O que nos faz sentir pertencidos? O retorno à cidade onde crescemos. O muro da escola. A casa da infância. Os azulejos florais da cozinha e do banheiro. Aquela louça! O retorno da viagem. O entrar em casa. A casinha antiga da esquina que viramos quase todos os dias. Aquele grupo de WhatsApp. O restaurante que vamos com frequência e somos recebidos com afeto. Os amigos do restaurante. O porteiro que nos cumprimenta pelo nome. O dono da banca que vota no mesmo candidato que você. A turma daquela aula. Aquele consultório que continua do mesmo jeito. A reunião virtual com as mesmas pessoas nos últimos anos. Aquela estrada.
Eu li que sentir-se pertencido é querer enraizar-se e nutrir-se do que existe ali. Mas e se o que me nutria tempos atrás já não me apetece mais? Porque a vida é movimento. Ainda que em alguns momentos seja apenas o sangue correndo pelas nossas veias. E esses movimentos às vezes são naturais, e outras vezes escolhas quase forçadas, por não ser mais possível respirar naquela posição. O fato é que de repente, e às vezes nem tão de repente assim, sentimos que não pertencemos mais. Aquela cidade que eu amava demoliu todas as casinhas daquele bairro. Aquele grupo de WhatsApp começou a vender pacotes para Resorts. Hoje não gosto mais de como aquele antigo amigo sempre me tratou. Cresci em casa com quintal e galinheiro, por isso queria apartamento. Mas minhas plantas ficaram tristes. Desejei casa de novo. E minha vida profissional? Dá tempo de começar tudo de novo? Nunca é tudo novo. Então alguma coisa dá para aproveitar. E se eu fizer aquela pós no país onde sempre quis morar um tempo? Preciso voltar a estudar línguas. Os recursos naturais são finitos ou infinitos? Quero trabalhar com algo alinhado aos meus propósitos. Este lugar existe? Seja quando, como ou onde, eu vou me sentir pertencida?
Dei um Google e lá está dizendo que, de acordo com a Psicologia, pertencimento é a motivação que temos para mantermos laços positivos e recompensadores. Já a Sociologia diz que pertencimento é a crença subjetiva numa origem comum, que une indivíduos distintos, que pensam em si mesmos como membros de uma coletividade, com símbolos que expressam valores, medos e aspirações. E num desses sites motivacionais dizia que para trabalhar o pertencimento, precisamos aprender a ouvir, comunicar, celebrar.
Eu acho que pertencer é um re-conhecer, permanente. Nós mesmos, o mundo que nos cerca e a nossa posição neste mundo. Esta grande trama, essa rede, sempre em movimento.