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Escola comunitária cirandas cria rede de apoio a famílias e crianças em situação de vulnerabilidade

Conversamos com Débora Saraiva, coordenadora de comunicação da Escola Comunitária Cirandas, educadora e percussionista com ampla pesquisa sobre o samba, música e poesia popular brasileira, sobre a Rede de Solidariedade e ações de combate à fome em famílias carentes da região de Paraty, Rio de Janeiro, criada por pessoas envolvidas com a escola e os desafios que vêm enfrentando atualmente.

A escola tem 45 crianças matriculadas, o que lhes dá uma grande possibilidade de controle sanitário, porém, mesmo assim, buscaram fortalecer ainda mais os protocolos de proteção, com acompanhamento da Vigilância Sanitária e Secretaria da Educação. Esta atuação lhes conferiu o selo de Escola 100% Segura.

Ainda assim, Débora Saraiva, nos conta que “escola 100% segura não existe, então, estamos tomando muito cuidado: as turmas não estão inteiras, tem turmas com aulas online e outras com aula presencial. A carga-horária online é menor do que a carga-horária presencial. Nossa comunidade não quis massacrar as crianças com tantas horas em frente à tela, trabalhamos muito com atividades práticas em casa e é um grande desafio esse retorno”.

A escola voltou às aulas em modo híbrido, com turmas reduzidas presencialmente e aulas online

Apesar dos professores já terem tomado a 1ª dose da vacina, e estarem na fila para tomarem a 2º em setembro, Débora lamenta que essa proteção já deveria estar estendida a toda a população, além da necessária garantia de alimentação com auxílio digno, o que ainda é um desafio: “Poderíamos estar com uma proteção maior, assim como nos países europeus, mas não é a nossa realidade, então, estamos voltando às aulas e nos mobilizando muito socialmente em campanhas internas no município, e também criando essa rede de colaboração, porque, caso contrário, só ficaremos chorando as pessoas que perdemos. A vida passa rápido e precisamos tocar o barco nesse sentido”. Débora conta que estão “bem firmes nesse propósito e contando sempre com a proteção divina, espiritual, dos guias, dos caboclos da floresta, de Jesus, de todo mundo, pois nossa comunidade é bem diversa”.

Ela acredita que a escola tenha um papel fundamental na manutenção das bases mais importantes da sociedade: no papel de fazer micropolíticas nos espaços de convivência das crianças, e também para criar soluções para os problemas locais que estão acontecendo com as famílias dos discentes, como o aumento da fome: “Com a pandemia, que está terrível, eu perdi um amigo muito próximo, muito conhecido aqui em Paraty, e todos choraram um tempo, mas agora seus alunos se juntaram e estão fazendo o projeto dele seguir. Juntamos pessoas para prestar solidariedade a quem está passando fome e estamos conseguindo. Caiu uma árvore em cima de uma casa de um projeto de mulheres lésbicas em Paraty Mirim, local este que sofre violência e ataques, mas a comunidade está se mobilizando para reconstruir suas casas. Então, essas dificuldades criam novas formas de colaboração que precisamos ter. Tá sendo um grande impulso, porque, se temos o privilégio de ter a nossa casa, comida e locomoção, podemos fazer essas ações colocando isso em prol da comunidade”.

Em sua atuação, Débora Saraiva fortalece o trabalho de resgate e expressão da cultura popular brasileira através das Cirandas, Auto do Boi, Maracatu e outros ritmos

Débora complementa que o objetivo agora é que todas as crianças estejam na escola, alimentadas, com o corpo e a mente saudáveis para aprender. Ainda, trabalham para que as famílias recebam cestas básicas, e possam se proteger do frio, do desespero e da fome. A partir daí, será possível fortalecer os vínculos: “a escola se torna também um espaço de saúde mental, de elaboração pra tudo que estamos vivendo, porque é pra lá que a criança trás o que ela vive”.

A Rede de Apoio da escola atende famílias vulneráveis

“É um espaço sagrado que se tornou fundamental agora na pandemia, porque vimos que o conhecimento por si só alimentou somente uma parcela das crianças do ensino médio que tem estrutura de família, casa. Mas, se elas só tem o conteúdo, mas não possuem uma estrutura mínima, podem ficar depressivas, viciadas em jogos, por isso, nosso ensino é transformador e tenho fé de que sairemos fortalecidos de tudo isso. Agradeço muito esse espaço de escuta, a Saúva, o Leandro Almeida, essa família e todos esses projetos que se apoiam nessa grande luta”, conclui.

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