Matéria publicada em 10 de julho de 2024.
A Imersão Arte na Terra tem a proposta de fazer um mergulho na natureza através da arte e da agrofloresta. A 4ª edição desse projeto foi realizada de 30 de maio a 2 de junho na Fazenda São Luiz, um espaço de educação ambiental, produção sustentável agroecológica, conservação e transformação da paisagem. Esse ano, além da equipe do Arte na Terra, participaram do encontro representantes das iniciativas integrantes da Rede Saúva Jataí: Rede Muda, Solo da Cana, Mutirão Agroflorestal, Laboratório Terra Orgânica, CSAA Confraria da Horta, Projeto Camponês a Camponês, Grupo Pedras de Teatro, Jornada da Mata e Regenera Rio Doce. Foram 48 participantes, entre crianças e adultos. O encontro teve programação intensa e diversificada que promoveu uma integração de linguagens artísticas, como canto, dança, teatro, performance, aulas de yoga, respiração e práticas agroecológicas.
A história da Imersão Arte na Terra passa pela relação de amizade entre a Denise Amador (Poto), agroflorestora que compõe a equipe Saúva Jataí, e Mônica Besser, artista, cantora e compositora que acompanha o trabalho do Arte na Terra e do Mutirão Agroflorestal desde o início. O relacionamento entre elas possibilitou trocas muito frutíferas entre os universos da Arte e da Agroecologia. Assim, em 2018, surgiu a ideia de criar um evento que misturasse as duas áreas, uma ampliação dos horizontes promovendo transformações e uma vivência da experiência de ser natureza, sendo realizada a 1ª Imersão Arte na Terra. Depois disso já foram realizadas 03 edições na Fazenda São Luiz, em 2019, 2022 e agora em 2024.
A 4ª edição contou especialmente com as apresentações do espetáculo ‘Solo da Cana’, com Izabel de Barros Stewart, ‘Rosa e a Semente’, com o Grupo Pedras de Teatro, palhaçaria com João Artigos (Rede Muda) e Fábio Freitas (Grupo Pedras) e show da Mônica Besser.


As atividades começaram na manhã do dia 30 de maio com uma dinâmica de apresentação dos participantes. No período da tarde os integrantes da Rede Muda conduziram uma dinâmica de jogos teatrais, cantos e danças da cultura popular, como o Boi e festas juninas. No dia 31 de maio, as atividades começaram com uma prática de yoga, seguida de um manejo agroflorestal conduzido pelo Rodrigo Junqueira e Denise Amador, que se repetiu no dia seguinte. Houve oficina de culinária para o preparo de Curau e Bolo de mandioca, com as quituteiras da fazenda, Cal e Tuca, seguida de uma prática de corpo com Izabel de Barros Stewart e de voz e respiração com Mônica Besser. À noite aconteceu o Sarau na fogueira, com apresentações livres de músicas, poesias, textos e trocas de reflexões que integraram ainda mais os participantes.
O manejo agroflorestal do dia seguinte incluiu a área da horta, com plantios. À tarde foi realizada uma oficina de filtro dos sonhos com a professora de yoga, Chandini, que trouxe a conexão dos sonhos e da espiritualidade com o trabalho manual de tecitura dos filtros. Em seguida, a Fazenda São Luiz foi aberta para o público da região no Festival Arte na Terra.


No dia 2 de maio as atividades contaram com uma trilha sensorial pela floresta da Mata ciliar da Fazenda, observação e aprendizados sobre as sementes, e o espetáculo ‘Rosa e a Semente’. Dois monitores do projeto Arte na Terra fizeram uma oficina de tinta de terra e pintura de parede com as 11 crianças presentes na Imersão.


Denise Amador destaca a importância desse intercâmbio entre as Iniciativas da Rede Saúva Jataí: “Como eu fui na Confraria da Horta, eles terem vindo conhecer o nosso trabalho, promoveu muitas trocas, porque eles estão começando um trabalho com escolas também. Talvez somente nos falando nós não chegássemos nesse lugar que chegamos in loco, com olho no olho e trocas em campo.”
O trabalho corporal realizado entrou “num campo de intimidade onde vamos quebrando o gelo e nos tornando mais íntimos. Imersões assim promovem uma colaboração fácil, todos viram amigos e parceiros”, comenta Amador.

Outras impressões sobre a Imersão
“O fluxo de integração foi muito positivo, um encontro entre pessoas com diferentes interesses e de diferentes lugares foi muito interessante. Uma possibilidade da gente aprender, se conhecer e se acolher”, reflete Helena Stewart da Rede Muda Outras Economias e do Grupo Pedras de Teatro.


“É sempre muito emocionante esse encontro, a pedagogia da floresta, os mestres Rodrigo e Potô (Denise) com todo o conhecimento que eles têm, a maneira como falam e a maneira como nos envolvemos com as atividades e espaços de implementação agroecológica na fazenda. É uma escola mesmo, então isso tudo é muito emocionante (…) Foi muito fluido e muito positivo. Foi muito legal também receber as pessoas das CSAAs, para conhecer a Fazenda São Luiz que é uma referência.”, conclui Helena.
Para Lucas Morales, do Laboratório Terra Orgânica, assim como no Encontro Presencial no Rio de Janeiro, a Imersão Arte na Terra também teve a importância do encontro pessoal, de quem tem trabalhos afins e que estão conectadas pela Rede Saúva Jataí e Rede Muda. “Esse encontro na Fazenda São Luiz teve para mim inúmeros significados. Foi muito especial porque sou da área ambiental, da educação ambiental e agroecologia. A agroecologia para mim tem um valor como algo que direciona a vida, a forma de pensar, de olhar o mundo e enxergar como eu gostaria que o mundo fosse”, conta Lucas.
Ele conta de sua paixão pela agrofloresta e do quanto ouvia falar da Fazenda São Luiz quando começou a fazer os primeiros cursos nessa área. Lucas destaca o prazer de poder estar presente, de conhecer de perto o trabalho realizado e da importância do movimento da Rede Muda de convidar outras iniciativas da Rede.

“A fazenda é um pontinho de luz no meio de um mar de cana-de-açúcar, um ponto de resistência. (…) Poder conhecer essas pessoas, estreitar laços, conhecer para além dos nossos encontros de rede e entender as lutas de cada um em seus territórios. E teve um apelo muito forte da conexão entre as iniciativas da agroecologia. (…) O encontro foi muito bom no sentido de provocar um sentimento de estarmos em rede, construindo juntos, apesar da distância, entendendo os valores e lutas similares. E a vontade de estar mais perto, de fazer mais parte da rede, de estarmos mais próximos com nossas ideias e ver florescer esses espaços de compostagem comunitária”, finaliza Lucas.