As crianças e jovens atendidas pela Ong Educar+, no Complexo do Chapadão/RJ, já sabem que aprender e brincar podem conviver ao mesmo tempo e que nunca é tarde para começar a ler. Aliás, o incentivo à leitura é um dos principais objetivos da ONG e, para isso, é pré-requisito que todos estejam alfabetizados. A realidade da Comunidade Final Feliz, onde está localizado o projeto, traz alguns jovens que não puderam se alfabetizar oportunamente por diversas razões. Assim, as educadoras do projeto desenvolveram um programa contínuo de alfabetização para que esses jovens aprendam a ler o quanto antes; e possam também descobrir o universo da leitura. Em parceria com a Rede Muda Outras Economias, a ONG desenvolve o Game Nóis Juntos, projeto no qual os alunos entram num jogo com vários desafios para aprendizagem. Ao serem cumpridos integralmente, os jogadores/alunos recebem recompensas na moeda complementar Muda para trocas na plataforma da Rede.
Tainá Brito, uma das gestoras à frente da Educar+, conta que as atividades pedagógicas da ONG buscam diversificar as metodologias de aprendizado da leitura para contribuir nos processos de ensino das crianças e jovens. Ao encerrar um ciclo, trabalhado lá semestralmente, as educadoras realizam uma premiação como forma de marcar o fechamento de uma etapa. E esta metodologia buscou solucionar uma questão importante no que diz respeito à forma como algumas crianças e jovens lidam com dificuldades. Umas das observações das educadoras ao longo do semestre é que as crianças se mostravam dispersas e, infelizmente, com tendência a se expressarem de maneira violenta, conta Tainá. Assim, como o Game também traz pontuação quanto ao comportamento , o grupo pedagógico resolveu fazer o resgate de Mudas de uma maneira diferente.

“Resolvemos, ao invés de eles pegarem essas mudas e simplesmente comprarem o que eles quisessem, fazer um leilão das coisas. Então, eles (crianças e jovens participantes do projeto) fizeram uma lista do que queriam, nós compramos e montamos nossa lojinha”, explica Tainá.
Dessa maneira, quem tem mais Mudas consegue trocar por presentes mais bacanas e quem não desenvolveu as tarefas/desafios percebeu a importância de fazê-los; além de se comportarem melhor e contribuir com os colegas para resgatar mais Mudas e, consequentemente, melhores prêmios.



Tainá Brito conta que o Leilão veio como forma de aumentar a motivação das crianças e para entenderem esse mecanismo de esforço e recompensa; ainda que buscam não condicionar totalmente o aprendizado à premiação. É importante que entendam que a leitura e a alfabetização já são um benefício em si mesmas. Ao longo do primeiro semestre, as educadoras trabalharam conceitos de coletividade, de cidadania, de que não se vive sozinho, de que é preciso também pensar nos outros e de que precisamos dos outros para viver. E todos os desafios e atividades propostos passavam pela coletividade. A intenção desta metodologia, explica Tainá, é que “eles vejam que unidos vão conseguir alguma coisa e que, separados, não conseguem. Então, trouxemos mais exemplos: falamos sobre as O.D.S. (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU – um esforço coletivo pelo bem do planeta) pra que eles vejam a importância da educação, do cuidado com o outro, com o meio ambiente e com os espaços públicos”.
Alfabetização
O projeto de alfabetização na Educar+ é o de maior duração. São três níveis de alfabetização:1 – para crianças de 3 a 6 anos (período normal de alfabetização); Nível 2, para crianças de 6 a 10 anos (que já foram alfabetizadas mas tem dificuldades de leitura); Nível 3 para crianças de 10 anos em diante (crianças e adolescentes que já passaram do período de alfabetização e não sabem ler).
Hoje, algumas crianças do Nível 3 que já estão prontas para pular da alfabetização para uma nova etapa mais avançada de aprendizado. Uma das estratégias do sistema aplicado na Educar+ é promover os adolescentes a monitores do projeto, para que sintam o protagonismo e permaneçam motivados.
“Quem mais consome livros, quem mais faz empréstimo de livros são as crianças da alfabetização. Elas andam com os livros na mão, não sabem ler mas olham as imagens e lêem as imagens para nós. E nós acreditamos que é nesse processo, e na dinâmica que existe em sala de aula, que acontece a alfabetização”.
Tainá Brito – Gestora Ong Educar+