintal Mágico, ela conta que, no início de 2023, a escola iniciou um projeto de reforço escolar para alunos dos turnos da manhã e tarde. Esses alunos não tinham dificuldades cognitivas, mas muitas vezes chegavam à escola com cadernos incompletos. Com essa dificuldade de alguns alunos da turma do 8° ano, a escola criou uma espécie de dependência, para que eles conseguissem se recuperar sem perder o ano.
As aulas de reforço começaram e março e no fim do primeiro semestre eles já apresentaram avanços, produzindo textos melhores e mais avançados em matemática. Essas crianças participavam do turno da manhã, a escola comprava um almoço para ser servido na escola, faziam uma pequena pausa e iam para as aulas de reforço. Esse primeiro projeto só foi possível com o apoio da Saúva em 2023, pois a escola não tinha recursos suficientes. E no primeiro semestre eles também receberam a visita da médica antroposófica, Dra. Cinzia Antonini, que já havia iniciado esse trabalho de acompanhamento antroposófico dos alunos ano passado e esse ano concluiu os 5 PDIPs (Projeto de Desenvolvimento Individual Pedagógico) iniciados ano passado. Mas novas crianças passaram a ser acompanhadas e o trabalho ainda segue.

Luciana Penafortes conta que elas observaram algumas questões comportamentais nos alunos mas não estavam conseguindo lidar com isso e nem traçar uma meta para aquelas crianças, mas já sabiam que precisavam de uma adaptação curricular de cada criança com diagnóstico. “O médico antroposófico olha para a biografia da criança, para o corpo físico, se a pele está ressecada ou não, olha para a forma de falar, se tem algum problema de motricidade… Então a criança é vista como um todo, em disciplinas diferentes, como está se comportando na aula de educação física, como está se comunicando com os amigos, como está socializando”, explica Penafortes.
A partir disso, a Dra. Cinzia e sua equipe desenvolveu os PDIPs (Projeto de Desenvolvimento Individual Pedagógico), onde foi traçado um plano de desenvolvimento da criança por um tempo determinado. Esse plano será revisitado sempre que necessário, de acordo com o comportamento e mudanças que a escola vai percebendo nas crianças. Segundo Luciana, muitas escolas Waldorf são procuradas por famílias em que a criança não se adapta ao sistema tradicional de ensino e muitas delas com diagnósticos.
Diversidade cultural e sócio econômica
Esse perfil de crianças com necessidades especiais vem crescendo não só em Paraty como em todo país e no estrangeiro. Luciana conta que nem sempre uma criança com diagnóstico trará aos professores os maiores desafios em sala de aula, “porque as crianças que às vezes nos dão mais trabalho não são crianças que tem alguma questão médica”. A falta de apoio familiar, por exemplo, requer muito mais atenção da escola àquela criança.

A escola também tem aulas de violino para o 3° ano, mas não possuíam a quantidade de violinos necessários para as aulas. As aulas dependiam dos alunos que compraram seus instrumentos emprestassem para os novos alunos e isso não estava funcionando. Mas a escola fez uma aquisição de violinos para suprir essa demanda, principalmente dos alunos bolsistas. “Não adianta acolher um bolsista e não acolher de verdade”, explica.
Durante a pandemia, elas perceberam que muitos alunos saíram da escola para uma escola pública municipal para receber vale-transporte e cesta básica, e isso era um diferencial. Por isso, a escola começou a comprar as refeições para as crianças do turno da tarde, pois era muito difícil para as famílias de bolsistas assumirem esse custo. E também forneceram o vale-transporte, e essa condição possibilitou a permanência dos alunos bolsistas na escola. A escola e as famílias também se preocupam em contribuir para a aquisição de materiais pedagógicos para os alunos bolsistas. Luciana explica que “não adianta abrir as portas da escola para os bolsistas e não dar as mesmas condições para eles se sentirem igual aos demais dentro da sala de aula”.
Hoje a escola atende 206 alunos e vai até o 8° ano, mas funciona de uma maneira um pouco diferente de outras escolas Waldorf pois tem o turno da tarde para o jardim e maternal. Em Paraty, muitas pessoas vivem do turismo, trabalham em pousadas e restaurantes, e precisam que os filhos fiquem na escola à tarde. Luciana conta que a Quintal Mágico tem 33 funcionários e, como em toda escola Waldorf, eles se dividem em várias funções com muito amor, se doando e fazendo todo o possível para que o projeto se realize.