Estes primeiros seis meses de trabalho com Educação ambiental do projeto Arte na Terra, na Fazenda São Luiz (São Joaquim da Barra/SP), têm como marca a amplitude de público e a diversificação do alcance do projeto. Estágios Agrícolas promovidos para as escolas Waldorf de São Paulo, Baurú, Piracicaba e Ribeirão Preto, parceiras de longa data; imersões para grupos do SESC/SP, atendendo ao RH da entidade; e troca de saberes com produtores do MST/MG para conhecer a produção agroecológica e agroflorestal da Fazenda: estas foram as ações do Arte na Terra que vêm se consolidando no mercado de educação ambiental e no aumento de amplitude de público que o projeto alcança com resultados positivos.
Denise Amador (Potô), idealizadora do projeto, destaca que é muito importante criar oportunidades para as pessoas conhecerem as agroflorestas, mergulharem numa cachoeira, verem o trabalho com as sementes, conhecerem a história da fazenda, que dialoga comparte da história do Brasil, e enxergarem a produção agroecológica através de atividades lúdicas, laborais e artísticas. Os benefícios são positivos de forma muito ampla: seja considerando os alunos das escolas, funcionários ou comunidade do SESC, produtores agrícolas e, principalmente, população como um todo, além de fortalecer o trabalho realizado na fazenda. De acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), este sistema proporciona equilíbrio entre os interesses comerciais e a sustentabilidade das produções agrícolas, com regeneração dos solos, conservação da biodiversidade, produção da água, redução dos efeitos das mudanças climáticas, e colabora muito na eliminação do uso de agrotóxicos no Meio Ambiente.
SESC Ribeirão Preto
Desde 2014, duas vezes ao ano, o Arte na Terra recebe grupos de associados do SESC de Ribeirão Preto na Fazenda São Luiz. Nesta imersão, participam família, de avôs a netos, que vão à Fazenda para vivenciar um dia em contato com a natureza, ativando a conexão e mudança de postura humana frente aos desafios do nosso tempo. O perfil deste grupo é diferente dos demais que frequentam o Arte na Terra. Segundo Potô, “queremos alcançar oscidadãos que normalmente não conecem e param pra pensar em agroecologia e nunca ouviram falar de agrofloresta”. Este alcance, para além das crianças e jovens das escolas que participam das ações do projeto, ajuda na conscientização de adultos, idosos e favorece a venda dos artigos agroflorestais produzidos na fazenda.

No roteiro da visita, o Arte na Terra promove a integração dos participantes com a agrofloresta através de jogos e dança, o que estimula a sensibilidade logo na chegada; depois, fazem um lanche todo produzido na Fazenda, em fogão à lenha, e uma trilha na mata ciliar com dinâmicas usadas para ampliar na percepção e conexão com a natureza. Uma das dinâmicas é a caminhada silenciosa, em que as pessoas são conduzidas uma a uma por um trecho da floresta, em silêncio. Outra dinâmica é o “Ver de Perto”, atividade em que cada um escolhe um ser vivo da floresta para observar, se conectar e depois escrever um poema ou transcrever alguma inspiração que venha desse contato.

O grupo do SESC ainda visitou o cafezal agroflorestal, de 18 anos; as melíponas, as abelhas nativas sem ferrão, de importância ecológica ímpar; conheceu a parte histórica da fazenda e o Centro de Memória, que dialoga com a ancestralidade de muitos dos visitantes da região.
MST de Minas Gerais
A visita dos agricultores do MST/MG foi articulada pelo MST da região de Ribeirão Preto/SP. Após passarem pelo Assentamento Mário Lago e pela Fazenda Painal, também integrantes da Rede Agroflorestal da região de Ribeirão Preto, os agricultores mineiros estiveram na Fazenda São Luiz. Denise conta da emoção de recebê-los: “um grupo muito especial, de luta. Iniciam o dia com as místicas (açoes de arte usads pelos integrantes do MST em geral), cantando músicas, declamando poemas, com gestos, danças, falando do amor à terra e da luta por ela”.

O objetivo dessa visita técnica do MST, conduzida pessoalmente por Denise e Rodrigo Junqueira, foi conhecer as experiências agroflorestais da fazenda e descobrir meios de recuperar as atividades em seus territórios de Minas, onde a terra ficou contaminada após o trágico rompimento da barragem do Córrego do Feijão. De acordo com os agricultores do MST, o solo ainda está bem comprometido, oleoso e com um brilho que indica a presença de material indesejável, e o sistema agroflorestal é visto como uma forma muito eficiente para recuperar essas terras.
Potô conta que “o dia foi muito rico, de muita troca e construção de conhecimento: eles demonstraram muito interesse e organização; visitaram cinco áreas agroflorestais na fazenda, com estágios e produções diferenciadas”.
Estágios Agrícolas, história e pioneirismo
A Fazenda recebe estágios agrícolas de escolas com pedagogia Waldorf desde 2005 e, nos últimos anos, o Arte na Terra tem aumentado o calendário destas atividades com as escolas parceiras. Dentro da pedagogia antroposófica Waldorf, o adolescente de 14 anos está num momento de transição da vida na qual ele está se dirigindo mais para o raciocínio, para a capacidade de julgamento, ao mesmo tempo em que há um despertar da consciência do mundo. “Esta fase é muito complexa: é acompanhada da perda de ilusões e por compreender que, muitas vezes, os adultos praticam coisas diferentes do que falam. Então, a imersão de um jovem no ambiente voltado para a agricultura orgânica é muito positiva pois eles plantam e colhem seus alimentos; vivenciam a biodiversidade vegetal e animal da fazenda; e têm contato com as rotinas da produção agrícola, utilizando sua força e energia para as atividades, explica Anayra Lamas, nova gestora e educadora do projeto. Além disso, dentro da pedagogia Waldorf, a experiência com o trabalho de produção agrícola é inerente ao 9º ano escolar.

Anayra Lamas, que vem recebendo de Denise a gestão do Arte na Terra, conta que de março a junho a fazenda acolheu onze grupos, cinco estágios agrícolas e seis visitas de campo. No total, 325 pessoas participaram de trabalhos em Educação ambiental, numa região de transição entre os biomas do Cerrado e Mata Atlântica. A Fazenda possui cachoeiras, matas ciliares e encabeça o pioneirismo, desde 1997, na transição agroecológica nesta região do interior de São Paulo, tradicionalmente ocupada pela monocultura da cana-de-açúcar.

Outro ponto de destaque nesta ação com escolas com adolescentes e jovens é o cuidado com a alimentação: prioritariamente orgânica e agroecológica, grande parte do alimento que é consumido ali vem da horta da fazenda. Anayra traz para a experiência dos alunos o histórico do que comem “alunos e alunas das escolas anteriores plantaram; (os alimentos) são colhidos por este grupo; e eles sabem que estão plantando para escolas que virão futuramente”.

Em uma semana, adolescentes e jovens são divididos em grupos de trabalho para as atividades de manejo agroflorestal, horta agroflorestal, oficinas de plantas medicinais e com as abelhas melíponas, trabalho com as semenstes nativas da região, plantio de árvores, preparo de alimentos, retiro de leite, entre outras atividades diárias da Fazenda. As práticas de preparo do solo, cobertura, desenho da horta, plantio e colheita, são feitas com orientação do Rodrigo Junqueira e dos funcionários da Fazenda. Entre as atividades de trabalho, os jovens vivenciam atividades de conexão com a natureza nas trilhas, banhos de cachoeira, fogueira à noite com Sarau e observação de estrelas, e um convívio ímpar, sem conexão à internet e integração do grupo. No encerramento das atividades é realizado um mutirão com toda a turma reunida plantando, seguido de uma roda final com os depoimentos de cada um, de como se sentiram, o que aprenderam e as emoções vividas com esta imersão.
Dessa maneira, conexões vão sendo trabalhadas juntamente com a valorização do trabalho no campo e o próprio uso da força do jovem, da sua energia vital associada ao trabalho, que não é só braçal, mas também ligado ao ideal.